terça-feira, 1 de junho de 2010

XIDIMINGUANA

O eterno Xidiminguana
Quando um dia perguntou-se ao Xidimnguana, quando haveria de se chamar Domingos uma vez que Xidiminguana era diminutivo de Domingo e assim fazia sentido quando ainda era jovem, este, respondeu que o Baobá que dá nome ao Bairro Ximphamanine (Ximphamanine significa pequeno Baobá, tal como Xidiminguana significa pequeno Domingos), já era crescido e nem por isso o Bairro e/ou a árvore passaram a chamar-se Mphama.
Resposta melhor que esta não se podia esperar de um Xidiminguana satírico, e com um sentido de humor de se lhe tirar o chapéu. Esta resposta acaba sintetizando em parte a obra de Xidiminguana: um homem satírico e com um sentido de humor acima da média.
Diz o bom maengane, o António Marcos numa das suas músicas que “a viola ya mina ya vula vula mayo”, isto no sentido de que a sua guitarra fala e, como fala.
Esta de a guitarra falar não é estranho porque já falava a guitarra de Feliciano Ngome(ouvir a música kodwa aswibassanga), já falava a guitarra de Zeburani, o rouxinol de Tchanwani, mas que se diga, se naqueles encontrávamos uma espécie de seguidismo entre a palavra dita e a tocada, em xidiminguana, encontrámos um diálogo onde a sua Guitarra toma o lugar de um personagem e ele do outro, e o inevitável diálogo.
Quantas vezes já ouviram o Xidiminguana questionando a sua guitarra onde vivia para ouvimo-la responder “a Ba-za-ra n’componi” e, se bebeu mal coado para aquela responder que bebeu não mal coado mais sim cerevêja….é o Xidiminguana fazendo o que mais sabe fazer: rir-se do social até quando se impõe que chore.
Quando diz em “mamani nwamungoro” que “urhandza punga unga tirhe wena”, difícil torna-se conter o riso, no entanto, analisando mais a fundo, não deixamos de nos auto-questionamos a procura do significado último daquelas palavras porque perenes e, ajustam-se ao actual estilo de vida onde queremos tudo o que é bom, sem nos esforçarmos para merecer.
Podia recuperar a estória da mulher cantada por este, que dorme no mabanguene encharcada de álcool e que, quando lhe colocam a hipótese de ter tido relações sem saber e nem consentir desmente dizendo que tomou as necessárias precauções antes de dormir: a “nixi phindzelile”,(phindzela siginifica passar uma peça de vestuário pelas pernas e atá-la na cintura-Sitoe, Bento, Dicionário changana-português, p. 188) no sentido de que tinha coberto cuidadosamente os seus órgãos genitais. Nunca deixei de soltar uma terrível gargalhada sempre que me lembro de tais palavras, mesmo que esta seja uma realidade triste e que assola várias mulheres e com os HIV’s que por ai andam.
Xikhona é outra canção que nos faz pensar em como é complexa uma relação a dois, pois se o homem larga a mulher “hambe” ali bonita e/ou clara, certamente que viu qualquer coisa. E não vale a pena questionar porquê sem ter vivido a relação do qual se foge, porque a pessoa sabe do que foge.
Podia demorar-me na vastíssima temática de Xidiminguana, mas, a música que hoje me proponho a abordar e de forma brevíssima, é a música “nkatanga”.
Mesmo sem o saber, Xidiminguana é influenciado na sua música por Zeburani, influência esta, que se faz sentir nesta música, onde tal como em Zeburani, o seu eu lírico, é o feminino sofredor chorando as dores de um amor não correspondido.
Nesta música, (nkatanga) a mulher chora um choro real, e o yiuwii, yiuwiii yiuwiiiiii”, é tão profundo que não se pode ficar alheio ao mesmo, porque bater com o cinto até cortar o mamilo, o mesmo mamilo que a mulher amamenta os filhos é de todo irracional. Dai que entre choros a mulher questiona: “ a vana va wena xidiminguana, vata yanwa kwini murhandziwa”.
O que mais impressiona nesta mulher e no questionamento “onde e/ou como vou amamentar os seus filhos”, é o facto de ela renunciar da sua dor, para senti-la pelos filhos que segundo ela não terão onde e como ser amamentados. É o mesmo que dizer que me cortasses qualquer outra parte, que me batesses como quisesses me bater porque se pagaste lobolo sou tua mesmo, mas, que não o fizesses em prejuízo dos nossos filhos.
Esta, é uma das vozes em que Xidiminguana soube e bem emprestar o sofrimento da mulher da sua época, soube acima de tudo, pôr o homem a reflectir e a auto-questionar-se se vale a pena a violência contra a mulher, quando se pode dialogar. Mostrou também o lado sacrificado da mulher, onde cabem as dores de todos menos as dela. Bem-haja o Xidiminguana, este cantador/contador das estórias da minha terra.
Amosse “Modaskavalu” Macamo