quarta-feira, 20 de agosto de 2008

a eterna necessidade de passagem de testemunho

Caderno Cultural

Ximanganine e o seu inseparável bandolim
MÚSICA - Bandolim de “Ximanganine” sem seguidor
O país é rico em exímios guitarristas, percussionistas, baixistas, bateristas, saxofonistas, flautistas, teclistas entre outros. Todavia, infelizmente já não se pode dizer o mesmo quando se fala do bandolim. Este instrumento, é até este momento o único que é executado por um único músico conhecido: Ernesto Ndzevo “Ximanganine” da banda “Os Galtons”. E Ndzevo está triste com isso. Na sua óptica, não é razoável nem compreensível que até hoje o seu bandolim ainda não tenha um único “continuador”. Estranhamente, num país cheio de valores. Particularmente a nova geração de instrumentistas.
Maputo, Quarta-Feira, 20 de Agosto de 2008:: Notícias

Ernesto Ndzevo foi entrevistado há dias pelo “Notícias”, a propósito da saída do álbum “Os Galletones Vol.1”. Na conversa ele fala do álbum que pretende homenagear os ex-colegas da sua banda perecidos, nomeadamente, Abílio Mandlaze, Aurélio Mondlane e Salomão Muchanga.
Ximanganine conta que ele “herdou” o bandolim das mão do rei Fany Pfumo. Foi com esse instrumento que Fany compôs parte do seu vasto repertório: músicas emblemáticas como "Gerogina", "Famba ha hombe", "Hodi", "Avasati vá lomu", "Vá ta famba vá ni siya" ( só para citar alguns que são verdadeiros hinos da música moçambicana).
Conta que Fany Pfumo, era exímio e mestre de bandolim e na sua qualidade de defensor da marrabenta sempre soube transmitir os seus conhecimentos a outros cantores, caso dele próprio.
O bandolim que ele toca, é propriedade da Rádio Moçambique. Pertencia a Orquestra Sinfónica da Rádio Clube de Moçambique, antes da Independência.
Hoje, Ximanganine está preocupado com a falta de um continuador deste instrumento. Para ele, não é de todo compreensível que neste momento, ele continue a ser o único a dedilhar este instrumento.
E por ironia do destino, o próprio Ximanganine com oito filhos, (quatro rapazes e restantes meninas), nenhum seguiu a arte do pai. Ou seja, nenhum toca bandolim nem qualquer outro instrumento.
A este propósito, recorda que no tentado dar aulas de bandolim na Casa da Cultura do Alto-Maé, mas o projecto redundou num fracasso. Conta que inicialmente hoje muita aderência, mas aos poucos o entusiasmo se esvaneceu.
Questionado sobre as causas, ele fala, em primeiro lugar, de um mercado que não comercializa este tipo de instrumentos musicais. “nas lojas de especialidade vende-se um pouco de tudo, desde chocalhos, bateria, guitarras, flautas, saxofones, trompetes, congas, pianos etc. Mas não se vende o bandolim, nem os seus acessórios”.
Prossegue, “a falta de instrumentos levou a que os meus alunos desistissem. Eles não podiam praticar sozinhos em casa. Para além de que o meu bandolim era o único...Eles mostravam vontade de aprender, mas infelizmente não tinham condições materiais para continuarem. E foi assim que a turma mais tarde, se reduziu a nada”.
O DISCO “OS GALLETONES”
Maputo, Quarta-Feira, 20 de Agosto de 2008:: Notícias

Com acordes de marrabenta, o disco “Os Galletones Vol.1” editado pela Vidisco, possui 10 faixas. São músicas cantadas quase na sua totalidade pelos malogrados da qual a homenagem se dedica.
São os casos de, “Vaye Kwine Vana Va Mina”, “Basse Phindela Awukatine”, “Dona de Casa”, “Psadanissana Va Vassati”, “Dibendoda”, “Baleka Axikhomu ka Gaza” e “A Nove ni seis 96”.
As restantes são cantadas por Ernesto Ndzevo, “Tshaia a viola Nkata”, “Muti Wamaguwa” e “Muziya Magikha”.
Segundo informou o entrevistado, a produção musical deste álbum contou com Pedro Chau e Abílio Mandlaze na guitarra ritmo, Américo Mavui e Pedro Mangai nos coros, Ernesto Ndzevo na guitarra solo e Pedro Chiau no baixo. Nas vozes cantou o próprio Ximanganine e o falecido Aurélio Mondlane.
A obra é totalmente uma delicia de marrabenta. Os instrumentistas participantes neste primeiro Volume, mostram todo o seu saber e profissionalismo.
Estas musicas foram gravadas nas décadas setenta a oitenta nos Estúdios da Rádio Moçambique, no formato magnético, com a máquina ora rudimentar de “quatro canais”.
Para concretizar esta idéia, Ximanganine, que também é funcionário da Rádio Moçambique, encetou negociações com aquela estação radiofónica. A negociação teve um desfecho feliz. Até porque, segundo revelou, o contracto entre estes artistas e a Rádio havia expirado há algum tempo.
Antes porém, conta ele que juntou as viuvas e alguns filhos dos homenageados, onde lhes transmitiu o espirito do projecto. As partes intervenientes mostraram interesse e colaboraram sem qualquer objeção. Chegaram ao consenso de que a mesma seria editada pela Vidisco-Moçambique. Por outro lado, conta Ximanganine, foram respeitados todos os direitos autorais sobre a obra. Ou seja, as viuvas, herdeiros e detentores de direitos autorais beneficiaram de algum valor monetário).
Albino Moisés

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