segunda-feira, 24 de março de 2008

na cauda é onde está o veneno



King ya Marrabenta

Recebi com agrado a notícia de que o nome do Dilon Ndjindji foi proposto para uma sala de música da Escola Portuguesa.
É o merecido reconhecimento a um grande homem que já deu e continua dar muito para o enriquecimento da cultura moçambicana e em particular da música ligeira.
Associo-me a esta iniciativa esperando que seja este o despertar de toda uma acção para o reconhecimento dos grandes homens que de uma ou outra forma tem feito muito para o enriquecimento da cultura moçambicana, porém, o que hoje me traz aqui, é um ponto em que o velho Dilon tem insistido em rebater: falo da sua auto-elevação a categoria de Rei da Marrabenta, tendo como pressuposto a música do Fany que reconhece que em Marracuene há um Rei de Marrabenta.
Afirma este, grande homem de melodias bem afinadas, de canções bem executadas e de fino trato, que se o Fany Mpfumo ressuscitasse reconheceria que ele é o rei da Marrabenta (veja suplemento cultural do noticias de 11 de Outubro de 2006).
Dilon faz jus a sua afirmação apoiando-se na música do Fany, King ya Marrabenta (Marracuene kuni king ia Marrabenta), no sentido de que o Fany teria reconhecido em vida na citada música que em Marracuene há um Rei de Marrabenta. Mas tal, não pode proceder por completo senão vejamos:
De facto o Fany canta que em Marracuene há um Rei de Marrabenta e não pode haver dúvidas que a referência é mesmo o Dilon. Só que, incorreríamos em erro se pegássemos apenas um verso desta música para explicar o conjunto.
Na verdade, se formos a analisar a música no seu conjunto e em alguns versos mais adiante, encontraremos uma parte, em que o Fany diz que Kambe não pode i lunga La kumine.(Não pode “aguentar” comigo).
O ponto de partida do Fany é de humildade, de reconhecimento e de enaltecimento (no disco Nyoxanine o Guru Malangatana faz uma abordagem interessante sobre este ponto), de um seu par que trata as melodias com mestria que pode até inclusive ascender a categoria de Rei e pode-se até chamá-lo de Rei, só que, ele, (Não pode a lunga laku mine)
“não pode aguentar comigo”, logo não pode ser Rei, pois será Rei quem o supera e neste caso o Fany, porque as melodias que este faz, vejam só, são inspiração divina e humano algum as pode contestar, golpe de mestre.(Tissimu ninga natu missaveni ninhikiwi hi jehova)
Na verdade, o Fany agiu como um Perfeito cavalheiro, que não quis deitar por baixo um homem que também reconhecia-lhe qualidades de um bom músico, um homem que na verdade podia muito bem ombrear com ele, mas que se diga e essa é a mensagem que Fany quis deixar transparecer, ele era o melhor.
Isto até seria interpretado de outra forma; no sentido de que se Dilon, já nessa altura se intitulava Rei e fundador da Marrabenta, o Fany como não queria um confronto directo aceitava que assim fosse, só que, lançou a provocação no sentido de que ele era melhor que o Rei e fundador (Dilon). Dai lançar-se-ia a pergunta quem (é) era realmente o Rei?
Da leitura da música está claro que o Fany dizia claramente que ele era o Rei, embora existisse alguém que se pudesse considerar como tal (Dilon) e indo a uma análise pessoal já no que se refere a música dos dois, o Fany incontestavelmente é para mim, o Rei da Marrabenta.
Era extraordinária a maneira como este executava as suas músicas, as suas melódicas canções, a colocação da voz, o compasso sempre a inspirar uma dança, a subjectividade que muitas vezes continha a sua mensagem e isto aliado ao seu toque permanente de humor, era um homem formidável.
O legado que este deixa é exemplo a seguir por muitos que o emitam, recriam, e eternizam a sua música e honestamente falando abaixo da linha de execução do Fany, o homem que me surge a seguir é o Mahecuane, grande homem mas sobre este falarei em momento oportuno.
Não pode assim, ser a música King ya Marrabenta, o justificativo de que o Fany teria reconhecido que o Dilon era o Rei, quis sim o Fany dizer justamente o contrário, ou então na eventualidade de existir um Rei ele, era melhor que esse Rei.
Na verdade Fany, tal como o escorpião, foi na parte final do discurso que ele pôs toda a “malícia”, no sentido de que o Rei não podia com ele, pois as suas melodias eram inspiradas por Deus.
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