tag:blogger.com,1999:blog-83234066363779547752024-03-13T16:21:42.236-07:00Modaskavaluum blog de música moçambicana vista num outro ángulo.
Verdade que os leitores fazem os significados, mas que se diga tambem que os significados enquanto categorias culturalmente constituídos acabam fazendo os leitores.
procuro aqui, não uma visão comum de interpretação, mas sim a adversidade, algo que não produza nada de especifico ou único, mas sim o publico e convencional.amosse macamohttp://www.blogger.com/profile/05043074663401470101noreply@blogger.comBlogger63125tag:blogger.com,1999:blog-8323406636377954775.post-64457921482837941732011-11-30T00:30:00.000-08:002011-11-30T00:32:11.364-08:00Ferido regresso<div align="justify">Ferido regresso <br /><br />Eu era feliz aqui, tinha neste lugar o meu paraiso, este lugar era para mim o derradeiro local de exercício da rebeldia literária, aqui escrevia sem regras de forma sentida, de dentro para for a, como que ouvindo sons novos e densos.<br />Aqui Zeburani ganhava vida e cantava bava anga psalanga, Mahecuani cantava suas nóias e pemanencia vivo, Fany arrebentava o bandolim aqui , aqui no Modaskavalu, Pedro Langa prenunciava meu regresso: um ferido regresso ao meu próprio blog, um regresso marcado pela ausência e claro, para haver regresso deve haver partida, mas facto é que nunca cheguei a partir, nunca senti e de forma sentida a separacação entre mim e a música moçambicana.<br />Gosto da ideia de ouvir Al Jarreau de dia e no final da noite restar um espaço por preencher e chamar por isso Zeburani, Alexandre Langa, Hortêncio Langa, Aurélio Khowano, gosto deste aparente conflito que existe em mim, gosto da energia que vibra em mim quando piso Ntxamwane, terra de Zeburani e Alberto Mhula com a que carrego quando no final do dia o Jazz, essa neura me invade a privacidade.<br />Vitaniwa, vitaniwa, mi ta vona mamba leyi ingakona lane, ya malepfu-Pedro Langa, Mamana Maria unga rile, nwana wa wena afikile lamuntine, -Salimo muhamad, nyoxanini, nyoxanini hi nkerhu lani, mi nyoxela lweyi wanuna wa mpandla, a buyile niti simu taku xonga-Fany Mpfumo...estas canções aqui evocadas são todas de celebração de volta, de chegada de onde nunca se partiu, de alegria, pena que o meu regresso equipare-se ao de Pedro: ferido regresso.<br />Vim aqui me consolar e me sentir mais humano, vim curar minhas feridas, vim ao local onde me sinto puro, esta, é a minha zona liberta da humanidade;concerteza.<br />Este, é o meu ferido regresso, in totto, de como o canta Pedro Langa, um dos meus poetas da cabeceira. </div>amosse macamohttp://www.blogger.com/profile/05043074663401470101noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-8323406636377954775.post-85164873674262620402010-08-17T03:02:00.000-07:002010-08-17T03:07:46.420-07:00GHORWANE O MITO<div align="justify">Ghorwane, o mito de uma geração<br />Quando assinei uma pequena matéria de exaltação deste grupo com este título no pequeno fórum de discussão que partilho com amigos na internet, o meu amigo Nhecuta Phambany khossa, fez questão de me lembrar que o meu título era inspirado no filme dos “The doors.”<br />Respondi-o que não, que este título era e somente inspirado em Ghorwane, um mito que me parece que se há-de tornar de gerações. É que Ghorwane é símbolo de nós mesmos, é nosso irreal real, nossa utopia, nosso enigma tangível. As músicas de Ghorwane esculpem cada instante das nossas vidas, são de uma estrutura poética igual a nós, de um esquema metafórico profundamente moçambicano, uma espécie de versos de sugestão de saudade de nós próprios quando ainda éramos puros. </div><div align="justify"><br />Uma música que propõe-se a focar toda a gente dentro de si, uma sublimação dos nossos valores, o melhor equilíbrio conseguido de um povo que luta incessantemente para se afirmar como ele é: moçambicanto. Sim, nós somos feitos de canto, quem de nós não é cantor e até da sua própria desgraça? Quem? </div><div align="justify"><br />Ghorwane é Moçambique em letras maiúsculas, nosso espírito alicerçado pelos seus poetas, aliás, tanto o Zeca Alage, o Pedro Langa, e Chitsondzo, são um dos maiores letristas que o pais possui.<br />Zeca Alage tinha aquela veia rebelde e extraordinária coragem de dizer o que sentia, tinha todo o seu lastro de inconformismo puro, inconformismo que se fazia sentir nas suas músicas; quem não se lembra de Massotchua, onde as armas que nos dizimavam eram mais caras que os sacos de arroz, onde as guerras infindáveis teimavam em acontecer mesmo que sem propósito (), mesmas guerras que e recuando no passado dizimaram nossas gentes no Gwaza Muthine (estava o Zeca a colocar Gwaza Muthine como prenúncio? Ou então o nosso sacrifício por aqueles que tombaram a defenderem o pais?) “iwu siwana linga nguenela matiku yava ntima, hitoti nyimpi taku kala ntlamuxelo …..tinhimpi taku kala tinga heli nito yini ….tiheti ni va tukulu va minooo vatukulu ningava siya gwaza muthini….). </div><div align="justify"><br />Mesmas dores que sente em mavabyi, (doenças), doenças que dizimam homens, que o faz perder esperança e o torna céptico em relação ao futuro, isto porque quando olha para os seus filhos vê que a tendência é de piorar(loku ni txuwuka nghamu ya mina mbai mbai swo tlula mpimo), e o pior cenário diz ele, é aquele que está por vir (kambe leyi ingatata bassopani madjaha). </div><div align="justify"><br />Dói-me o corpo, tenho o estômago inchado, e onde está o médico, afinal, onde está o médico? (muzhimba wa mina wa vava dokodela aye kwino aye kwini dokodeloo?) Ao que se segue o desespero em fracção apocalíptica: nitofa ni siya maxaka ya mina( vou morrer e deixar meu familiares?). </div><div align="justify"><br />O sujeito poético em mavabyi, percebe-se que viveu tempo suficiente para ver a guerra colonial (yama putukesi) e a civil(ya dhoropa), e daí que adverte: a que vem será pior (a biológica, mavabyi). Não estarão aqui inclusas as HIV/SIDA e companhia? </div><div align="justify"><br />Quem não se lembra do poeta do sublime; o Pedro Langa? Pedro era fiel aos problemas do pais, e mamba ya malepfu talvez seja o relato mais fiel dessa fidelidade, porque o chamativo que faz para que se venha contemplar a “mamba de barbas”(vitaniwa nwina vitaniwa mita vona mamba leyi ingakona lani ya malepfu bava), não é mais que um pretexto para chamar os dezasseis anos de guerra civil, é ele a dizer vinde cá meu povo, aproxime-se para ver esta cobra que ficou dezasseis anos a encubar seus ovos, mas que hoje está entre nós. É preciso lembrar que Pedro escreve esta música (1992) numa altura em que pairava grande incerteza da durabilidade da paz, mas, como que profetizando o futuro dizia (aku rhula kutave kona, lita yandza tiko leli), haverá paz, estabilidade e desenvolvimento neste pais. Quer dizer, num cenário de precariedade da paz e de incerteza sobre o futuro Pedro soube buscar a esperança, soube chamar o povo para uma mensagem positiva soube exorcisar em mamba ya malepfu os fantasmas da guerra. </div><div align="justify"><br />Guerra que também destruiu em “Ferido Regresso” onde até a árvore mais bela perdeu a folhagem, demonstração clara de que no pais havia pranto, onde Pedro depois de enfrentar um longo e tortuoso caminho finalmente chegou a casa mas tudo estava queimado. (Nambi n’sinha lo wo sasekaa Ni ma tluka Sê mawile Waku komba ku Lani kaya kuni xirilooo, Ndzi fane ni ngwana ya mulungusi yinga luma tinwni mai, Ndzi kwele maganga ndzi yelha munkova ndzita kuma ku lani kya ku pswiléé), mas reparem, mesmo com estes revezes que sofre, mesmo que o seu regresse seja ferido pela guerra que obrigou seus familiares a deslocarem-se, a partir, mesmo que o passado tenha sido desastroso, Pedro pinta um quadro de esperança no sentido de que não podemos nos amarrar a dor, não devemos olhar para ontem senão para buscar forças para enfrentar o futuro.<br /></div><div align="justify">Na verdade Pedro faz uma ponte entre o passado e o presente no sentido de que por mais duro e sofrido que tenha sido o passado é preciso acreditar no amanhã. Daí que pede que olhem para o seu regresso como prova de que o amanhã pode florir e o “recebam-me meus familiares: (Ndzi yamukeleni va ndueni Malembe yaku tsaka ma twasilé Ndzi yamukeleni maxakó Malembe ya lirhndzo ma fikiléé), é uma mensagem de fé de um homem capaz de encontrar consolo na dor. Pena que o Pedro não viveu o suficiente para ver em parte o que ele predizia, pena que o maldito projéctil não o tenha dado tempo de olhar para seus filhos antes de partir como pedia em uyo mussiya kwini (ni vuyisseleni vana va mina ningatafa ningava vonanga), para os legar ensinamentos. </div><div align="justify"><br />Chitsondzo é o poeta de pregação do social nu; das tragédias como Katina P, do Xitxuketi onde uma roda-viva de interferência sexual nos expõe e fragiliza, do akuhanha onde o peso da vida nos faz renunciar de poderes até irrenunciáveis como o do médico que foge do paciente, dos polícias que fogem dos criminosos, um Chitsondzo que apela para um conformar-se como quando diz que loko uva kuma va tirha, tirha nawenawu, mesmo quando se sabe que de conformista nada tem. </div><div align="justify"><br />Em Terehumba Chitsondzo brinca com o social, contando a história de uma menina que usou a caneta e o caderno apenas para contabilizar os homens, menina vovô tal qual definida nas crónicas de João Craveirinha, porque quando seus seios se equiparam a (madinwa sinheni), a frutas numa árvore, já temos a ideia de como estas se apresentam. Esta menina que quando engravida só pensa em abortar e porque o faz em segredo quando a dor começa finge segurar a cabeça, contorcendo a barriga (porque é aqui onde realmente dói mas que não pode segurar porque pode denunciar suas manhas) [a suluvanya hi kwirhi na a kombeta ka nlhoko mamani a ku kuvava lani, ho terehumba, ku vava lani mamani] é o preço que paga quem mal brinca com rapazes (hiku tlanga ni vafavana). </div><div align="justify"><br />A morte levou os dois primeiros poetas; o Zeca Alage e Pedro Langa, mas, os mesmos vivem e na perspectiva daquilo que eles eram, o álbum vana va ndota é testemunho de que aqueles não morreram e David Macuácua, tem o condão de saber traduzir em letra e espírito as vozes destes poetas que, quanto mais o tempo passa, vão alicerçando os pilares que criaram no nosso comum existir: o gosto e a preferência por eles como uma banda que marcou uma geração e que dá agora sinais de marcar outras gerações, porque quem olha para o público que hoje vai ao Ghorwane, para os jovens que se interessam por este grupo, saberá dizer que não são só os jovens da década 80, mas também os de hoje. </div><div align="justify"><br />Ghorwane é o grupo onde reside a nossa moçambicanidade, é quem carrega o âmbar da nossa cultura, um grupo que um dia saberei cantar com as pérolas palavras que merece.<br />Viva Ghorwane, verdadeiro mito de uma geração. </div>amosse macamohttp://www.blogger.com/profile/05043074663401470101noreply@blogger.com28tag:blogger.com,1999:blog-8323406636377954775.post-75176670877797753442010-06-01T02:40:00.000-07:002010-06-01T03:12:56.379-07:00XIDIMINGUANA<div align="justify">O eterno Xidiminguana<br />Quando um dia perguntou-se ao Xidimnguana, quando haveria de se chamar Domingos uma vez que Xidiminguana era diminutivo de Domingo e assim fazia sentido quando ainda era jovem, este, respondeu que o Baobá que dá nome ao Bairro Ximphamanine (Ximphamanine significa pequeno Baobá, tal como Xidiminguana significa pequeno Domingos), já era crescido e nem por isso o Bairro e/ou a árvore passaram a chamar-se Mphama.<br /></div><div align="justify">Resposta melhor que esta não se podia esperar de um Xidiminguana satírico, e com um sentido de humor de se lhe tirar o chapéu. Esta resposta acaba sintetizando em parte a obra de Xidiminguana: um homem satírico e com um sentido de humor acima da média.<br />Diz o bom maengane, o António Marcos numa das suas músicas que “a viola ya mina ya vula vula mayo”, isto no sentido de que a sua guitarra fala e, como fala.<br /></div><div align="justify">Esta de a guitarra falar não é estranho porque já falava a guitarra de Feliciano Ngome(ouvir a música kodwa aswibassanga), já falava a guitarra de Zeburani, o rouxinol de Tchanwani, mas que se diga, se naqueles encontrávamos uma espécie de seguidismo entre a palavra dita e a tocada, em xidiminguana, encontrámos um diálogo onde a sua Guitarra toma o lugar de um personagem e ele do outro, e o inevitável diálogo.<br /></div><div align="justify">Quantas vezes já ouviram o Xidiminguana questionando a sua guitarra onde vivia para ouvimo-la responder “a Ba-za-ra n’componi” e, se bebeu mal coado para aquela responder que bebeu não mal coado mais sim cerevêja….é o Xidiminguana fazendo o que mais sabe fazer: rir-se do social até quando se impõe que chore.<br /></div><div align="justify">Quando diz em “mamani nwamungoro” que “urhandza punga unga tirhe wena”, difícil torna-se conter o riso, no entanto, analisando mais a fundo, não deixamos de nos auto-questionamos a procura do significado último daquelas palavras porque perenes e, ajustam-se ao actual estilo de vida onde queremos tudo o que é bom, sem nos esforçarmos para merecer.<br /></div><div align="justify">Podia recuperar a estória da mulher cantada por este, que dorme no mabanguene encharcada de álcool e que, quando lhe colocam a hipótese de ter tido relações sem saber e nem consentir desmente dizendo que tomou as necessárias precauções antes de dormir: a “nixi phindzelile”,(phindzela siginifica passar uma peça de vestuário pelas pernas e atá-la na cintura-Sitoe, Bento, Dicionário changana-português, p. 188) no sentido de que tinha coberto cuidadosamente os seus órgãos genitais. Nunca deixei de soltar uma terrível gargalhada sempre que me lembro de tais palavras, mesmo que esta seja uma realidade triste e que assola várias mulheres e com os HIV’s que por ai andam.<br /></div><div align="justify">Xikhona é outra canção que nos faz pensar em como é complexa uma relação a dois, pois se o homem larga a mulher “hambe” ali bonita e/ou clara, certamente que viu qualquer coisa. E não vale a pena questionar porquê sem ter vivido a relação do qual se foge, porque a pessoa sabe do que foge.<br /></div><div align="justify">Podia demorar-me na vastíssima temática de Xidiminguana, mas, a música que hoje me proponho a abordar e de forma brevíssima, é a música “nkatanga”.<br /></div><div align="justify">Mesmo sem o saber, Xidiminguana é influenciado na sua música por Zeburani, influência esta, que se faz sentir nesta música, onde tal como em Zeburani, o seu eu lírico, é o feminino sofredor chorando as dores de um amor não correspondido.<br /></div><div align="justify">Nesta música, (nkatanga) a mulher chora um choro real, e o yiuwii, yiuwiii yiuwiiiiii”, é tão profundo que não se pode ficar alheio ao mesmo, porque bater com o cinto até cortar o mamilo, o mesmo mamilo que a mulher amamenta os filhos é de todo irracional. Dai que entre choros a mulher questiona: “ a vana va wena xidiminguana, vata yanwa kwini murhandziwa”.<br /></div><div align="justify">O que mais impressiona nesta mulher e no questionamento “onde e/ou como vou amamentar os seus filhos”, é o facto de ela renunciar da sua dor, para senti-la pelos filhos que segundo ela não terão onde e como ser amamentados. É o mesmo que dizer que me cortasses qualquer outra parte, que me batesses como quisesses me bater porque se pagaste lobolo sou tua mesmo, mas, que não o fizesses em prejuízo dos nossos filhos.<br /></div><div align="justify">Esta, é uma das vozes em que Xidiminguana soube e bem emprestar o sofrimento da mulher da sua época, soube acima de tudo, pôr o homem a reflectir e a auto-questionar-se se vale a pena a violência contra a mulher, quando se pode dialogar. Mostrou também o lado sacrificado da mulher, onde cabem as dores de todos menos as dela. Bem-haja o Xidiminguana, este cantador/contador das estórias da minha terra.<br />Amosse “Modaskavalu” Macamo </div>amosse macamohttp://www.blogger.com/profile/05043074663401470101noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-8323406636377954775.post-16475851443340452462010-04-22T12:24:00.000-07:002010-04-22T12:26:00.979-07:00Tony Django<p class="MsoNormal" align="center" style="text-align:center"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="font-size:14.0pt;font-family:"Bodoni MT"; mso-ansi-language:PT">Tony Django: uma voz que transbordava<o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt;font-family:"Bodoni MT";mso-ansi-language:PT">A voz do Tony era demais para ele só. Verdade; a impressão que a sua voz nos dava era a de não caber em si. Facto, é que a mesma nos saciava e nos criava a vontade de a ouvir e mais. Em bom tom diria que estávamos viciados, dependentes, que nos curvávamos sem medo e vergonha de parecermos súbditos daquela voz meio femenina, meio masculina, meio frágil mas ao mesmo tempo forte, quente, vibrante que sabia se exceder mas sempre dentro do limite do belo. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt;font-family:"Bodoni MT";mso-ansi-language:PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt;font-family:"Bodoni MT";mso-ansi-language:PT">Uma voz que não cabia naquele corpinho franzino, que se exprimia de forma tão singular, voz de uma ânsia do absoluto, voz de insatisfação e insansiabilidade, de uma voluptuosidade tão gritada, voz de aromas frescos de Gondola. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt;font-family:"Bodoni MT";mso-ansi-language:PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt;font-family:"Bodoni MT";mso-ansi-language:PT">Não se procurava arte naquela voz; encontrava-se. E encontrava-se de forma tão cristalizada e lapidada porque manejada de forma a fazê-la render o máximo de si, uma voz tão expressivamente nossa, moçambicana. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt;font-family:"Bodoni MT";mso-ansi-language:PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt;font-family:"Bodoni MT";mso-ansi-language:PT">Se Ghorwane tinha o Zeca Alage o K10 tinha o Tony, se fugindo um pouco e para um dos grupos pelo qual a banda e particularmente o Tony se inspiravam,(Stimela), se este grupo tinha o Chikhapa, o K10 tinha também o Tony. Se em N`tchanwane tinha Zeburane em Maputo tinha o Tony. Engraçado porque a última vez que o vi e ouvi foi no festival de Marrabenta e este fazia uma parelha com Bernardo Domingos onde, com mestria esboçaram o Zeburani este Rei das terras de Chibuto (terra hoje anexadas ao distrito de Mandlhakazi para a tristeza das gentes do Régulo Muzamane) que sei influenciava grandemente o Tony. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt;font-family:"Bodoni MT";mso-ansi-language:PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt;font-family:"Bodoni MT";mso-ansi-language:PT">Voz de talento métrico que trascendia seu dono. Um dos duetos que sempre imaginei e numa canção com asas de saber voar seria o de Wazimbo e Tony, mas a morte não me avisou porque teria insistido com os dois para que o fizessem rápido antes desta cobardemente surpreender. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt;font-family:"Bodoni MT";mso-ansi-language:PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt;font-family:"Bodoni MT";mso-ansi-language:PT">Neste momento o silêncio é a única voz que ousço do Tony, aliás, silêncio tão perigosamente traçado na magia de grande arte que é a vida; que é a morte!<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt;font-family:"Bodoni MT";mso-ansi-language:PT">Engane-se quem pense que estas palavras constituem um elogio fúnebre. Engane-se quem pense que são palavras para engrandecer a quem nunca foi grande, que são palavras para criar um mito. Pois o digo que não o são. Aliás, estas modestas palavras, não saberão tomar a forma e grandeza que foi o verbo cantar enunciado na doce voz do Tony.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt;font-family:"Bodoni MT";mso-ansi-language:PT"><span style="mso-spacerun:yes"> </span><o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt;font-family:"Bodoni MT";mso-ansi-language:PT">Este é o meu livro de mágoas que acrescenta mais um nome e pior; um nome precocemente ido como o foi de Eugénio Mucavele, de Jeremias Ngwenya, de Nanando, de Chonil, de Zaida e Carlos.....<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt;font-family:"Bodoni MT";mso-ansi-language:PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt;font-family:"Bodoni MT";mso-ansi-language:PT">Quem hoje vai cantar “Hita sala hi mu khumbula marhumbine”, fazendo referências ao Zeburane, Baza, Mandlaze, e outros? Quem se vai lembrar de cantar estes mortos se quem os cantava e com mestria foi-se? <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt;font-family:"Bodoni MT";mso-ansi-language:PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt;font-family:"Bodoni MT";mso-ansi-language:PT">Eu vou cantar e para si Tony neste meu livro de mágoas que “nita sala niku khumbula marhumbine”, vou sempre te recordar e melhor, cantar-te porque a homens como você não se esquece. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt;font-family:"Bodoni MT";mso-ansi-language:PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt;font-family:"Bodoni MT";mso-ansi-language:PT">Deixem –me chamar uma música que o Alexandre Langa fez para o Fany um dia onde dizia: <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt;font-family:"Bodoni MT";mso-ansi-language:PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt;font-family:"Bodoni MT";mso-ansi-language:PT">“yetlela hiku rhula Fany Mpfumo a nsinya lowu ungawu byala uta kula hiku rhula <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt;font-family:"Bodoni MT";mso-ansi-language:PT">nikhoma n’hloko ni hlakata ni ziviza, ni khonguela xiviri xawena ninguehe xivoni”, como quem diz: descanse em paz Fany, a árvore que plantaste vai florescer em paz. Reflicto, abano a cabeça, bato-me, rezo, facto é que jamais voltarei a ver-te. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt;font-family:"Bodoni MT";mso-ansi-language:PT">Canto Alexandre neste momento e tendo na mente a transbordante voz do Tony Django, esta voz de doces pétalas de um vale de lágrimas que se transformou o meu coração. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt;font-family:"Bodoni MT";mso-ansi-language:PT">“Kassi a va sati vanga tala ixi hlaula mani, xi hlaula mani, he xi hlaula mani...” sei que por aí, no último céu outros olhos assistem o seu concerto de estréia. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt;font-family:"Bodoni MT";mso-ansi-language:PT">Amosse “Modaskavalu” Macamo <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt;font-family:"Bodoni MT";mso-ansi-language:PT"><o:p> </o:p></span></p>amosse macamohttp://www.blogger.com/profile/05043074663401470101noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8323406636377954775.post-15884418134187462852010-03-24T02:48:00.000-07:002010-03-24T02:50:44.780-07:00Modaskavalu e eu na Roda da Vida<p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:Verdana"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="font-family:Verdana;mso-ansi-language:PT">Eu e o Modaskavalu somos hoje aniversariantes <o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: Verdana;mso-ansi-language:PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: Verdana;mso-ansi-language:PT">Sem precisar de dizer datas ou lugares por onde andei, devo dizer que já andei alguma coisa: 33 anos não é pouca Estrada não. Uma coisa que posso partilhar convosco nesta caminhada é o gosto pelo bom tempero de música e músicos da minha terra. De facto, diante da música moçambicana e “daquela música”, sinto o peito a bater com frenesim, com a sombra amorosa da paz, com vontade de viver, mais 33 e mais 33 anos que me bastem. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: Verdana;mso-ansi-language:PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: Verdana;mso-ansi-language:PT">A música é a minha bandeira erguida na mais alta haste deste navio que se esfuma a cada dia com pandzas e queijando, é a minha liberdade, a minha independência, meu caminhar firme, mesmo que em chão de espinhos e micaias e o Modaskavalu, o veículo que transporta e deixa transbordar todos os meus sonhos, toda a epopeia, é a minha redenção social contra a babel de sonoridades que ofuscam a estrela dos verdadeiros fazedores da música moçambicana. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: Verdana;mso-ansi-language:PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: Verdana;mso-ansi-language:PT">Hoje, saúdo a todos vocês meus bons amigos, que, entre tantos afazeres da vida fazem-me a caridade e não sei se justiça de passarem por aqui para juntos cantarmos os nossos heróis, para juntos declamarmos as nossas poesias de guerra, para juntos acendermos este estranho lume de poder que nos aquece e nos faz caminhar mesmo quando a caminhada é dura. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: Verdana;mso-ansi-language:PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: Verdana;mso-ansi-language:PT">Não podia terminar, sem saudar a RM, que soube na sua Gala, homenagear um homem que com firmeza e garra segurou as pontas da nossa música com inegualável mestria: Alberto “Manjacaziano” Mhula, a quem o prémio carreira vem alisar o meu e vossos corações ávidos de reconhecimento aos verdadeiros protagonistas <span style="mso-spacerun:yes"> </span>da nossa cultura. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: Verdana;mso-ansi-language:PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: Verdana;mso-ansi-language:PT">Sem que ninguém o diga, autorizo-me a dizer: Viva Amosse Macamo e Viva o Modaskavalu, viva também vocês e os nossos lídimos tocadores. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: Verdana;mso-ansi-language:PT">Viva a Cultura, símbolo e mais alta bandeira de uma nação. <o:p></o:p></span></p>amosse macamohttp://www.blogger.com/profile/05043074663401470101noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-8323406636377954775.post-43759597246670572922010-03-03T05:47:00.000-08:002010-03-03T05:58:54.119-08:00MALE YA PHEPHA<p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b></b></p><b><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Garamond;font-size:13.0pt;">Male ya phepha <o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><o:p> </o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Garamond;font-size:13.0pt;">A male ya phepha, meticale ayina khombo<o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;font-family:Garamond;font-size:13.0pt;">Vakone la vadlaka va xuza vatlela va lalela <o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;font-family:Garamond;font-size:13.0pt;">Kuvi mine na wene n’kata ho sika hi nd’lala <o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><o:p> </o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><o:p> </o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;font-family:Garamond;font-size:13.0pt;">Hine hi kone hi hanha hiswi tsakatu hi dhuama tindende nkata <o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;font-family:Garamond;font-size:13.0pt;">Vone vadla mpunha mpunha<o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><o:p> </o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;font-family:Garamond;font-size:13.0pt;">Munwani ungamu vona a kuluka kuluka kuluka a phinheta, <o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;font-family:Garamond;font-size:13.0pt;">Uku utwa ani timale kuvi i mizi wa siwana <o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;font-family:Garamond;font-size:13.0pt;">Wamuvona kulala nhana awumu voni ku lala nhana a minnta yinga tchai<o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><o:p> </o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;font-family:Garamond;font-size:13.0pt;">Nili nwananga vuya utani swekela<span style="mso-spacerun:yes"> </span>xi dana nkaka kuvi xa bava tiyisela utanwa mati –Eugênio Mucavele<o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><o:p> </o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;">Não se sabe porquê mas muitos acreditam que o dinheiro não tem azar. Para estes, basta que o seja, independentemente da proveniência e do meio pelo qual se obteve. <o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"> </span></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;">O meu velho pai Macamo tem a mania de dizer que “dinheiro não é tudo meu filho” e eu, respondo que “nunca o experimantaste para saber se o é ou não”. <o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"> </span></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;">Meu pai responde a esta minha deixa sempre com um sorriso. Nunca tive interesse em vasculhar o que esconde e se, esconde alguma coisa aquele sorriso, verdade é que acredito que dinheiro opera milagres. <o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"> </span></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;">Os que tudo possuem acreditam que os outros (os que nada tem) devem acreditar que dinheiro só traz infelicidade. Meu Professor de economia diria: “Barreiras a entrada de novos concorrentes”, porque fazer crer que o dinheiro só traz infelicidade, equivale a teoria de que a religião é o ópio do povo e esta, já escangalhamos. <o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"> </span></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;">Seja como for, o dinheiro, “Meticali ayina Khombo”, não tem azar e desbloquea tudo e/ou quase tudo. <o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;">E Eugénio Mucavele sabia disto e sabia-o tanto que criou este docce milagre de canção: “Male ya Phepha” (Dinheiro (em notas) de Papel). <o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;">Mucavele agigantou a criança faminta que somos e chorou com esta música; chorou justamente porque sabia que nem todos estavam condenados à sua sorte, pois, havia os que comiam a fartura e até com refeições extras quando ele e a esposa minguavam de fome. <o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"> </span></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;">E enquanto minguavam de fome e viviam de verduras sem condimentos, havia sim quem tinha direito a um regabofe e agrava este facto, porque quando a brisa soprava,(basta olhar para a vizinhança perigosa das casas de chapa e caniço da zona da escola Portuguesa, com as mansões que ali abundam), vem-lhes o cheiro das iguarias e com ele a cíclica revolta dos oprimidos sociais. <o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"> </span></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;">Porque lhe dói isto, chega a fazer troça do Magricela e diz” não se deixe enganar por ele ser um magrelas, porque come que se farta. E graceja, no sentido de que, podes ver quem engorde e sem parar e pensar que é o senhor dos dinheiros, quando é gordura de probreza; é o jogo dos contrários. <o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"> </span></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;">O mais importante nisto, é que esta fome não o separa da sua amada, pelo contrário, cimenta neles mais amor, de forma que desafia a mulher a cozinhar qualquer coisas como cacana que se sabe amarga, mas pede a mulher e naquele paz sofrida que vivem, que seja forte e beba água para atenuar a amargura. <o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"> </span></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;">Está pois claro que, ele equipara a amargura do alimento a da vida dura a que está condenado e sei que lhe rói a falta de dinheiro porque se o tivesse e lubrificante que é, do problema dos manjares eles não teriam. <o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"> </span></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;">O apelo a comida, não é no sentido de que saco vazio não fica de pé, mas sim, um subtil paralelismo que este cria, entre os que tem (de comer) e os que nada tem (passam fome), onde a comida ganha o corpus de todos os bens materiais e a falta dela, a pobreza que sufoca os demais. <o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"> </span></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;">Eugénio sabia nas suas letras ascender, sabia definir e escolher o tema para o canto, sabia criar sucessivas palavras poéticas que faziam o perfeito canto das nossas dores e alegrias, sabia se reencontrar na haste mais alta dos problemas sociais. <o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"> </span></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;">E foi-se precocemente, deixando suas músicas que sabem pouco sempre que se escutam, porque sublimes. E foi-se pobre, empobrecido e sem o dinheiro de papel!<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;">E hoje, sempre que o escuto, sei que faltou o dinheiro de papel nos momentos decisivos da sua vida, porque doutra forma, ainda estaria vivo e a nos deliciar com o gracejo que eram suas cançÕes. <o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;">Como faz falta Male ya phepha</span></span><span lang="PT" style="mso-ansi-language:PT;font-family:Garamond;font-size:13.0pt;">! <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language:PT;font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language:PT;font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language:PT;font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language:PT;font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language:PT;font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language:PT;font-family:Garamond;font-size:13.0pt;"><span style="mso-spacerun:yes"> </span><o:p></o:p></span></p></b><p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="Bodoni MT";mso-ansi-language:PTfont-family:";"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="Bodoni MT";mso-ansi-language:PTfont-family:";"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="Bodoni MT";mso-ansi-language:PTfont-family:";"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="Bodoni MT";mso-ansi-language:PTfont-family:";"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="Bodoni MT";mso-ansi-language:PTfont-family:";"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="Bodoni MT";mso-ansi-language:PTfont-family:";"><span style="mso-spacerun:yes"> </span><o:p></o:p></span></p>amosse macamohttp://www.blogger.com/profile/05043074663401470101noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-8323406636377954775.post-74241916032359650192010-02-26T03:32:00.000-08:002010-02-26T03:34:51.183-08:00HALAKAVUMA<p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="color:black; mso-ansi-language:PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="color:black;mso-ansi-language:PT">Dizeres dos nossos tocadores <o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="color:black; mso-ansi-language:PT">Ntonganhane Wa ka Nkowane (Aurélio Kuwano)</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="mso-ansi-language:PT">Halakavuma <o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="color:black;mso-ansi-language:PT">hi Elisa N’tanhani hoya bikela le kaya nwana mamani <o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="color:black;mso-ansi-language:PT">hi Elisa N’tanhani hoya bikela le kaya nwana mamani<o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="color:black;mso-ansi-language:PT">ho dara mahala nile ndzaku awu nako <o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="color:black;mso-ansi-language:PT">a phambeni ni ndzaku swo fana nwana lwiya <o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="color:black;mso-ansi-language:PT">nimi nengue a nga hlambi<o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="color:black;mso-ansi-language:PT">nimi nwala anga tsemi <o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="color:black;mso-ansi-language:PT">apandza nima volwe hi minwala <o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="color:black;mso-ansi-language:PT">ulanguta a ma sema hingui i Ngwenya a ma tsapa hingui hi bandzala (gafanhoto)<o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="color:black;mso-ansi-language:PT">Halakavuma Halakavuma Halakavuma Halakavuma Halakavuma<o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="color:black;mso-ansi-language:PT"><o:p> </o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="color:black;mso-ansi-language:PT">yi welile masinwini ka M’bulu, hi welile massinwini ka M’bulu leyi Halakavumaaaa <o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="color:black;mso-ansi-language:PT">yi welile massinwini ka M’bulu, yi welile Massinwine ka Macie Nwananga <o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="color:black;mso-ansi-language:PT">mi ta byela Mandjonjo, mita byela Mandjondjo, Mandjondjo i Nduna ya mbulu<o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="color:black;mso-ansi-language:PT">ulanguta massemani ingui i bandzala va handzula mavola hi manwala vali i Halakavuma<o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="color:black;mso-ansi-language:PT"><o:p> </o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="color:black;mso-ansi-language:PT">Halakavuma Halakavuma Halakavuma Halakavuma <o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="color:black;mso-ansi-language:PT">nima vele anga nawu a phambeni ni ndzaku swo fana inguiki voio mbhonha hi parati wova Halakavuma<o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="color:black;mso-ansi-language:PT"><o:p> </o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="color:black;mso-ansi-language:PT">Halakavuma, Halakavuma ayie Elisa Ntanhani hova Halakavuma <o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="color:black;mso-ansi-language:PT">nima vela anga nawu niko hala anga nako, nile ndzaku awu nako ingike voio mbhonha hi parato hova Halakavuma amassema ingaku i bandzala <o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="color:black; mso-ansi-language:PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Uma das perplexidades que as páginas da música moçambicana viveram foi com a música Dadinha do irreverente Joaquim Macuacua. Ante o seu amor não correspondido, Macuacua fez uma música cujo título e temâtica era o seu romance e a razão do seu falhanço. E falhou porque segundo ele, dedicou seu amor a quem nunca o mereceu isto é, a uma mulher que somente servia para a cama. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">E porque o Macuacua não queria dar o dito por não dito sobre a identidade de tal mulher, identificou-a de tal forma que não restassem dúvidas de quem era: “nirhandzani ni tombi ya Xamanculo iaku tsama kussuhi ni Beira Mar...”, (enamorei uma rapariga de Chamanculo que vivia perto do Beira Mar), para quando encostado nas barras da Justiça dizer que a aludida Dadinha era uma tal que foi levada para a Operação Produção, isto porque a Dadinha se sentiu lesada aliás, antes o noivo dela que se preparava para a levar ao altar mas que com a ultrajante música teve que recuar.(se bem que tinha todos motivos para recuar). <span style="mso-spacerun:yes"> </span><o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">E ajuizou certo o Magistrado que julgou o caso condenando o Macuacua, porque todo o relato que ele fazia apontava para a queixosa, que por sinal também vivia perto do Beira Mar, que frequentava a discoteca Hidromoc, aliás, onde largou o Macuacua (heleketa alirhandzo la mina, leli ungali siya Hidromoc), pelo que não havia espaço para uma outra Dadinha, na verdade nunca existiu uma outra; ao chamar outra, a supostamente levada para a Operação Produção, usava Macuacua do seu direito de defesa que o autoriza até a mentir. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Além da condenação, a música foi intedita de ser tocada em lugares públicos. Não havia pois, necessiade de a ir buscar não fosse, o recuo que fiz até aos anos 50 para encontrar um disco que traz nomes dos nossos bons sabores e com temperos de tocadores que influenciaram toda uma geração: trata-se do disco “The forgotten guitars from Mozambique” do etnomusicólogo Hugh Tracey.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">É que, na análise da temática do disco ressalta logo à primeira e em todas as músicas, salvo as de Feliciano (N)Gome(s) Mutano um discurso reductor da figura da mulher. Tem inclusive uma música intitulada “Kerestina”, onde o autor, depois de falar da sua ex, a localiza no espaço e diz “Kerestina lweyi ni balaka yena hi lweyi waku tsama a xinhaguanine..”, como quem diz a Cristina que referencio é a que vive em Xinhanguanine, isto para dizer que Macuacua teve em parte onde se inspirar. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Mas a canção que me proponho a abordar hoje, é a Halakavuma popularizada se não me engano pela Orquestra Djambo, como Elisa N’tanhane(?). <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Pelo que voltemos ao N’Tonganhane(Aurélio Kuwano), de quem a destreza na guitarra não se duvidada, de quem os avanços poderosos na entoação eram acentuados, de quem se reconhecia a língua afiada quando o assunto eram as mulheres. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Só para terem uma mínima ideia, ele equipara o corpo escamoso do Pangolim (Halakavuma), ao da Elisa N’tanhane. Uma Elisa que chega a rasgar manta com as unhas (não se enganem as nossas manas que até as acrescentam hoje, ontem, unhas grandes era sinónimo de “futa”, porquice e/ou mulher destrambelhada), uma Elisa que só jinga e não se sabe porquê quando de cintura para baixo não se distingue onde é a frente e onde é atrás. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT"><span style="mso-spacerun:yes"> </span><span style="mso-spacerun:yes"> </span><o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Chega o Ntonganhane, a propor que se chame o Induna (Regente, o que na hieraquia do Muganga, vem antes do Régulo), para que venha testemunhar a aparição desta Halakavuma (lembrar que só o chefe tinha a faculdade de receber as boas novas do Pangolim), mas repare-se, neste caso, era mesmo para fazer pouco da Elisa, no sentido de levem-na ao Chefe para que ele contemple e comprove pelos seus próprios olhos o subtrair da mulher que é Elisa N’tanhane.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT"><span style="mso-spacerun:yes"> </span><o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Devo dizer que evoluimos tanto de lá para cá, embora com alguns sinais de recuo como em “Nixi djula hi Doggy Style e companhia, mas regra geral, a mulher é hoje enaltecida como o emblema da vida. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Todavia, lanço o convite para ouvirem este disco, que como disse um dia, representa a gesta de uma nova era: a de marrabenta, n’fena, Dzucuta (refiro-me ao Dzucuta de ontem) Magika, Xingomani, muthimba e outros estilos que se evidenciam ao ouvir este disco, que quanto a mim as autoridades da cultura o desviam raesgatar, como também resgatar tudo quanto foi produzido pelos nossos na África do Sul principalente, em editoras como a His Master Voice, Trobadora, Gallo, Columbia etc. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Termino dizendo que o exemplo de N’Tonganhane, não é de certo o melhor, mas, marco de um periodo que devemos estudá-lo para melhor compreendé-lo. E, mesmo a fechar, não me admirava se soubesse um dia que a Elisa, tal como Dadinha, foi um dos grandes amores (não correspondido) da vida do Aurélio Khuwano e daí o facto de inspirar a música cheia de graça que é Elisa Ntanhane. <span style="mso-spacerun:yes"> </span><o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Amosse Macamo <o:p></o:p></span></p>amosse macamohttp://www.blogger.com/profile/05043074663401470101noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-8323406636377954775.post-42206325877106173112010-02-04T07:43:00.000-08:002010-02-04T07:47:16.811-08:00NANANDO<p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">“Confessa que nosso destino é estranho, extraordinário!”<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Em conversa dizia à uma amiga que nunca matei os meus mortos. Sim, eles vivem todos os dias no meu imaginário e, à noite, “...debaixo do medo dos feitiços e dos deuses”, meus mortos me espreitam de todos os cantos. E, nessa altura, um misto de medo e aventura me invadem, o estranho e o maravilhoso, o desconhecido e o inexplicável fundem-se numa realidade fugaz, mas realidade.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">E isto, não pode ser obra do acaso; se é alucinação, sonho, delírio, real e/ou irreal não sei e nunca exigi outra verdade de mim, porque o estranho e o maravilhoso sempre me fascinaram. Quantas vezes e no meio da noite, conversei com o meu falecido avó Mavonho e, inquirindo-o, pelo facto de me procurar mesmo que morto? Quantas vezes, revi semblantes de ente queridos que partiram? Quantas vezes e quantas dores que esconjuro, mas que voltam em catadupas no meio da noite?</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Bom, não foi para falar de mim que escrevo estas linhas lúgubres, escrevo, para esconjurar mais uma morte, destas que só a crença na imortalidade nos pode aliviar de tamanha dor; falo da morte de Nanando.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Colheu-me de surpresa e não porque esta costuma avisar, mas, porque, nos nossos bons costumes a velhice cura qualquer morte. Custou-me aceitar, mesmo sabendo que a morte é um facto certo para qualquer homem. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Cimentou em mim esta morte, a impressão de que a vida não nos pertence, sim, tem quem a controla, quem nos dá e tira quando bem entende.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Porque se fosse para esperar a data certa, não nos tirava ELE seja quem fôr, o prazer de redescobrir na distância inevitável entre o consciente e incosciente, aquela guitarra de acordes únicos, a que se toca no Montreal de Chamanculo, aquela que nos fazia crer imortais, que nos dava a ilusão de trascendéncia, que nos tornava primeiros entre os iguais.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Guitarra do mistério real dos pés que sentiram o chão quente do sol do Chamanculo, de Mafalala, de Namutequeliua, de Paquite, pés que sentavam em seus joelhos e seguravam a guitarra firme para a alegria do meu povo.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Sim, a guitarra do Nanando era uma transição entre a pura espontaniedade do que seus dedos aprenderam com os espíritos dos refinados tocadores de Chibuto e de uma mente que constantemente partia em busca de um mundo ideial no jazz, funk, gospel, blues rock...</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Aos inonconsoláveis pelo facto do Nanando não ter deixado um disco, devo lembrar que o Sócrates, quando condenado a beber cicuta, dizia que não se podia matar a verdade. Assim o dizia, porque já a tinha transmitido aos jovens.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Não pretendo assim, minimizar o facto de Nanando não ter gravado um disco e nem o facto de a cultura não ser agenda no nosso país, mas sim, enaltecer o facto deste ter deixado semente que sei germinar a toda a hora.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">A minha raiva neste momento é uma Hiena que devora a presa, mas engane-se quem pense que do meu semblante caiam lágrimas. E nem podem cair, porque no meio da noite, Nanando volta em brancas plumas negras para tocar sua guitarra directo para o meu coração. Volta para embalsamar meus quentes lencóis frios. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">E não sou imortal? E não será Nanando este Deus que me invade para alentar minhas noites sofridas?</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Minha mente brilha uma clara luz neste momento e, no céu incorruptível dos espíritos da cultura moçambicana nem os que boicotam os nossos lídimos sabores podem hoje me aborrecer, porque vivo neste momento sons de uma guitarra concreta, que marca seu espaço em outros lugares. Acredito que haja Chamanculo no Céu. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Viva a cultura, viva o Nanando e viva a República. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">não encontrem erros neste texto, porque o mesmo não foi revisto; foi escrito de dentro para fora e com lágrimas que teimam em cair, e ninguém as vê. <o:p></o:p></span></p>amosse macamohttp://www.blogger.com/profile/05043074663401470101noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8323406636377954775.post-88105291001635060292009-11-26T03:13:00.001-08:002010-03-12T04:23:09.594-08:00MALANGATANA<p class="MsoNormal" align="center" style="text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-family:Garamond;font-size:14.0pt;">Malangatana, o músico </span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language:PT;font-family:Garamond;font-size:14.0pt;">Não sei o que este título poderá sugerir aos que conhecem a linha do <i style="mso-bidi-font-style:normal">Modaskavalu.</i> Contudo, na urgência de encontrar respostas, um primeiro pensamento há de se colocar: o que tem Malangatana a ver com a música? (eu penso que tudo).</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language:PT;font-family:Garamond;font-size:14.0pt;">Há em Malangatana um músico meus amigos, um músico que se revela não só nas suas pinturas, nos esconjuros mágicos e poéticos das suas aguarelas, na verdade humana imprimida no seu pincel, mas também na sua essência, na sua revelação como homem.<span style="mso-spacerun:yes"> </span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language:PT;font-family:Garamond;font-size:14.0pt;">Tenho muitas questionamentos por fazer ao Malangatana, questionamentos estes, que em parte encontraram resposta no filme <i style="mso-bidi-font-style:normal">Ngwenya, o Crocodilo</i>. É que, confessou Malangatana neste filme, o seu amor pela música, aliás, numa disputa (disputam estes uma mulher) entre ele e um amigo seu (no mesmo filme), revela e de forma espontânea o seu lado cantor, cantando, e para a feliz mulher, se não me engano <i style="mso-bidi-font-style:normal">ka tiku dza zonga ni langui wene nwanhana</i> (na terra dos rongas escolhi a si rapariga...), pena que no final, a mulher ficou (?) com os dois.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language:PT;font-family:Garamond;font-size:14.0pt;"><span style="mso-spacerun:yes"> </span>E questionarão alguns que instrumento Malangatana toca?</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language:PT;font-family:Garamond;font-size:14.0pt;">Para além do autêntico baixo-baritono (sua voz) que o Malangatana é, tem na sua barriga, (sim, barriga, esta, que quando a sua música o invade e de tal sorte que acredita viver na consciência das suas pinturas, na espiritualidade das suas cores e olhares, no ouvir os segredos do camaleão que teima em aparecer nas suas pinturas, toca-o qual batuque), o instrumento que toca o saboroso e lídimo batuque da sua terra Matalana. <span style="mso-spacerun:yes"> </span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language:PT;font-family:Garamond;font-size:14.0pt;">Mas no mesmo filme, Malangatane trouxe a mística canção que diz acompanhar a sua vida:</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="font-family:Garamond;font-size:14.0pt;">Niwone niwone niwooooneeee <o:p></o:p></span></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="font-family:Garamond;font-size:14.0pt;">Niwooneee ahe ahe ahe ahe</span></i></p><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="font-family:Garamond;font-size:14.0pt;">Niwooonneee nkodjo</span></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;font-family:Garamond;font-size:14.0pt;">Niiiiwwoooonneeee, niwoooonnneee, </span></i></p><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;font-family:Garamond;font-size:14.0pt;">aie ahe aie ahe</span></i></p><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;font-family:Garamond;font-size:14.0pt;">niwone nkhodjo</span></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language:PT;font-family:Garamond;font-size:14.0pt;">Malangatana, diz ter ouvido esta canção na sua juventude no canto de uma <i style="mso-bidi-font-style:normal">Nyamussoro</i> (lembrar que Malangatana foi aprendiz de nyamussoro, onde, nada acontece, sem o batuque e o canto), e que por alguma mística a mesma, o apaixonou de tal sorte que o acompanha <span style="mso-spacerun:yes"> </span>até hoje; que sem se aperceber, a canta quando pinta.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language:PT;font-family:Garamond;font-size:14.0pt;">Devo imaginar como Malangatana, recua no tempo quando a canta, devo imaginar as mil<span style="mso-spacerun:yes"> </span>e uma explicações que tenta dar ao canto,mas ao mesmo, imagino que a mesma seja, talvez, o exprimir do objecto intencional que o trascende, a mesma antevisão que dita as suas cores, os olhares em seus desenhos, a ressureição da sua obra, as projecções de si mesmo, como homem que, esteja onde estiver, sente-se sempre no mesmo local: Matalane.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language:PT;font-family:Garamond;font-size:14.0pt;">Esta canção é para Malangatana o poder de sentir de todas as maneiras, é o medidor do artista que ele é, mistério de si mesmo, equilibrador da relação triangular, pintura, homem, mundo.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language:PT;font-family:Garamond;font-size:14.0pt;">É sim músico o Malangatana(atrevo-me a dizer dos mais internacionais do pais), não de <i style="mso-bidi-font-style: normal">hits</i>, nem de músicas registadas em <i style="mso-bidi-font-style: normal">bobine</i>, é sim, músico da nossa curiosidade psicológica, da nossa rica metafísica, da exploração da nossa espiritualidade,do nosso amadurecimento poético, dos aromas do dedilhar sentido nos dedos longos do Jaimito Machatine, dos versos geométricos de Alexandre Langa e Fany,da expressão vibratória do Modaskavalu do Mahecuane Makhuvele, do respirar a música na perversão sensual de Zeburane em <i style="mso-bidi-font-style:normal">Tsunela Seyo, </i>nos cantos embebidos de <i style="mso-bidi-font-style:normal">mphongolo</i> de Aurélio Kuwano, das cores endoidecidas e transitivas de Djambo 70, no emergir dos versos de <i style="mso-bidi-font-style:normal">ntumbuluko</i> de Zeca Alage....</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language:PT;font-family:Garamond;font-size:14.0pt;">No final, sou obrigado a dizer; primeiro o músico e depois o pintor, é que, acredito que seja no canto que Malangatana se auto-direcciona para a pintura, na certeza de que a obra será concluida com o sucesso desejável.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language:PT;font-family:Garamond;font-size:14.0pt;">Meu ode a este cantor não só de cores, mas também do nosso cancioneiro e do sonho utópico de o manter incólume para que a nova geração o estude e o eleja como o sabor da nossa espiritualidade.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language:PT;font-family:Garamond;font-size:14.0pt;">Ode ao músico Malangatana.<i style="mso-bidi-font-style:normal"> <o:p></o:p></i></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;font-family:Garamond;font-size:14.0pt;"><o:p> </o:p></span></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language:PT;font-family:Garamond;font-size:14.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>amosse macamohttp://www.blogger.com/profile/05043074663401470101noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-8323406636377954775.post-34001096695103434552009-11-20T02:01:00.000-08:002009-11-20T02:12:59.038-08:00José Mucavele: o ícone do resplendor africano<p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language:PT;font-family:Garamond;"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">José Mucavele: o ícone do resplendor africano</span><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">Zé é para mim a expressão mais poderosa e desenvolvida da concepção renovadora e vanguardista africana.</span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">De facto, para Zé, África é a expressão mais densa das suas obsessões; a obsessão que aponta para um despertar, para um diálogo de reinveção profunda do que somos e pretendemos ser, de militância epopéica, do protagonismo que se impõe para que a solução dos nossos problemas sejamos nós mesmos.</span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">Zé na maiora das suas músicas, progride rapidamente e de forma profunda; eleva-se de forma nobre e indaga-se: </span><i><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">Hi dlayana hi yivelana hili vaxi kanwe...</span></i><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">como quem diz, porque nos matamos se mesmo povo? Porquê nos autoflagelamos se filhos do mesmo ventre: Africa?!.</span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">Zé busca por uma espécia de panteão das glórias africanas extintas pelo modernismo que assimilamos sem nunca o perceber; Os dizeres </span><i><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">hi dloku utivi lava lungu, hi lheka bedjua la kokwnani...</span></i><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">(vestimos a capa do ocidente e rimo-nos da nossa tradição), nos ajude a perceber essa busca, a mesma que Zé encetou no </span><i><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">Xigutsa xa utomi.</span></i></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">Ele esboça uma espécia de valores trascendentalistas que sabe que o povo africano tem demais. Procura em suas canções evidências concretas e substantivas de uma África que ainda se pode reerguer. (</span><i><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">loko ho yaka lirhandzu linwana, xikwembu xa hina xita pfuka urhongweni</span></i><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">), no sentido de que se construirmos uma nova união, nosso Deus [negro] vai despertar da (longa noite de sono a que está votado) letargia.</span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">Quando coloca a ideia de que </span><i><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">Hi lava va taku vadla teres parato kuvi hina mamanoo hidla hafo prato</span></i><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"> ..ou melhor; os que vem comem três pratos, quando a nós servem metade, longe de ser uma exaltação xenófoba, Zé,coloca as coisas no sentido de que o principal beneficiado pela riqueza que o pais (África) produz, deve ser antes os nativos, mas não; temos aqui o </span><i><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">Xighontlo</span></i><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">, este pássaro esperto e egoísta, que se dá ao luxo de comer todos os pratos, deixando-nos com a metade.</span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">Há quem diz, que os versos de Zé, traduzem uma insatisfação com a vida real, na medida em que com a ideia da “aldeia global”, África, mesmo que queira, não pode pela conjuntura guardar as suas raizes, dominar o conhecimento sem fugir das suas crenças, mas eu penso, que o Zé, vive sim num mundo real, porque um povo sem auto estima, dignidade, cultura e sua forma de estar, não se pode arrogar povo.</span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">Numa ambiciosa partitura musical</span><span><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"> </span></span><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">e poliritmia que o caracteriza, Zé, faz da fusão e da diversidade cultural uma constante ocasião para a exortação heróica do nosso povo, a quem em algum momento e numa outra música diz que os que profetizaram a partilha do continente taparam a sua estrela cintilante, numa clara alusão a escravatura e domínio colonial sobre África, no sentido de que esta, retirou-nos toda a sorte, toda a oportunidade de brilhar, todo o resplendor africano.</span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">Zé procura por uma existência concreta que não se pode achar e nem aproximar do conceito que o ocidente quer de nós; na verdade é no retorno a nossa espiritualidade que renasceremos para o resplendor, porque nós sabemos e bem onde a nossa estrela da sorte brilha.</span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">Zé é protagonista de uma África real que ele aprendeu no chão da sua terra e que se lhe escorrega hoje a sua vista sem que grito nenhum possa dar.</span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">Mas grita o Zé, grita e bem fundo nas suas músicas, traduz (ainda que intraduzível) o brado africano, a eloquência da nossa heroicidade, o lapidar de uma pedra angular onde nós seremos donos e mestres da nossa própria sina, onde, seremos os mentores das nossas políticas, onde, seremos o despertar das nossas próprias consciências, onde, seremos concebidos e percebidos pela nossa mística e não pela capacidade de renúncia da mesma mística, onde, o nosso orgulho, sim orgulho africano será a perseguição incansável dos nossos valores.</span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">Zé caminha pelos corredores de sonho e pronuncia as últimas palavras que um dia acredito serão as primeiras: África surge et ambula.</span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">Vim, uma vez mais, enaltecer a luta consciente do Zé pelos valores africanos, vim aqui, traduzir o seu discurso apaixonado pelas nossas coisas, vim aqui, trazer o resplendor africano sempre presente na sua canção.</span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">Bem haja o Zé, a quem ainda vou cantar neste espaço à minha maneira, a quem vou dar sempre odes, porque guerreiro incansável da nossa luta. </span><o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language:PT;font-family:Garamond;"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language:PT;font-family:Garamond;"><span style="mso-spacerun:yes"> </span><o:p></o:p></span></p>amosse macamohttp://www.blogger.com/profile/05043074663401470101noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8323406636377954775.post-5076898166020926292009-11-09T09:54:00.000-08:002009-11-10T09:42:21.812-08:00ELSA MANGUE<p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"> </span></o:p></p> <p class="MsoNormal" align="center" style="text-align: justify;"><b><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">Elsa Mangue</span><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"><o:p></o:p></span></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b><span lang="PT"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"> </span></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"> </span></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">Elsa Mangue é uma mulher de sentimentos intensos, de uma espiritualidade angustiante e sentimental. </span><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"> </span></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">É curioso verificar que a Elsa, canta os seus prantos, e penso que não para os espantar, mas, para tentar percebé-los. </span><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"> </span></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">É que, a Elsa, é uma mulher sofrida, sofrimento este, que ela deixa transparecer nas suas músicas, um sofrimento que se detecta em cada verso e palavra cantada, um sofrimento que se nega a morrer, isto porque ainda vive o sujeito da acção: a Elsa Mangue. </span><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"> </span></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">Para mim, a Elsa canta na primeira pessoa, sim, todo o seu discurso responde aos seus problemas, aos seus questionamentos, e é importante realçar que a sua dor não morre, pelo contrário, transita de música em música, é resistente, permanente, emerge a qualquer altura.</span><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"> </span><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">Na música “Fim da estrada”, várias foram as vezes que a Elsa, (tomada pela emoção, pelas lembranças sempre recentes da sua vida, pela dor que incomoda e traz a superfície coisas invisíveis), chorou. E chorou justamente porque ao cantar a música, ela, revive o problema que canta tal e qual o faz quando canta que ”...siku leli kaya unga lava kuni txukumeta/ murhandziwa wanga, indje wa khumbuka wena?, passando a ideia de que ”lembras-te do dia que quiseste me atirar? Lembras-te meu amor?</span><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"> </span></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">Aquele pronunciamento sugere mágoa, mas sugere acima de tudo um momento do passado que a Elsa quer a todo custo tomar como passado (lembras-te), mas quem repara no que ela diz logo à seguir, percebe que o seu amor não é nada do passado e é fácil perceber quando ela questiona “lembras meu amor?”</span><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"> </span><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">Caso para afirmar, tão longe, mas tão perto. Na verdade, Elsa nunca esqueceu este homem, aliás, a Elsa pertence a geração de “um só homem”, na vida de uma mulher. </span><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"> </span></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">A Elsa não faz a viragem, e nem se permite que ela aconteça, pois, quando pensamos que ela canta para exorcizar a dor e por isso mesmo esquecer, na próxima música, a temática volta e com a mesma carga de intensidade e emotividade próprios de quem chora constantemente, de quem diz “Tindjombo lava kandzaka, vatitsamela niva nkatavu kaya(/sortudos os que conseguem manter um lar, vivem felizes), não foi por acaso, que a Elsa escolheu esta música, do Rei Fany Mpfumo (no disco ao seu tributo), porque esta, reflecte o que ela pensa.</span><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"> </span></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">Elsa vive uma vida muito encolhida, encolhimento este que não a permite olhar para si e acreditar que é uma das melhores fazedoras da nossa música, que é dona de uma voz meticulosa, traçado com precisão notável, sensível, e que se exprime de um modo singular, uma voz que se deleita, uma voz que surpreende pela sua cor e valor. </span><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"> </span></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">Vejam que Elsa e mesmo para atestar que ela não esqueceu o anterior companheiro,em “Joshua” dá recados no sentido de que se queres falar comigo venha de dia e não de noite....vens a noite para me enganar pela segunda vez? (lakuta ka mina, ungati niwu siku uzama zama kuni phazamissa ulava ku phinda ka umbirhe...). </span><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">Se estivesse segura da decisão de passar este homem para trás seria indeferente que este homem viesse de dia e/ou de noite, porque passado, mas ela adverte: venha de dia se queres falar, e justamente porque ela sabe que a noite pode fraquejar. </span><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"> </span></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">Mas se pensam que é precipitada a minha conclusão, caminhemos juntos para uma outra música, em que ela diz “...ni ta famba hi kwini kaya ka mamani....ni kwatissiwa hi lweyi waku tsuka ani gwela ku hunguka ingu o tsuka ani kuma nani hlongolissa ndlela” (entristeçe-me que alguém me chame de louca, como se alguma vez tivesse me encontrado a vaguear e/ou a caminhar sem destino). </span><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"> </span></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">Para dizer que ainda lhe incomoda o facto de o ex, a chamar nomes. Numa outra música diz “wagwira munghana wa mina...vuya nitaku gwela ku duma ka hloko ya mu pfana lweyo....”, onde a Elsa, quando se apercebe que a “outra” que preencheu seu lugar tenta se meter com ela sugere um encontro para a esclarecer o quão difícil é compreender a cabeça do homem que ela tem como marido. </span><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"> </span></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">Mas se alguém pensa que este facto retira o carâcter estético das músicas da Elsa engana-se, aliás, este exercício, foi em parte, para defender a tese de que a Elsa canta na primeira pessoa.</span><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"> </span><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">Sim, a Elsa é tão verdadeira quando canta, é tão reflexiva, tão precisa, tão doce e original, porque não canta coisas contadas, canta sua vida (amargurada), na primeira pessoa. </span><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"> </span></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">Podia me alongar mais, contudo, chamo a sua voz mesmo que no pensamento para continuar a alisar o meu coração, para trepar os ramos mais altos e frágeis do meu coração, para me banhar de lágrimas e mesmo que ninguém as veja. </span><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"> </span></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">Longa vida a Elsa, e, tomara que uma destas empresas que dá ao acaso quando se trata da verdadeira música moçambicana a contemple um dia porque ela merece.</span><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;">P.S. deixe-me lembrar o meu avó que dizia que a “música desta mulher tem sal”. E não tem? </span><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family:verdana;"> </span><o:p></o:p></span></p>amosse macamohttp://www.blogger.com/profile/05043074663401470101noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-8323406636377954775.post-3693031286499425232009-10-18T12:42:00.000-07:002009-10-18T12:47:30.282-07:00Chico António, o cidadão do mundo<p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b><span lang="PT"><i><span class="Apple-style-span" style="color:#FF0000;">Hantlissa Maria ulonguela timpalha kuni mova wa muxolole </span></i><i><span class="Apple-style-span" style="color:#FF0000;"><o:p></o:p></span></i></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b><span lang="PT"><i><span class="Apple-style-span" style="color:#FF0000;">Uya ka gaza</span></i><i><span class="Apple-style-span" style="color:#FF0000;"><o:p></o:p></span></i></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b><span lang="PT"><i><span class="Apple-style-span" style="color:#FF0000;"> Siyela Zulmirane timpahla leti taku made in united state ti hlanhissaca vava nuna oh ha </span></i><i><span class="Apple-style-span" style="color:#FF0000;"><o:p></o:p></span></i></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b><span lang="PT"><i><span class="Apple-style-span" style="color:#FF0000;">Unga kwati Maria ha swo uta Byala mitsumbula ....hi fuya ti homu hi rima </span></i><i><span class="Apple-style-span" style="color:#FF0000;"><o:p></o:p></span></i></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT"><i><span class="Apple-style-span" style="color:#FF0000;">Lomu hiyaka kone/nahi khoma axi komu hi rima</span></i></span><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="color:#FF0000;">.</span></span><span lang="PT" style="mso-ansi-language:PT">...Chico António <o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" align="center" style="text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span lang="PT" style="mso-ansi-language:PT">Chico António, o cidadão do mundo<o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Há em Chico António um sentido de moçambicanidade ainda não explorado. Já me explico: se podemos esperar o que as melodias e músicas de Wazimbo,<span style="mso-spacerun:yes"> </span>Mingas, Hortêncio, Cabaço, Chihau e outros podem produzir, isto porque lhes conhecemos a linha e daí prevesíveis, já não podemos encontrar a mesma coisa em Chico, aliás, a sua imprevisibilidade, iguala-se à de Salimo, José Mucavele (basta lembrar que a guitarra de José, pode quando quer se esconder na densa savana de Chibuto, para meia volta, reaparecer e atravessar rios deste diverso moçambique num acelerar de ritmo que lembra os ataques de surpresa dos Guerreiros Chopes aos soldados Ngunis).</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Chico, embarca em cada canção numa espécie de viagem sem destino previamente preparado, aliás, como o bem fazia o Ramsome, Fela Anikulapo.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">A sua versatilidade, o marca não como músico moçambicano, mas africano, digo do mundo. É que, se o Chico subir um pouco até ao Centro de Africa, talvez não mexesse nada e/ou pouco nas suas canções para se confundir com artista daquelas bandas.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Se subisse um boucado mais, para a França, seria visto como um músico contemporrâneo forte, do qual não se deve atribuir país, porque do mundo.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">O que gosto no Chico, é o respeito que este tem pelos momentos de avanço e pausa nas suas músicas, já me explico: quando este canta, sente-se que faz um avanço envolvente do qual não se pode ficar indeferente, pelo contrário; envolve-nos com a sua música. E quando sua voz cala, a combinação perfeita dos instrumentos desenha um cenário tal que completa o vazio que sua voz deixa e quando esta volta, a intensidade da combinação instrumentos/voz, torna-se tão intensa que o sentido de marcha da música passa a ser controlado pelos nossos sentidos onde podemos pegar por exemplo no trabalho do viola baixo e embarcarmos numa viagem na nossa própria melodia, no nosso próprio rumo e ritmo; fazendo a nossa música na do Chico. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Na veradade, revemo-nos na sua música, sentimo-nos naquele instante parte integrante, dela, sentimo.nos <span style="mso-spacerun:yes"> </span>parte de um ritual que em algum momento da história da nossa vida aconteceu e que por reminiscência, o presente chama.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Nós africanos desconhecemos a alquimia, pelo que, ao homem capaz de nos envolver transformando nossas angústias, anseios, alegrias e sonhos em música envolvente, só pode ter um nome: um feitiçeiro.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Mas Chico, é também um homem do campo, a quem a tranquilidade rural lhe faz muita diferença, de maneira que na música acima, renuncia da vida da cidade, e, convida a mulher para juntos embarcarem no sonho de voltar ao campo para cultivarem a terra e criarem gado.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Neste convite, chega a propor a sua amada que deixe as suas roupas fabricadas no ocidente (que enlouquecem os homens), <span style="mso-spacerun:yes"> </span>para a sobrinha Zulmira.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Um retorno as raizes entende-se, que não se esgota nesta música e naquela situação. Na verdade sinto nesta música, no convite ao retorno e no pedido que Chico faz a mulher, um pouco daquilo que o José Mucavele, faz e bem (apelo ao Renascimento africano), no sentido de volta em tudo que faz de nós africanos; ao orgulho africano.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Uma volta à necessidade de olharmos para nós dentro dos nossos próprios parámetros, para depois lançarmo-nos ao mundo com os pés firmes no chão, como Chico faz na sua música.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Este retorno, de quem já provou os prazeres da luz da cidade, confirma o que defendo acima; Chico é versátil, imprevisível, e a qualquer altura, sua música pode indicar uma direcção nunca antes enunciada.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">A música do Chico tem uma dimensão cultural transcendente, tem condimentos para vencer e até para largar esta terra e caminhar no mesmo sentido que sua música incide (imprevisibilidade), e se deixar surpreender com o que o caminho vai produzir. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><br /></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT"><span style="mso-spacerun:yes"> </span>Modaskavalu <o:p></o:p></span></p>amosse macamohttp://www.blogger.com/profile/05043074663401470101noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-8323406636377954775.post-76539220400375886922009-10-15T06:15:00.000-07:002009-10-15T06:18:52.682-07:00Wazimbo, o nyànyànà<p class="MsoNormal" align="center" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family:"Century Schoolbook";mso-ansi-language:PT">Wazimbo, o <b style="mso-bidi-font-weight:normal">nyànyànà</b><o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: "Century Schoolbook";mso-ansi-language:PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: "Century Schoolbook";mso-ansi-language:PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: "Century Schoolbook";mso-ansi-language:PT">Neste mês de <i style="mso-bidi-font-style: normal">Nhlàngùlà</i>(Outubro), vos trago o canto do legítimo pássaro da minha terra Chibuto: Wazimbo. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: "Century Schoolbook";mso-ansi-language:PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: "Century Schoolbook";mso-ansi-language:PT">Mas antes disso, deixem-me traduzir nyànyànà, para quem não fala changana: nyànyànà, significa em changana pássaro. Bom, ao entrarmos no campo do Português, (se bem que em changana também podemos encontrar esta conotação) quando se fala de<span style="mso-spacerun:yes"> </span>pássaro além da ideia ave pequena, surge a de homem astuto e manhoso. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: "Century Schoolbook";mso-ansi-language:PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: "Century Schoolbook";mso-ansi-language:PT">Longe de mim querer trazer estes termos para classificar o Wazimbo. É para mim pássaro, por duas ideias fundamentais: primeiro pela sua bela, doce e inegualável voz e, segundo pela capacidade que tem de ascender<span style="mso-spacerun:yes"> </span><o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: "Century Schoolbook";mso-ansi-language:PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: "Century Schoolbook";mso-ansi-language:PT">Wazimbo tem uma voz com um traçado geométrico forte, voz de exigência concreta de um milagre chamado canto. Se Wazimbo não fosse cantor, seria cantor. Se não cantasse cantava. Isto, porque dono de uma voz que não permite outro ofício senão o canto. Diria o mesmo de Djecko Maria, do Dua Maciel, do João Cabaço, de Arão Litsure, Hortêncio Langa, de Gabriel Chihau, de Zeburane, ha Zeburane este rouxinol de Ntxanwane. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: "Century Schoolbook";mso-ansi-language:PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: "Century Schoolbook";mso-ansi-language:PT">Mas bom, voltemos ao Wazimbo e ao fulgor que é sua voz; uma voz como disse acima não permite outro ofício, senão cantar. (ainda sonho com o dia em que o artista moçambicano, terá na sua arte a profissão).<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: "Century Schoolbook";mso-ansi-language:PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: "Century Schoolbook";mso-ansi-language:PT">A voz do Wazimbo refaz histórias que me foram contadas na infáncia, faz me voltar ao paraiso rural que é minha terra Chibuto, a sua voz, se distingue porque é concreta e canta uma terra concreta: Moçambique. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: "Century Schoolbook";mso-ansi-language:PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: "Century Schoolbook";mso-ansi-language:PT">Convido-vos uma vez mais a ideia de nyànyànà, para um pequeno exercício de reflexão: certamente que o pássaro tem emoções não? Certamente que no seu voo tropeça, cansa-se, certo? <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: "Century Schoolbook";mso-ansi-language:PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: "Century Schoolbook";mso-ansi-language:PT">E agora o questionamento: alguma vez e por isso mesmo, ouviram o mudar da tonalidade do canto de um pássaro? <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: "Century Schoolbook";mso-ansi-language:PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: "Century Schoolbook";mso-ansi-language:PT">A resposta será não, isto porque, o canto de um pássaro é sempre o mesmo, inalterável, seguro de si, doce, cintilante, denso....é justamente como a voz do Wazimbo: verdade, desde que o Wazimbo é, sua voz nunca mudou, nunca! <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: "Century Schoolbook";mso-ansi-language:PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: "Century Schoolbook";mso-ansi-language:PT">Ela eleva-se e supera o seu dono (capacidade de ascender), voa versos concebidos para nos chamar a atenção de ouvir suas canções com todos os ouvidos que nosso corpo possue, como em <i style="mso-bidi-font-style:normal">Maria Nwahulwana</i>, onde desencadeia com o seu canto, uma série de sentimentos, que só o despetar do terminar da música nos chama atenção: arrepios, ansiedade, paz, mesmo quando conta nesta música a estória comum de uma noctívaga; a <i style="mso-bidi-font-style:normal">Maria</i> que não sabe o perigo que espreita ao levar a vida a contar farras .<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: "Century Schoolbook";mso-ansi-language:PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: "Century Schoolbook";mso-ansi-language:PT">Esta música, é para mim a década final do imaginário da canção moçambicana, uma música que tem a capacidade de contar uma estória comun transformando-a em doces pétalas que quedam no rio, de uma intenção poética tão forte, de uma obsessão perfecionista incrível, uma música fugaz, música feita com paixão, com crença com forças inesgotáveis, uma música que inspira. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: "Century Schoolbook";mso-ansi-language:PT"><span style="mso-spacerun:yes"> </span><o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: "Century Schoolbook";mso-ansi-language:PT">Eu não sei dizer Wazimbo com as palavras merecidas, como não sei dizer Simeão Mazuze, José Mucavele, Feliciano Ngome, Alexandre Langa, Cabaço e outros, mas nesta página, procur-lhes com olhos emprestados de todos os moçambicanos para lhes agradecer a força incomensurável que tem de remar contra a maré e que maré. De serem gigantes no seu sentir, isso, é para mim uma autêntica expressão da fé. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: "Century Schoolbook";mso-ansi-language:PT">E a fé move montanhas. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family:'Century Schoolbook';"><br /></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="font-family: "Century Schoolbook";mso-ansi-language:PT"><span class="Apple-style-span" style="color:#CC0000;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-large;">Wazimbo, o nyànyànà. </span></span><o:p></o:p></span></p>amosse macamohttp://www.blogger.com/profile/05043074663401470101noreply@blogger.com19tag:blogger.com,1999:blog-8323406636377954775.post-10054167713119810142009-09-09T07:45:00.000-07:002009-09-09T07:47:11.956-07:00UM TUTANO CHAMADO JOSE MUCAVELE<p class="MsoNormal" align="center" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="mso-ansi-language:PT">Um tutano chamado José Mucavele<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" align="center" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="mso-ansi-language:PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Quando falamos de tutano a ideia que logo ressalta é a de “essência, parte mais íntima, e/ou âmago de uma coisa”. Pois, é esta a ideia que me ressalta sempre que falo de José Mucavele.<span style="mso-spacerun:yes"> </span><o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT"><span style="mso-spacerun:yes"> </span><o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">É para mim este, um dos mais lídimos e resistentes símbolos da nossa música e cultura, a santa ceia espontânea e natural da nossa tradição e dimensão. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT"><span style="mso-spacerun:yes"> </span><o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Desconheço as dores deste poeta, mas as minhas, as conheço, porque as sinto de forma tão óbvia, tão incisiva, tão resistente, de tal forma que se torna impossível de delas me livrar. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">São as dores de não reconhecimento destes homens (como o José), que carregam o âmbar da nossa cultura mas, mesmo assim, ostracizados até de quem tem o dever especial de os suportar. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Uma voz, guitarra e temâtica que lutam contra a surdez da música que se faz hoje. Música sem preocupação de estética, de ritmo, de mansagem, uma música que dá a sensação de bloqueio dos seus fazedores, porque executada da mesma forma e me atreveria a questionar; música? <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Só o absurdo pode traduzir a maioria do que se faz hoje em dia como música, mas, esta é outra história.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Impeliu-me a vontade de escrever sobre o José Mucavele, como um pequeno ode aos meus amigos que ainda acreditam no resguardo dos nossos valores e, neste momento, minha mente desatina, porque, se nos demais actores da nossa música sempre tive o cuidado de um tema para os retratar, custa-me escolher um de e para Mucavele. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Custa-me justamente porque analisada em conjunto a música deste, aponta para uma única direcção: como suporte da nossa identidade como povo, nação, mas, se analizada à parte, encontramos fragmentos do concretismo factual do nosso quotidiano, como tribo, etnia, raça, país e continente. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Intrigam-me, com alguma fascínio a mistura, as construções filosóficas de Mucavele, que tem a particularidade de partir da menor premissa para a maior, do campo para a cidade e da cidade para o mundo. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">As músicas de José vivem um objecto real: um homem do campo, que acaba personificando o homem africano e a imagem que este projecta para o mundo, e da forma como o mundo o vê e acima de tudo como olha para si mesmo.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Descobri em “Mupfana wa livala” (Pastor), outras verdades que não se circunscrevem naquele círculo restrito familiar como José dá a entender na sua música e clip (bem interpretado pela parelha Gilberto Mendes e Lucrécia Paco), onde o Mupfana (rapaz pastor de gado), é rejeitado e desprezado pelos pais da sua amada, somente porque é do campo. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Redescobri naquela rejeição, a posição do homem africano ante o mundo, que é visto com o mesmo cepticismo, desprezo, rejeição, justamente porque homem do campo (Africa), logo, atrasado, não convicto, lento no pensar, que não transforma, passivo, imediatista, etc.<span style="mso-spacerun:yes"> </span><o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Esta música é o reivindicar sempre perene de um espaço pelo homem africano e a sua inserção no mundo. É a constante negação de que não precisamos nos transformar, de adequar os nossos hábitos ao ocidente para que sejamos iguais. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">O “mupfana wa livala” se perdesse o que o caracteriza, esvaziava toda a sua essência, sua vida, passaria a uma auto flagelação moral, de crise identitária que só abonaria, a quem o quer fragilizar. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Se tivesse que resumir a música e obra de José diria, que constituem uma negação deste estado de coisas, porque o africano, sabe olhar a si com belos olhos, sabe olhar a si com exigência de quem participa num projecto que uma dia há-de se cumprir: de uma ÁFRICA igual a si mesma, uma ÁFRICA que vai quebrar inteiramente o vírus da dependência, porque enquanto isso não acontecer será a mesma situação que o José canta: “hilava va taka, vadla tres pratos kuvi hina mamani hidla hafo prato”(eis os que vem comem três pratos, enquanto que nós mãe, comemos apenas a metade), para bom entendedor. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Está ai a tutanez do José, este embondeiro que resiste a todas intempéries.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Será que resiste? <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT">Amosse Macamo<o:p></o:p></span></p>amosse macamohttp://www.blogger.com/profile/05043074663401470101noreply@blogger.com14tag:blogger.com,1999:blog-8323406636377954775.post-28326070279164194132009-08-14T06:52:00.000-07:002009-08-14T07:00:25.434-07:00ODE A VIDA<div align="justify"><span style="font-size:180%;"><span style="color:#006600;">Ode à vida</span><br /></span><br />Bom, no sábado passado o meu amigo Nero, chamou-me a sua casa. Disse-me ele: irmanito, venha almoçar comigo e por favor traga a sua família. Era o começo deste pequeno escrito.<br /><br />Lá fui eu, a Zena (minha esposa) e a Zahra (minha filha), e uma vez que ia a casa do meu irmanito, e porque a um assobio da minha casa, fiquei à vontade: chinelos, gangas, uma camisete polo e um assobio estridente cantarolando Zeburani.<br /><br />Bati a porta e o meu irmanito ao abrir gozava-me: chegou o Jalaludine (pudera se o Jalaludine tivesse a minha massa cinzenta), e rimo-nos por todos motivos que este nome evoca.<br /><br />Aconcheguei-me na poltrona e reparei que mesmo ao meu lado esquerdo, no canto da sala, estava o tripé, com duas garrafas de um bom vinho gelando.<br /><br />Sempre que estou com meu irmanito, regrido no tempo, igual à aquela criança irrequieta que mesmo roubada a infância, ainda se lembrava de brincar. Juntos celebramos o riso, riso puro das mil estórias de vida, gargalhamos a valer, e claro, às vezes me irrito, zango mas meu irmanito, tem o dom de me aturar.<br /><br />Mas bom, não foi para falar das minhas nóias que vim aqui. Queria era, dar-me por feliz, não só eu, mas também o meu irmanito e nossas famílias, em conseguirmos o que muitos procuram (esta vai para o Julio Muthisse=vingança tarda mas não falha), e se encontram, nunca em igual oportunidade como a nossa.<br /><br />É que, a uma certa altura do convívio, liguei para o meu amigo a quem chamo de “poeta das boas essências”, a pedir que se juntasse a nós.<br /><br />Já agora, deixem-me trazer-vos o testemunho de um homem que aprendo a admirar a cada dia: Hortêncio Langa.<br /><br />Um homem soberbo sem soberba (arranco as palavras de Júlio Mut(H)isse), duma modéstia impressionante, afável, de trato fácil, respeitador, sempre actual, calmo, sempre disposto a ouvir, até quando devia falar.<br /><br />E bom, dizia que liguei ao meu amigo Hortêncio e ele veio como sempre vem quando o peço e trouxe consigo, e atendendo ao meu pedido, a sua guitarra, musa que ele sabe tratar.<br /><br />E tocou; tocou um tema que nunca havia tocado, tocou ainda “Maputo”, “Alirhandzo”, “Hodi”, e eu e o meu irmanito sempre a fazermos os coros. Verdade que a desafinar, mas acreditem, estava ali o forte daquelas canções: o trato fino na guitarra e voz de Hortêncio, e as nossas trapalhadas.<br /><br />Oportunista como sou, tive o cuidado de registar estas canções no meu telemóvel e um dia, não estranhem se aparecer numa das tantas “labels” da capital, um CD de Hortêncio, Nero e Modaskavalu.<br /><br />E nem se atrevam a questionar se Nero e Modas, cantam porque nós gritamos menos que alguns MC’s da praça.<br /><br />Hoje, sexta feira, dia catorze de Agosto de dois mil e nove, a menos de dezasseis dias do primeiro aniversário da minha filha, acordei com vontade de ouvir as canções que captei naquela noite memorável e enquanto escutava, apercebi-me como a vida é bela.<br /><br />Ode aos meus amigos Hortêncio e Nero a Zahra minha filha (Zena e minha esposa), que sabem me devolver o sorriso, até quando a vida me nega.<br /><br />Ode aos fazedores de cultura desta terra, poetas destinados a castigos imerecidos de não reconhecimento, mas que resistem mesmo assim.<br /><br />Mas esta ode, também se estende aos outros meus amigos que estão sempre comigo, mesmo quando distantes: Duma (filósofo mor), Júnior, Baúque, Mutisse (irmão na causa), Ouri (das trincheiras), Ximbi, yndo, Nyiki(irmanitas), Ndapassoa, Machel, Mapengo, Shir, Chacate, Saiete,Bayano, Nyabetse, Langa, Macamo, Muthisse mais velho, Vaz e a todos que escrevo em off para meu coração sentir, a mensagem é de vivas a nossa cultura, a nossa espiritualidade, nosso optimismo como nação, nossa força e garra, ode também extensiva, a todos fazedores da cultura, homens de verdadeira neura.<br /><br />P.S. não pensei este post, ele nasceu do nada, igual ao meu caminho. Um post que me mete medo...será que vou morrer?<br />Nada, hoje é sexta catorze. </div><div align="justify"><br />Amosse Macamo </div>amosse macamohttp://www.blogger.com/profile/05043074663401470101noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-8323406636377954775.post-5162723043747790972009-07-27T07:42:00.000-07:002009-08-03T03:34:36.677-07:00AS GUITARRAS ESQUECIDAS DE MOÇAMBIQUE<div align="justify"><span style="color:#009900;">As Guitarras Esquecidas de Moçambique: o preludiar da marrabenta</span><br /><br />Assim é o título em Inglês (The forgotten guitars from Mozambique); e quanto a nós, um título a condizer se levarmos em conta que as guitarras lá contidas são de facto esquecidas, tão esquecidas que ninguém se digna a falar delas, mesmo quando se sabe que transcendem os limites dos seus executores, mesmo que guardado neles a gesta da nossa música popular.<br /><br />São guitarras preludiosas de nomes que embora não muito referenciados, constituem o resguardo da nossa música. Estas guitarras foram captadas nos finais dos anos 50, pelo etnomusicólogo Hugh Tracey, onde desfilam as vozes e guitarras de músicos como: Feliciano Ngomes Mutano, Aurélio Kowano, Andrea Sitole, Nacio Makanda, Américo Kossa, Aurélio jefe, Alberto Mwamosi, Gabriel Bila, Alberto Fulani, Armando Muwane e Mahecuane Makhuvele.<br /><br />Naquelas guitarras, reside o horizonte proclamado da nossa música contemporânea, o optimismo não apenas da condição do percurso dos guitarristas, mas também uma linha revolucionária cuja expressão de maior fôlego se encontra nas músicas de Feliciano Ngome (aliás, pertence a este, metade das 21músicas que compõem o disco) e Aurélio Khuwano (tem o maior número de músicas logo à seguir ao Feliciano Ngome).<br /><br />Quando refiro-me a condição de percurso dos guitarristas, tem a ver com o facto de quase todos eles, descenderem da mesma província (Gaza), e acharem-se todos na altura da captação do disco a trabalharem nas minas de Rand, na África do Sul.<br /><br />Não se pode deixar de lado este facto, porque sabemos (e este disco evidencia as guitarradas), que os guitarristas nascidos em Chibuto são em regra, exímios tocadores e que se diga, autodidactas e mais curioso ainda, o facto de todos terem aprendido a tocar com as Guitarras de lata de azeite e sempre se dirá que África do Sul era o espaço de iniciação da vida adulta destes guitarristas, espaço de intercâmbio e de alguma competição.<br /><br />Quem procurar trato vocal apurado no disco, talvez não encontre, (salvo a excepção do Feliciano Ngome Mutano que tinha um trato de voz fino e apurado, digo, meticuloso) mas o pecúlio das vozes tipicamente nossas, as guitarradas, a temática (sátira e amores não bem resolvidos) que se aborda, e os sinais que se dão, em termos de execução rítmica já apontavam para o estilo próprio que se desenhava (marrabenta) e que se diga, nas músicas de Feliciano, Aurélio e Mahecuane, já se mostra concebido o ritmo, aliás, numa das músicas (Kodwa aswibassanga), o Feliciano enuncia a marrabenta, como estilo de música que fazia.<br /><br />De facto quem escutas as músicas de Feliciano Ngome, e Aurélio Khuwano, sente a perenidade interferente da gesta da marrabenta, o compasso, o ritmo vibrante e pulverizador ainda que abstracto e latente.<br /><br />As vibrações bem conseguidas de cordas daquelas guitarras, o ritmo sempre contagiante, a deixa das falas (do nosso saber linguístico) sempre por analisar, o fulgor, o alcance estético, o fascínio.<br /><br />Um disco que se deve ouvir e atentamente, porque numa análise ainda que não especializada, percebe-se por exemplo nas cordas do Feliciano, o traço de José Mucavele, de Eusébio Johane Tamele (sobretudo na combinação entre a guitarra e a voz), dos Gallotones (Abílio Mandlaze), da música tradicional Chope, nas lucubrações de Khuwano a marca de Xidiminguana, em Wamusse o fio do Manjacaziano Alberto Mhula, Lisboa Matavele, etc.<br /><br />O ritmo contagiante da música “Maluzano” (Aurélio Kowano e Alberto Fulani, uma dupla de se tirar o chapéu), esta Maluzano que é uma Nwahulwana (noctívaga) ou então de “Halakavuma” que conta a história do pangolim que desceu na machamba de Mbulu, Bilene, na altura sob jurisdição do Induna Mandjondjo, mesmo se sabendo que o pangolim serve de intróito, aliás nem é o regulado o tema principal, mas sim a Elisa Ntxanwane (música esta que foi interpretada pela Orquestra Djambo 70), que “ndzhaku ni ferente swo fana” (mulher sem atributos físicos de tal sorte que se confunde a parte frontal com a traseira, isto na zona da cintura para baixo.)<br /><br />Ou então a “uta rungula wamamane lekaya, que é um verdadeiro hino as guitarradas (mas sobre a temática deste disco, prometo ainda fazer um post.)<br /><br />Sempre se dirá, que vivem naquelas guitarras a nossa moçambicanidade, a nossa espontaneidade, perspectiva de progresso da nossa música, a nossa militância tanto que nação que acredita na sua cultura, a nossa feição naturalista e inspirada, nossa providência, nossas contingências, nossa força espiritual, nosso testamento filosófico.<br /><br />Temos passado sim, um passado musical igual a nós: homens de tempera rija, de perfeição concebível, de um ideal de luta imanente, de sons que suprem nossas impotências, nossas dores e misérias, nossos mitos, nossas odes.<br /><br />Aquelas guitarras, ainda que esquecidas, somos nós em ponto maior e a nossa missão hoje, é resgatá-las, para que não sejam nunca as “guitarras esquecidas de Moçambique; é mostrar que temos um passado cultural e que é preciso preservá-lo.”<br /><br />Viva a República, digo, a cultura.<br /><br />Amosse Macamo </div>amosse macamohttp://www.blogger.com/profile/05043074663401470101noreply@blogger.com17tag:blogger.com,1999:blog-8323406636377954775.post-82323247096276423172009-07-10T02:27:00.000-07:002009-07-10T02:33:28.750-07:00João Cabaço: A luminosidade de uma voz<div align="justify">João Cabaço: A luminosidade de uma voz<br /><br />Ocorreu-me o titulo de uma forma esporádica, mas que se diga, logo que me ocorreu, virou quase que uma obsessão.<br /><br />João é dono de uma voz de todas as cores belas, voz viva de um milagre real chamado vida, voz de pura escarlate, de um estatuto puramente verbal, de refinados acabamentos, do mistério da sua própria criação poética, doce e acima de tudo iluminada.<br /><br />Sim; uma voz de luz, não daquelas que ofuscam, mas peculiar, sobretudo de uma contextualidade forte, voz de transes, delírios, de concreta poesia.<br /><br />Reparem, não preciso inventar palavras, nem me confundir em vocabulário de difícil acesso para evocar esta voz porque ela se confunde com a leveza das palavras comuns da vida.<br /><br />Já ouvi João Cabaço cantando várias músicas, aliás, há pouco (e me condeno por ter sido tardio), tive que fazer um recuo ao Rabadab Zam´thaka, para ouvi-lo cantar e com o mesmo pecúlio e quiçá perceber donde vem o trato fino na voz, a luminosidade, o brio, o doce, o choro, o requinte e a soberba.<br /><br />Recentemente ouvi-o numa das estacões de televisão local cantando e com o esmero que sempre o caracterizou uma música do Fany com requintes de Jazz e blues. Trata-se da música “niwa makhombo”, que parece resumir a vida de Fany, a sua vida, a minha.<br /><br />Mas a música que me proponho a abordar hoje é a música “mamana waku”(sua mãe), uma música que para mim, merece estar no top das músicas mais bem conseguidas de sempre no pais, sim, porque nesta música, há um formidável e resoluto casamento entre o homem da cidade que se tornou o João, e o rapaz rural (do subúrbio se o preferirem) a quem José Mucavele concebeu como “mupfana wa livala”.<br /><br />De facto, estes dois personagens, não resistem, não divergem, pelo contrário; convivem, mesmo que numa série de dificuldades, como é afinal a relação entre mãe e filho. Criam uma única força, para cantar a mãe na língua que ela melhor entende, para conseguirem ajoelhar suas almas e chegar lá, lá onde vive o coração de uma mãe que ama seus filhos e os quer tornar melhores possíveis.<br /><br />De uma forma luminosamente superior, diz o João que “...mamana waku i shihiwa sha mussava oh wene Manuna mata”, como quem diz: sua mãe é a dádiva do mundo, meu caro Manuna...”<br /><br />Nesta música, João encontra nos sábios conselhos que dá a Manuna (porque ele já consegiu chegar ao coração da mãe), uma gruta para se refazer a si próprio, mostrando aos outros o valor do respeito, da humildade, do génio que sabe reconhecer o ventre gerador e renasce em belas falas para perfumar com a sua voz a simbologia da vida, do amor, do seu lugar como filho, e desperta nos outros o sentimento de questionamento; o que representa para si a sua mãe?<br /><br />Esta música, me causa sempre algumas barreiras que parecem intransponíveis, porque sinto que ainda não encontrei a posição que o João dá a sua mãe.<br /><br />É que, tenho a impressão que meu coração tem esconderijos, verdadeiras grutas onde me escondo, e, sem que eu saia de lá, será difícil senão impossível encontrar em minhas falas o lugar para a minha mãe.<br /><br />Verdade é que sempre foi difícil uma conversa entre mim e minha mãe e talvez, este seja o erro da educação de ontem, a falta de diálogo, a questão da fala que remete ao olhar no olho e descobrir outras verdades.<br /><br />Mas talvez me pareça com o João, porque acredito que em algum momento, houve uma renhida luta com ele mesmo e depois um despertar filosófico, onde, deve ter passado por todo este processo, até descobrir na canção a melhor forma de dizer as coisas à sua mãe e porque eu não tenho o dom do canto, vou-me socorrer das suas palavras e da sua linda canção para dizer que a minha mãe é a alma, a dádiva deste mundo, meu farol em noites de pranto, a mulher que tenho certeza de que manterá seus braços sempre abertos, minha direcção quando me perco, minha inspiração e mensagem de esperança até quando o mundo parece não querer me dizer nada, meu alicerce, esta dádiva e mesmo que minhas falas não o digam, meu coração sabe.<br /><br />Ode ao Cabaço, esta voz fresca, relevante, de invenção alquímica, construída não em nenhuma academia, senão, a de oralidade popular, do comum existir, onde o simples é belo, como o amor de mãe para com o filho e vice-versa.<br />Amosse Macamo<br /> </div>amosse macamohttp://www.blogger.com/profile/05043074663401470101noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-8323406636377954775.post-13008407069135511552009-05-18T04:58:00.000-07:002009-05-18T05:09:39.512-07:00Modaskavalu, Ghorwane, Gallotones, Mingas e eu<div align="justify"><span style="font-size:130%;color:#ff6600;">Modaskavalu, Ghorwane, Gallotones, Mingas...<br /></span><br />O meu amigo Custódio Duma é testemunha: não poderei sair de casa nas proximas 3 semanas.<br /><br />Diria eu, “médico cura-te a ti próprio”, porque quem criou esta condição fui eu, já me explico:<br /><br />Sexta feira sai para ver os Gallotones (Ximanganine e companhia), no lançamento do seu álbum, na AEMO.<br /><br />Na verdade ligou-me o meu amigo Hortêncio, chamando-me atenção. Lá fui a correr e cheguei a tempo de ouvir quase todas as músicas do novo álbum daquele grupo que tem como título Hanya (viva), mas sobre este, falarei no momento certo.<br /><br />Normalmente, quando saio às sextas, não posso mais sair no sábado, (família, e a questão dos créditos conjugais que não podem degenerar em débitos, quando a classe dos madlaya nhocas cresce de forma galopante), mas tinha na mente que Ghorwane iria tocar no sábado.<br /><br />Sai lançado para a AEMO e é lógico que não poderia perder a oportunidade de ver o espectáculo, comprar o disco, caçar os autógrafos, bater um papo embalado pela boa música da minha terra....<br /><br />No final do espectáculo eu e meu amigo Hortêncio ficamos a cavaquear e levamos algumas horinhas que pesam em longas horas quando se chega a casa.<br /><br />Voltei para casa e para acalmar a minha “Dilikaze”, como ousa chamar Zeburani à sua amada, comprei umas Redd´s e até consegui alisar tudo.<br /><br />E o dia seguinte.....<br />Meu Deus como dizer que voltaria a sair, no sabado?<br />Quando devia fazer aquele papel já conhecido de ajudar nos deveres de casa (arrumar a sala) e brincar com a nossa caçulinha, cantando e dançando para ela Marracuene vamu tekeli Podina de Dillon, o Nkutumula, sim, esse meu irmanito malandro, tirou-me de casa e voltei quase às 20 horas...<br /><br />E esta?<br />Bom, devo dizer que na saída que tive com o Nkutumula, fomos a tempo de apanhar um larápio que acabara de roubar e violentar um turista brasileiro e conseguimos como bem diz a nossa Polícia, “neutralizá-lo”, só não recuperamos o telefone (pena).<br /><br />Contei estas emoções à minha mulher e logicamente que ela não acreditou, mas o mais difícil vinha: informá-la que tinha de ir ver Ghorwane.<br /><br />A única forma, pensei comigo, era fazer promessas (e sou bom pagador de promessas) e fí-las, prometi dia seguinte mesmo com ressaca levar-lhe o mata-bicho na cama, arrumar a casa toda (com a casa de banho inclusa), fazer almoço e ainda visitar a mãe dela (minha sogra) e prometi mais e desta promessa me arrependo: prometi não sair nos próximas três fins de semana!<br /><br />Meu Deus!<br />Como farei me digam, como hei-de eu viver nas próximas três semanas?<br /><br />Não achem que reduzo o aconchego do meu lar e /ou pensem que não tenho amor suficiente em casa; pelo contrário: só que, na Rua d´arte, Gil, Africa Bar e alguns outros cantos desta cidade onde tocam os bons músicos da minha terra, vive o Modaskavalu, o outro “eu” e este, é preponderante para o equilíbrio emocional de Amosse Macamo, o diligente chefe de família.(ou que se quer).<br /><br />Seja como for, se minha mulher não ceder a minha cara de pena, vou ter que ficar em casa porque prometi. Far-lhe-ei os desejos porque ela merece.<br /><br />Mas sempre direi que valeu à pena ter saído neste fim de semana, porque os Ghorwane, deram um espectáculo gigante como eles e eu cantei muito, (e delirei quando cantaram u yo mussiya kwini de Pedro, Mavabye de Zeca, Txongola de Chitsondzo, Massotchua....,<br /><br />os Gallotones foram iguais a si mesmo, cantando temas que me fizeram recuar a minha colorida infância, como o Ximeliana Dzukuta e mais, no espectáculo destes, tive a oportunidade de conhecer a voz que invade os meus deuses em noites de grande meditação: a Mingas e fiquei mudo, igual aquela sensação que tínhamos em adolescência, quando colocados pela primeira vez em frente da mulher que queremos...(mas, ainda deu para falarmos de Mamani e fiquei feliz, mas muito, por saber que a Mingas tinha lido o meu texto e gostou).<br /><br />E ainda no mesmo espectáculo, pude privar com a Paulina Chiziane e ouvir os seus legítimos desabafos sobre o estágio da nossa cultura (conversa interessante esta e que prometo vos revelar aqui)<br /><br />Pude ainda, apertar à mão ao Marcelino dos Santos (e acham pouco isso? Acham? Bob Marley, quando voltou de Zimbabwe, onde fora dar um espectáculo na comemoração de independência daquele país, um grupo de jornalistas ocidentais o interpelou, para saber como fora a experiência ao que respondeu que para além do bom espectáculo, lhe foi dado uma parcela de terra. E sobre este facto, dizia Bob: “fui dado terra, por quem a libertou”. E eu digo: fui dado a mão, por quem libertou esta terra e isso não é pouco meus amigos).<br /><br />Valeu mesmo e as próximas três semanas, (meu Deus), as próximas três semanas, serão dedicados à minha família, outra parte do Modaskavalu que é preciso preservar, aliás, se tiver que vencer uma parte nesta guerra (que deve inexistir), vencerá a minha família...mas Modaskavalu......hei vakithi.<br /><br />P.S. me desculpem as gralhas neste texto, foi tirado de dentro para fora e sem cuidada revisão e se não encontrarem neste texto, o nexo causal entre ele e o Modaskavalu, não se preocupem meus amigos e nem tentem me perceber...devia neste espaço, entrar o texto que escrevi sobre João Cabaço e a música mamana waku, mas quis o maldito computador, complicar minha vida: o texto sumiu e nenhum pensamento, vai superar, ainda que defeituoso, o que tinha imprimido para escrever sobre João...raios, parece que as três semanas já começam a surtir efeito....</div>amosse macamohttp://www.blogger.com/profile/05043074663401470101noreply@blogger.com18tag:blogger.com,1999:blog-8323406636377954775.post-15939658706889603672009-04-27T02:25:00.000-07:002009-04-27T02:28:59.899-07:00Ghorwane: o Pêndulo<div align="justify">Ghorwane: o Pêndulo<br />O pêndulo é “um corpo suspenso na extremidade inferior de um fio ou vara metálica, servindo para aprumar ou realizar o movimento de vaivém”<br />O pêndulo sugere, oscilação e vibração. É na verdade a seta de tempo, que vai vagar entre o passado, o presente e o futuro.<br /><br />Ora, que pertinência tem a questão do pêndulo, quando o assunto é Ghorwane?<br />Tem toda a pertinência, isto porque Ghorwane, é este pêndulo, que sempre que o ouvimos, buscamos muito do seu e do nosso passado, embrenhamos no sonho acordado do presente e porque o rigor está sempre presente nesta banda, antevemos o seu futuro de fulgor.<br /><br />Na nossa cultura, os nossos mortos nunca partem, como sombras, nos perseguem, vivem connosco, e em algumas ocasiões, cantam e dançam connosco e Ghorwane tem este efeito evocativo, porque sabe e muito chamar seus mortos e nunca os deixar morrer… dai que, mesmo somando anos de desaparecimento do Zeca e Pedro, os mesmos sempre vivem e quinta-feira, vão sempre viver connosco e quando ouvirmos as suas músicas, não vamos chorar, vamos sim, vibrar (ideia de vibração do pêndulo), e nessa altura com certeza de termos vencido a morte, porque lembraremos o Pedro/Zeca, com alegria e com certeza de que eles vivem.<br /><br />Esta é a costela de Ghorwane, a quem Mia Couto apelidou e com um cunho certeiro de “fazedores de alegria” e não tem razão?<br /><br />Pois, a banda vai actuar na quinta-feira na Rua d’arte, numa actuação de reencontro com o seu público e de preparação de um outro espectáculo, em outras terras: Brasil.<br /><br />Então meus bons amigos, quinta-feira está marcado o encontro na Rua d’arte….. e porque não terminar evocando uma musica que serve de intróito:<br /><br /><strong>Ghorwane hewenoooo ho hoo, Ghorwane heweno ho ho<br />Na ye Zeca Alage hewene ho hooo, Ghorwane hewene<br />Na ye Pedro Langa hewene ho hoo, hewenoooo<br />Hambi na Macuacua hewneoo he he he…….</strong><br /><br />O que se segue a esta introdução é uma festa inigualável e de tamanho das nossas alegrias....</div>amosse macamohttp://www.blogger.com/profile/05043074663401470101noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8323406636377954775.post-2066647125122391862009-03-31T23:51:00.000-07:002009-04-01T06:48:21.213-07:00Mingas, a Diva<div align="justify"><strong>Mamani<br /></strong><em>Hambi no vona waku ni nyoxissa<br />Timbilu to banana loku ndzi dzimuka wene mamani<br /><br />Lava hinkwavo valanguiwike hi mbilu yanga<br />Akwaku ava lunganga mamani<br /><br />Oh hiyo io io io io<br /><br />Niza ni tsama lani ni siku lani niya tsama le<br />Nani navela ku zhulissa moya wanga mamani<br /><br />Oh hiyo io io io io<br /><br />Oh mamani<br /><br />Kassi udjula niku yini mamani<br />Swaku nienctha hikuni tsotsitela swanga nova ngwana<br />Swaku nienctha hikuni possita, swanga nova papela<br />Swaku yientcha hikuni chavissa swanga nova mpahla mamani<br /><br />Nili vona hi wene’/nili vona hi wene/nili vona hi wene mamani</em> -Mingas<br /><br /><br /><br />Mingas; a diva<br /><br />Mingas é uma voz feminina de alcance estético inigualável. Uma voz que me lembra a harmonia do voo e canto dos pássaros; sim, o encantador voo livre, sem ruídos, sem acidentes, sem tombos; deslumbrante como o último fio de luz do sol que o pássaro atravessa.<br /><br />Uma voz fresca, intima, de um existir autêntico, explicita, permanente, sólida, que sabe tirar partido de suas falas.<br /><br />Bom, dirá o amigo leitor que é muita poesia para classificar uma única voz e concordo.<br /><br />Hesitei muito para escrever sobre Mingas, pois, não reconheço em mim propriedade, para falar de uma poetisa de rigor como ela.<br /><br />Atravessam-me agora arrepios: mas porque comecei? Agora já não tem volta: devo levar esta tarefa até ao fim.<br /><br />Numa sociedade como a nossa, exageradamente simplista nas análises e nas categorizações, em que qualquer cantora é considerada e/ou se considera diva, me questiono o que será a Mingas?<br /><br />A tensão que a resposta carrega, impede-me de dizer metade do que ela seja porque, tal como nas primeiras palavras em que a tentei descrever, dirão: poesia.<br /><br />Hoje, mais do que a tentativa de dizer quem é a Mingas, escolhi uma canção de nomeação cuja carícia de voz me empolga; trata-se de mamani.<br /><br />Mamani, simboliza o eterno conflito das mães quererem mandar nos amores das suas filhas (filhos). Em mamani, Mingas questiona: o que queres que eu faça minha mãe? (<em>U djula niku yini mamani?)<br /></em><br />Este questionamento põe a descoberto, um pássaro que se quer libertar mas, ao mesmo, sente que não está pronto para o voo. É a voz de uma filha que quer contestar, mas sabe que deve ouvir a voz da razão: a voz materna.<br /><br />Este questionamento é a queda de uma gota de quem reclama o seu próprio espaço, o livre arbítrio, um visível existir que a mãe a nega, tudo porque sua filha e, logo, com dever de ouvir sua voz.<br /><br />“O que queres que eu faça mãe, porque, mesmo que encontre quem me agrada, meu coração bate quando me lembro de si (<em>hambi no vona…..)<br /><br /></em>Um dos traços mais evidentes da sociedade e época em que cresceu a Mingas (falo da sua juventude), tem a ver com a valorização extrema da figura materna que encarna(va) toda a sabedoria, experiência, uma imagem dominante do social, onde as filhas tinham pouco ou nada a dizer na escolha das suas relações afectivas.<br /><br />Mas esta mulher que Mingas retrata, já tenta, embora não contrariando, questionar esta sociedade quando diz a mãe que “chegas ao ponto de me atiçar como se fosse cão, me envias como de papel me tratasse, e me vendes, como se de roupa me tratasse!”<br /><br />Ora, não há dúvidas, que esta música é a negação da perspectiva redutora da mulher, da tendência super protectora das mães, dos postulados de extremos em nome do bem-estar dos filhos quando, muitas vezes, o bem-estar pode evocar abismo.<br /><br />O que queres que eu faça mãe, se meu coração me diz o contrário?<br /><br />Bom, esta pergunta a Mingas não a lança explicitamente, mas o seu canto, tange a isso, porque seus olhos, seu coração, seu desejo irreprimível de mulher, a indica uma direcção, quando a mãe, quer que ela vá noutra.<br /><br />Feliz ou infelizmente, grosso de mulheres da geração da Mingas, aceita todos os opróbrios ao lado de um homem que as espezinha por completo, isto porque as mães, mesmo que nessa condição, as convencem de que aqueles são seus homens, quando na verdade são os homens que as mães escolheram para elas.<br /><br />Este sentimento, está patente na música quando a Mingas, segura de si, diz a Mãe <em>Nili vona hi wene’/nili vona hi wene/nili vona hi wene mamani,</em> no sentido de que olhe o exemplo que és mãe, achas te mulher feliz? Agiu certo a sua mãe em escolher o marido para si? A sua vida de prantos demonstra o contrário, agora; como podes querer o mesmo para mim mãe?<br /><br />Mamani é um hino contra a repressividade e autoritarismo desse tempo em que as mães ordenavam e as filhas, cegamente, obedeciam numa situação que em nada que se parece com o modernismo que se vive hoje, onde o sonho, a ideia do sexo descomprometido, a ferrada romântica, a ideia de liberdade, não deixam que os pais opinem, tanto mais mandarem no amor dos filhos.<br /><br />Bom fica aqui em mamani a ideia de oscilação entre dois períodos; um de autoritarismo, mas que mantinha coeso a família, outro de liberdade que hoje se vive mas que a fragiliza.<br /><br />Mas talvez o mais importante nesta música seja a forma sofrida com que a dona a trata. De um timbre que impõe luta, Mingas vai fazendo desta, dor das demais mulheres, vai celebrando sua dor com o canto, e traída pelo sopro majestoso do Matchote não se contém e chora, mesmo que no silêncio, <em>yio, hio, yó yó yó, yo yo mamane/kasse u djula niku yini mamani</em> “o que queres que eu faça mãe?”<br /><br />Mingas é sim uma diva, uma verdadeira diva, de têmpera rija, de encanto no canto, meu rouxinol em noites sofridas.<br /><br />Amosse Macamo<br /></div><div align="justify">Arranjo do texto: Dr. Júlio Mutisse, o <span style="color:#ff0000;">Subversivo.</span> </div>amosse macamohttp://www.blogger.com/profile/05043074663401470101noreply@blogger.com36tag:blogger.com,1999:blog-8323406636377954775.post-70961993761834237022009-03-26T00:01:00.000-07:002009-03-26T00:11:14.320-07:00Impacto da Urbanização sobre as Práticas Musicais<div align="justify"><br /><br /><br />Nota: <span style="color:#ff0000;">O que se segue, é um trabalho, efectuado por um grupo de estudantes do Curso Superior de Música da Escola de Comunicação e Artes da Universidade Eduardo Mondlane e me foi entregue pela mão de Horténcio Langa (o poeta das boas essências), um dos integrantes deste grupo, denominado “Grupo 3”<br /><br />E não estranhem que assim seja, porque um dos compromissos do Modaskavalu, quanto que Blog de música, é de trazer reflexões de diversos pensadores sejam eles estrangeiros ou moçambicanos, sobre a nossa música, matéria que se sabe, pouco explorada.<br /><br />O amigo leitor, vai perceber que o texto é um bocado longo, mas não se preocupe, porque de uma escrita ágil e de um tema que é actual.<br /><br />Não mexi nada no trabalho de forma a manter a sua fidelidade. Este texto inaugura uma outra fase do Modaskavalu, que se pretende de comparticipação, de envolvência, de troca de informações, de busca de fontes sobre a nossa música.<br /><br />Deliciem-se e acima de tudo, comentem, para que os fazedores desses estudos, sintam que não fazem nenhuma travessia de deserto.<br /><br />O resto, o texto vai falar por si<br />Modaskavalu</span><br /><br /><br />Impacto da Urbanização sobre as Práticas Musicais<br /><br /><br />Abstracto<br /><br />Este trabalho foi efectuado por uma equipa de estudantes do 1o ano do Curso Superior de Música da Escola de Comunicação e Artes da Universidade Eduardo Mondlane, com o objectivo de ser apresentado em seminário no contexto da semana intercalar do calendário académico.<br /></div><div align="justify">Ele visa, sobretudo, lançar uma luz sobre as questões referentes ao fenómeno da urbanização e sua influência sobre as práticas musicais tendo como exemplos os casos ocorridos nas cidades de Maputo, Beira e Pemba, sem deixar, contudo, de referir os casos de outros países estudados por cientistas das mais diversas áreas de estudo do comportamento das sociedades.<br /></div><div align="justify">Ele teve como base fontes bibliográficas existentes. Lamentavelmente, no caso do estudo da música moçambicana, várias foram as dificuldades encontradas, devido à escassez de fontes.<br />Com este trabalho o grupo pretende:<br /><br /><br /><br /> Lançar uma luz sobre as questões referentes ao fenómeno da urbanização e sua influência sobre as práticas musicais;<br /> Fazer uma reflexão sobre as características da urbanização, suas causas e efeitos na cultura e comportamento social;<br /><br /><br /><br /><br />1. <span style="color:#ff0000;">Introdução<br /></span><br />A urbanização é um fenómeno cuja compreensão nos remete à época da formação das primeiras sociedades sedentárias e na definição de respectivos caracteres identitários como a raça, o parentesco, as afinidades religiosas e culturais, formas de produção, interesses comuns, partilha, etc… </div><div align="justify"><br />A descoberta pelos navegadores europeus do chamado Novo Mundo, nos meados Séc. XIV, ditou o estabelecimento de rotas marítimas, criando condições para trocas comerciais e tráfico de escravos bem como para uma movimentação migratória de pessoas dos diversos continentes, de diferentes culturas, crenças e estratos sociais, em busca de oportunidades nos territórios recém-descobertos. Assim, os grandes aglomerados populacionais eram constituidos por distintos micro-grupos étnicos, com as respectivas identidades e práticas culturais. Como consequência, a urbanização no novo Mundo deu-se de forma sui generis, particularmente pela mistura e sedimentação de valores culturais que, posteriormente, viriam a caracterizar, entre outros, o meio musical urbano destas novas sociedades. </div><div align="justify"><br />Falar da urbanização hoje implica falar da história da humanidade, da formação das cidades criadas em consequência do crescimento e movimentação de grupos humanos. Segundo Bruno Nettl (1930:xx), esta matéria está condicionada a novas disciplinas tais como a antropologia urbana, sociologia urbana e o planeamento urbano. A afirmação se circunscreve no facto de que o ambiente urbano determina a actividade humana e a interacção entre diferentes grupos populacionais em tudo o que diz respeito à sua condição social, cultural, professional, económica etc… </div><div align="justify"><br />A concentração de pessoas provenientes de diversas etnias e grupos culturais tem como resultado a troca de valores culturais que, por consequência, produzem uma miscigenação cultural. </div><div align="justify"><br />O presente trabalho cingir-se-á nas seguintes áreas de estudo:<br /><br /> Estudo da música urbana<br /><br /> Casos estudados<br />- Música brasileira;<br />- O soul music dos EUA;<br />- A música de Moçambique: Norte, centro e Sul<br /><br /><br /><span style="color:#ff0000;">2. Música urbana</span><br /><br />Bruno Nettl no seu artigo Musique Urbaine, refere que o termo música urbana designa a que caracteriza a cultura e correntes musicais das sociedades urbanas. A principal característica das sociedades urbanas é a sua dinâmica que consequentemente influencia as práticas culturais (2005). </div><div align="justify"><br />Esta interacção cultural resulta na adopção de valores ocidentais ou na manutenção dos géneros tradicionais com mistura dos elementos ocidentais adquiridos. Os processos em que esta interacção ocorre são variados, sobrepõem-se e são facilmente confundíveis. Um desses processos pode ser designado de ocidentalização. Na sua forma simples o conceito é usado para descrever a absorção de elementos ocidentais dentro da música, muitas vezes, em detrimento das características naturais do género… ela consiste na introdução de instrumentos, harmonias e anotação, bem como as tecnologias de gravação e de radiodifusão, o outro consiste na adopção de elementos da cultura ocidental sem, contudo, alterar os elementos essenciais da música tradicional (Nettl, 1930:10). </div><div align="justify"><br />Muller e dos Reis, (2005) afirmam que a cultura tem como características transformações graduais, diferenciação com a distância de origem e homogeneização com a proximidade social. E questionam, a dado passo, se é possível a preservação dos elementos tradicionais da cultura, apesar dos impactos provocados pela globalização...<br /><br /><span style="color:#ff0000;">2.1. O caso do Brasil<br /></span><br />Tomando a Cidade Brasileira do Rio de Janeiro, como exemplo, podemos ver reflectida a presença das culturas: ocidental, através dos colonos portugueses, e a africana, transportada pelos escravos idos do continente negro. Se bem que estas sejam marcantes, é digno de nota que outros povos aportaram a costa do território brasileiro levando consigo suas danças, sistemas musicais, instrumentos, religiões e crenças. Assim, a música brasileira é resultado de um caldeamento de vários sistemas musicais e teve a miscigenação como factor cultural da construção da sua tradição musical, forjando a coesão de elementos constitutivos da sua nacionalidade musical.<br /></div><div align="justify">Segundo Luiz Otávio Braga, “as crónicas de 1910 sobre Chiquinha Gonzaga já a ela se referiam como personagem de grande importância na evolução da música popular urbana do Brasil”. Outros estudiosos procuram demonstrar a originalidade da música carioca, primeiro, através do samba e no segundo caso, do choro (BRAGA, 1978). </div><div align="justify"><br />Carlos Sandroni refere que “o samba carioca tem inúmeras variantes, mas uma diferença especialmente importante tem sido sublinhada pelos historiadores do género entre o samba que se fez nos anos 1910 e 1920 e o que foi feito dos anos 1930 em diante. No início do século XX, quem falava de samba no Rio eram sobretudo as pessoas ligadas à comunidade de negros e mestiços emigrados da Baía, que se instalavam nos bairros próximos ao cais do porto, a Saúde, a Praça Onze, a Cidade Nova. Estas pessoas cultivavam muitas tradições da sua terra natal” (SANDRONI, 2004).<br /><br /><span style="color:#ff0000;">2.2. A música nos Estados Unidos da América<br /><br /></span>Outro exemplo digno de referência é a música Soul, dos estados Unidos da América, que nasceu durante o final dos anos 50 e início dos anos 60 entre os negros norte americanos, cujo desenvolvimento foi acelerado graças a duas tendências: a urbanização do R&B, e a secularização do gospel. </div><div align="justify"><br />Socialmente a grande audiência de adolescentes brancos que ouvia cópias ou covers brancos do R&B e sucessos do Rock, começou a demandar gravações originais dos artistas negros. Nos fins dos anos 50, este movimento originou uma busca de versões vendáveis da música, por parte dos agentes discográficos.<br /></div><div align="justify">Durante os anos 60 o soul music era popular entre negros nos Estados Unidos da América, Europa e África. Artistas do chamado Blues, “eyed Soul” (soul branco, músicos brancos que tocavam para plateias brancas). </div><div align="justify"><br />O blues é um estilo musical vocal e instrumental que evoluiu dos espirituais, cânticos e canções de trabalho afro-americanos e tem a sua raiz estilística na África Ocidental e tem exercido, actualmente, uma grande influência na música popular ocidental, com expressão no ragtime, jazz nas Big bands, Rithm &Blues, rock’n roll, na música country, na música Pop convencional e até na música clássica moderna.<br /><br />2.3. <span style="color:#ff0000;">A música urbana em Moçambique<br /></span><br />Por seu turno, em Moçambique um importante factor que favoreceu a mudança de comportamento cultural foi a migração das populações rurais para os centros urbanos bem como para as minas e plantações da República de África do Sul. Aqui, os músicos que antes usavam instrumentos artesanais, substituem-nos por outros de fabrico convencional, como a guitarra acústica, bandolim, concertina e acordeão. </div><div align="justify"><br />No meio urbano, sob governo colonial, haviam músicos populares, nativos das zonas rurais próximas das cidades, que usavam já instrumentos convencionais, que por serem uriundos do campo, praticavam uma música que se caracterizava pela manutenção do estilo genuinamente tradicional, recorrendo apenas à transposição das harmonias para uma instrumentação moderna, nalguns casos, transferindo células rítmicas dos instrumentos tradicionais, como a mbira e a timbila, para os instrumentos modernos (LANGA, 2002). </div><div align="justify"><br />Com a introdução de novas tecnologias de comunicação, a música ganhou expansão através da transmissão radiofónica e divulgação discográfica. Como exemplo podemo-nos referir à criação, no ano de 1933, do Grêmio dos Radiófilos, posteriormente transformada em Rádio Clube de Moçambique, cuja função foi bastante relevante na divulgação de gêneros musicais estrangeiros e ainda no registo fonográfico das músicas feitas por músicos locais (LANGA, 2002).<br /><br /><span style="color:#ff0000;">2.3.1. O caso de Maputo</span><br /><br />De referir que devido à sua localização a Cidade de Maputo foi a que mais se notabilizou no processo rápido de urbanização cultural e musical, e a que mais influências externas sofreu. A convergência cultural resultante da vinda de povos dos mais variados quadrantes do mundo, bem como a proximidade da República da África do Sul, foram factores que muito contribuíram para o efeito. Importa ainda dizer que os compounds foram um lugar de interecção cultural que favoreceram o florescimento da miscigenação cultural musical.<br /></div><div align="justify">A baixa da cidade, zona ferro-portuária freqüentada por prostitutas e marinheiros, estivadores e boêmios, representava a vida nocturna e é lá onde se assiste ao surgimento de “... uma classe de músicos profissionais versáteis, habilitados no acompanhamento de conçonetistas e bailados. Aprendendo e adestrando-se com músicos vindos das mais diversas partes do mundo.” ibid<br /><br />A sungura, vulgarmente denominada xingwerengwe, foi um gênero musical fundamentalmente executado nas zonas suburbanas e rurais, tendo a zonas periurbana e urbana adoptado preferencialmente gêneros de influência latino americanos, norte americanos e europeus tais como o soul music, o baião, o samba, a rumba, apenas para referir alguns exemplos dos vários estilos cuja influência se fez sentir nos meios artísticos moçambicanos.<br /></div><div align="justify">Hortêncio Langa no seu artigo “desenvolvimento do panorama musical em Moçambique” afirma que as associações culturais e recreativas, bem como os clubes desportivos tiveram um papel extremamente importante na preservação de uma cultura popular isenta, incentivando e promovendo a música, a dança, o teatro e o desporto no seio das colectividades, contribuindo assim (...) para a formação da identidade e consciência nacionalista (2002).<br /><br /><br /><br /><span style="color:#ff0000;">2.3.2. O caso de Pemba</span><br /><br />A Cidade de Pemba, na província de Cabo Delgado no Norte do pais, é constituída por quatro principais grupos étnicos, sendo eles Macuas, Macondes, Muani e Màkwe, pode ser tomada como mais um exemplo do processo de urbanização. Aqui, assiste-se à convergência de vários segmentos destas etnias, devido à guerra, a factores climáticos e ainda à atracção exercida pelas actividades económicas (portuária ou pesqueira). Neste seu êxodo para a cidade estes grupos transportaram as características próprias da sua cultura de origem.<br /></div><div align="justify">O litoral da província de Cabo Delgado é, predominantemente de influência árabe nos usos e costumes e na prática da religião muçulmana. Assim, a interecção entre estas culturas do interland e a cultura de origem árabe e ocidental prevalecentes na cidade, originaram uma fusão cultural. Por exemplo, a dança tufo, que era inicialmente praticada por homens em cerimónias religiosas denominadas “maulide”, festejos do 6º mês do nascimento do profeta, ou no ritual da saída dos jovens dos ritos de iniciação, ou ainda em cerimónias nupciais religiosas “chuo”, passa a ser praticada por ambos os sexos. No período da Luta de Libertação Nacional, e no pós-independência, foi também usada como canção de mobilização popular.</div><div align="justify"><br />Na zona planáltica de Mueda, encontramos a dança mapico, que em tempos mais recuados o lipico (dançarino) era preparado com antecedência de uma semana após o que voltava a subir ao palco sem o conhecimento de outras pessoas. O lipico era considerado um ser místico vindo das montanhas e só podia ser representado por um homem que tivesse passado pelos ritos de iniciação e com uma coreografia natural. Actualmente, o mapico perdeu o seu significado mítico, chegando até, a sua instrumentação e ritmo a serem integrados em canções e música urbanas e a sua dança a ser praticada por todos. </div><div align="justify"><br />Em Pemba, a dança niketche, da região sul, é também um exemplo que mostra ter perdido o seu rigor. Os jovens tendem a moderniza-la com acompanhamento de intrumentos de origem ocidental, resultando daí uma autêntica fusão.<br /><br /><span style="color:#ff0000;">2.3.3. O caso da Cidade da Beira</span><br /><br />Localizada na província de Sofala, a Cidade da Beira cujas populações são predominantemente das etnias Sena e Ndau que, movidos por factores socio-políticos e económicos, entre outros, viram-se obrigados a abandonar o seu meio rural em busca de melhores condições de vida nas cidades e vilas, levando consigo todo o seu repertório definido por hábitos e costumes característicos do seu meio.<br /></div><div align="justify">Para uma melhor compreensão daquilo que são os resultados do processo da urbanização, no modo de fazer a arte musical naquela cidade, tomamos como exemplo dois estilos musicais tradicionais: a mandoa praticada pela etnia Ndau e o Utse, pela etnia Sena. </div><div align="justify"><br />A mandoa é, no seu contexto social, praticada normalmente no mês de Julho depois da colheita. E é caracterizada pelo uso de instrumentos tipicamente tradicionais como a marimba, a gocha, os batuques e apitos, sendo este último o que guia a troca de pares no acto de dança. A indumentária consiste no uso de capulanas por parte dos homens e, das mulheres o uso de qualquer roupa indispensável para dar uma estrutura sólida à dança. </div><div align="justify"> </div><div align="justify">Todo este conjunto de atributos caracteriza a mandoa original da região povoada por esta etnia. Hoje pode-se ouvir na mandoa executada por jovens músicos beirenses, elementos significativos que constituem as bases que sustentam a sua originalidade. Deste modo, sem contudo perder o seu sabor, ela tende a ser requintada, com a substituição dos seus instrumentos artesanais por convencionais, com vista a torna-la mais moderna e capaz de responder as exigências do mundo cultural urbano.<br /></div><div align="justify">Outro exemplo é a Utse. Esta é tocada e dançada maioritariamente por mulheres jovens. Os homens ficam encarregues do manejo dos instrumentos acompanhantes, (sendo, por vezes, manejados pelas mulheres). A indumentária dos praticantes é constituída por capulanas de chita para as mulheres, e saias de folha de palmeiras ou de bananeiras para os homens. Ela é tocada em grandes celebrações cerimoniais, servindo de suporte ao ritual. Porém, hoje ela é também executada nas zonas urbanas, num contexto social diferente com utilização de instrumentos convencionais, não escapando assim às consequências impostas pelo processo de urbanização.<br /><br /><span style="color:#ff6666;">3. Conclusão</span><br /><br />Nos nossos dias, a cidade tornou-se num entreposto de troca de saberes, ideias e padrões comportamentais que sumarizam identidades dentro da aldeia global em que o mundo se transformou, pela utilização de tecnologias avançadas de comunição que permitem estabelecer contactos imediatos e directos com realidades e práticas culturais entre povos e pessoas distantes. Por ser, a cidade, uma unidade populacional caracterizada por um contacto constante e activo entre pessoas de diferentes culturas e estratos sociais, segundo Muller e Reis, (2005) “é possível encontrar influências resultantes destes intercâmbios culturais, que, por vezes, levam ao esquecimento das práticas tradicionais provocando, consequentemente, um progressivo desaparecimento dos aspectos fundamentais dos valores culturais” </div><div align="justify"><br />Todavia, da bibliografia consultada, e do que é comummente conhecido, o grupo constatou não haver, até hoje, dados evidentes de que povo algum tenha sido sujeito a um processo de assimilação cultural acabado e definitivo, por via da colonização ou por qualquer outra via. Assim, considerando que a cultura não é motivada por factores biológicos e que os seus caracteres identitários são elementos de valor espiritual que determinam no ser humano a predisposição natural de os preservar como tradição, concluiu que o ser humano é, simultâneamente, criador e fiel-depositário da memória colectiva que comporta o seu “Ser” cultural que deve ser transmitida de geração em geração. </div><div align="justify"> </div><div align="justify">Esta constatação do grupo encontra suporte em Jung o qual presume que os elementos estruturantes da psique são motivos míticos “que correspondem a elementos estruturantes colectivos da psique humana em geral e, tal como os elementos morfológicos do corpo humano, são herdadas.” Tais elementos estruturais psíquicos exigem a presunção duma reemergência “autóctone.” (PATAI, 1972).<br /></div><div align="justify">Se bem que as novas tecnologias sejam instrumentos de difusão massiva de culturas alheias, ou de uma massificação globalizante dessas culturas, por outro lado, são também instrumentos extremamente úteis na recolha, preservação e difusão das culturas que, no espaço e no tempo se manterão como marcos indeléveis da identidade dos povos.<br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><span style="color:#ff0000;">4. Bibliografia</span><br /><br /><br />BRAGA, Luís<br />1910 “Música Urbana no Rio de Janeiro entre 1930 e o final do estado novo”<br /><br />HACALIZE, Domingos et alii<br />2005 Canção, dança e instrumentos de música tradicional<br />Nos Distritos de Búzi, Dondo e Marromeu. Província de Sofala<br />Casa da Cultura da Beira<br /><br />LANGA, Hortêncio<br />2002 “Desenvolvimento do panorama musical em Moçambi<br />que” Lusografias Imprensa Universitária. pp125 - 132<br /><br />MULLER E DOS REIS<br />2005 Revista Ágora - www.fes.br/revistas/agora/ojs/ - Campo Grande, v.1 n.4.Página 1<br /><br />NETTL, Bruno<br />2005 “Musique Urbaine” in Musiques: Une encyclopedie<br />Poor le XXIe siécle. Musiques et cultures (3) 593-611<br /><br />SANDRONI, Carlos<br />2003 “Transformação do samba carioca no séc. XX”. Textos do Brasil – Música popular brasileira no 11 pp 78-83<br /><br />PATAI, Raphael<br />O Mito e o Homem Moderno, Editora Cultrix, São Paulo p 31<br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />Maputo, 2006-10-04 </div>amosse macamohttp://www.blogger.com/profile/05043074663401470101noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8323406636377954775.post-49753896238532474562009-03-24T01:06:00.000-07:002009-03-24T03:03:44.566-07:00Modaskavalu faz hoje 1 ano<div align="justify"><span style="color:#009900;"></span><br /><span style="color:#ff0000;">Modaskavalu faz hoje 1 ano e seu autor 32 anos</span><br />Quando Mahecuane e Fany, gravaram em 1955 a melódica e estonteante música modaskavalu, por sinal nome do Blog, podem tê-lo feito na espontaneidade e neura que lhes caracterizava, mas, o que não podiam calcular, é que, volvidos 54 anos, a música, mantivesse o mesmo sabor e encanto.<br /><br />De facto, a música modaskavalu recusa-se a decadência em massa da nação cultural, e é este, o espírito do blog, que é de trazer o sentimento de imortalidade dos nossos lídimos sabores musicais, traduzir a voz dos seus fazedores, vasculhando-lhes os sentimentos, o interesse social, a faceta poética, a beleza e estilo da sua composição, dor, alegria, sofrimento; a verdade humana.<br /><br />Assim, Modaskavalu é uma compensação para as minhas dores. Dores de toda a babel de sonoridades inexpressivas que nos invadem diariamente, na rádio, televisão, na rua e mesmo quando dormimos.<br /><br />Hoje, o blog, faz hoje 1 ano de vida, idem, para o seu autor, que faz, 32 anos, os dois nascemos no dia 24 de Marco.<br />Ora, não seria de bom alvitre, que os dois, não viéssemos aqui, neste baile, onde sempre dançamos a boa música com os bons amigos, para juntos festejarmos.<br /><br />Nesta altura, que o tempo me escasseia e mesmo assim, não pude evitar passar por aqui, para celebrar convosco, meus bons amigos do Modaskavalu, (que quando o tempo, permitir, farei a questão, de trazer o nome de cada), e dizer obrigado, por vocês estarem sempre ai, e sempre dispostos, a darem pouco do vosso precioso tempo para o Modaskavalu.<br /><br />O meu eterno Khanimambo. </div>amosse macamohttp://www.blogger.com/profile/05043074663401470101noreply@blogger.com16tag:blogger.com,1999:blog-8323406636377954775.post-35343134463002519862009-03-10T02:27:00.000-07:002009-03-18T06:21:51.424-07:00Crónicas de Alexandre Langa: Madlaya Nhoca<div align="justify"><br /><strong><span style="color:#990000;">Madlaya Nhoca<br /><br /></span>Mamani nishi khumile mina<br />Hiwo nengue lowu<br />Mayo nishi kumile mina<br />Hiwo nengue lowu<br /><br />Ungama kuma madoda mayetlele unga ma pfucha wena<br />Haikhona<br /><br />Loku ndzi fulela a ti hindlo vale nima dlaya nhoca<br />Nitaze nissukela amissava mina nandzo hlupheka<br /><br />Mamani nishi kumile mina/may vavo nishi kumile mima/nyandayeyo nishi kumile mina<br /><br />Aku heleliwa hi bonance vali nima dlaya nhoca (…) – Alexandre Langa<br /></strong><br /><br /><br />Alexandre Langa é um exímio tocador de sino do nosso país. Com suas músicas, sempre soube tocar no mais saboroso e lídimo sabor moçambicano.<br /><br />Não é por acaso que já foi arranjista das músicas do mestre Fany. Isso para dizer que só alguém com mentalidade de Rei, para assessorar o Rei.<br /><br />Cresci a ouvir suas músicas e mais, histórias de vida que jamais se apagarão da minha memória. A que hoje vos vou transmitir é fruto desse tempo passado, que teima em assombrar o meu presente; e ainda bem que é assim.<br /><br />Conta-se que os Régulos de ontem eram verdadeiras autoridades, aliás, só o <em>Induna</em> (Regente), o que em termos de hierarquia vinha logo abaixo do Régulo era uma verdadeira autoridade (quem conheceu o <em>Induna Hubu Hubu</em> de Chibuto, sabe do que falo).<br /><br />Dizia que os Régulos de ontem eram verdadeiros conhecedores das suas gentes, da sua terra, dos costumes, tradições; autênticos pacificadores, a quem importava, acima de tudo, a concórdia do seu povo e a manutenção dos bons costumes e das boas práticas sociais. Logicamente que tinham seus erros, porque humanos.<br /><br />No tempo para o qual recuo, os homens passavam entre um ano/ano e meio nas minas e suas mulheres eram deixadas atrás. Vale a pena observar que o adultério naquela altura, não andava em voga como anda hoje; não que não existisse, mas era raro, porque a sociedade era vigilante e severa contra esta prática.<br />Ora, perante este cenário, como se arranjavam as mulheres, nas suas necessidades e reconhecendo-lhes a fragilidade própria dos Homens?<br /><br />Porque a família naquele tempo era um instituto a preservar, e para que esta não se corrompesse ou corresse o risco, isto pela ausência dos maridos, o Régulo adoptava esquemas próprios, para manter a sua comunidade em convivência sã e pacífica.<br /><br />O Régulo tinha seus infiltrados em todas as áreas e, às massungukhatis incumbia, fazer o controlo cerrado das esposas dos homens que estavam nas minas, escutando-lhes as dificuldades, os anseios e, quando se apercebessem que uma, duas ou mais mulheres andavam com os nervos à flor da pele, com intrigas desnecessárias, sempre nervosa e com dores de cabeça típicas, tratavam de comunicar ao Induna e este por sua vez ao Régulo que tinha a missão de mandar um homem para a casa daquela (s) mulher (es) para matar a cobra (<em>dlaya nhoca</em>).<br /><br />Este homem ia lá no final do dia e matava de facto a cobra (vá lá a mulher ser picada por uma cobra enquanto há homens para matá-la?) e dia seguinte a mulher que andava com nervos à flor da pele, irritadiça e tudo, já estava toda sorridente e já não era foco de tensões.<br /><br />Nasceu daí a expressão <em>madlaya nhoca</em>, para designar aqueles homens que não iam às minas da África do Sul, lugar onde era reservado a homens viris, para, em terra, ficarem a resolver os problemas fisiológicos das mulheres e mais.<br /><br />Na verdade, o termo <em>madlaya nhoca</em> (o que mata a cobra) era pejorativo, isto porque, estes homens eram tidos como fracos e, ao mesmo tempo, invejados pelos magaizas que no fundo sabiam que qualquer um deles podia ter passado pelas suas casas, com pretexto de matar a cobra.<br /><br />Mas se engana quem pense que o <em>madlaya nhoca</em> poderia ser qualquer, pois, estes, eram criteriosamente seleccionados, de tal sorte que não se aceitava, que este, depois de matar a cobra o revelasse a alguém: era um segredo, que deveria levar a cova, isto porque as mulheres tinham seus maridos e, na verdade, o Régulo, com aquela medida, matava um mal maior com o menor (não enveredasse a mulher por esquemas de adultério, quando por algum esquema oficial a podiam oferecer uma espécie de brinquedo, para satisfazer as suas faltas).<br /><br />Eram, na verdade, esquemas que garantiam uma certa tranquilidade social, uma estabilidade no lar, um arranjo que ante a fragilidade humana, pedia um meio-termo.<br /><br />E o Alexandre canta esta realidade; na verdade, diz que só pelo facto de ter caducado o seu visto de trabalho (bonanci) “<em>vali nima dlaya nhoca</em>”, o rotulam de “<em>madlaya nhoca</em>.”<br /><br />Reivindica o Alexandre, o estatuto de homem, pois, a sociedade naquele tempo, tinha no mineiro, o homem típico, onde o resto, não passava de resto.<br /><br />É só lembrar uma música que andava em voga e o amigo leitor deve se lembrar que dizia<strong>”awu yanga djoni bavo/ yi-ó, utsamela ku hala makoko /yi-ó”</strong> (não foste a África do Sul, para ficar a raspar a codea na panela). Fica aqui claro, a ideia que se tinha do homem que não ia as minas.<br /><br />Mas os homens que ficavam em terra tinham a sua importância, tinham a sua tarefa e contributos reais na sociedade.<br /><br />Vezes sem conta, eram os mesmos que arranjavam as coberturas das palhotas <em>(loku nifulela a ti hindlo vali nima dlaya nhoca</em>), alimentavam com histórias mirabolantes os filhos dos magaizas, povoavam seus imaginários com contos das terras onde seus pais estavam a trabalhar, resolviam os desafios reais do momento, e, meia volta, eram tidos como <em>madlaya nhocas</em>, até, na inevitável situação em que o homem não mais podia retornar as minas, porque caducado o seu visto de trabalho (<em>ni heleliwa e bonanci vali nima dlaya nhoca).<br /><br /></em>Num gesto de desespero remata e quase a finalizar que “acabarei partindo desta terra a sofrer” (<em>n’taze nissukela a missava na no hlupheka</em>); o que hei-de ver por andar minha mãe, o que hei-de ver por ter nascido/por viver (…<em>mamani nishi kumile mina/hiwo nengue lowu…).<br /><br /></em>Alexandre nega, com esta música, a perspectiva redutora de que o homem que não ia as minas, não era homem e se homem, um <em>madlaya nhoca</em>, desprezível a quem era incumbido resolver nenhures.<br /><br />Mas mesmo <em>madlaya nhocas</em>, estes, tinham ou não a sua função social? Era de todo desprezível o trabalho que faziam? Até que ponto, aqueles contribuíram para a estabilização dos lares dos magaizas?<br /><br />Mais que respostas, apenas questionamentos, porque vale a pena questionar até aonde não se deve.<br /><br />E mesmo a terminar, porquê não chamar uma outra música de Alexandre que em tempos virou hino não dos madlaya nhocas, mas de magaizas:<br /><br /><strong>Vali nimu djoni djoni mina<br />Hi ndlala hingaku rhuma djoni bava hi ndlala<br />Vani tchula nima vitu/hi nldala hingaku rhuma djoni bava hi ndlala<br />A djoni aniku lavanga/hi ndlala hi ngaku rhuma djoni bava</strong>…<br /><br />Como quem diz: não quis ir as minas, a fome é que me obrigou…rotulam-me, dão-me nomes (mamparra magaiza, mafundha djoni, um djoni djoni), mas a fome é que me obriga a ir à África do Sul.<br /><br />Deve o amigo leitor, perceber que o magaiza, não tinha grandes escolhas e mesmo que essas significassem deixar por trás a família e esposa com todos os riscos, principalmente dos <em>madlaya nhocas.<br /></em><br />Amosse Macamo/arranjo de texto do Dr. Julio Mutisse </div>amosse macamohttp://www.blogger.com/profile/05043074663401470101noreply@blogger.com23tag:blogger.com,1999:blog-8323406636377954775.post-81394054084240308422009-02-24T22:56:00.000-08:002009-03-09T00:11:30.683-07:00Hortencio Langa, o poeta das boas essencias<div align="justify"><span style="color:#ff6666;">Kudakabanda, um disco que deve ser reeditado.<br /><br /></span>Admiro a autenticidade dos fazedores da boa música moçambicana. Cada executor tem a sua linha. É lógico, que esta se encontre algumas vezes com a linha de um outro, mas, mais distancia-se do que encontrar-se.<br />É só pegar, a linha de execução de José Guimarães por exemplo, é uma linha única e é isto, que faz dele o excelente executor que é, e o torna diferente dos demais, embora se possa encontrar algumas linhas comuns, com alguns artistas, exemplo da música “<strong>masseve</strong>”, que se confunde com a música “<strong>ho hanha kuti vonela</strong>” de José Barata.<br />Hortêncio Langa tem também a sua linha característica, uma fórmula única, uma forma musical difusa, marcada não só por estilos nacionais, como a fuga para o jazz e mais outros estilos internacionais. Costumo chamar o Hortêncio Langa, de poeta da vigília e de boas essências.<br />De vigília, porque sempre lúcido, sempre acordado para a intensa actividade que é a vida artística, aberto a novas tendências, sem contudo se desviar da sua linha.<br />De boas essências, porque, a sua música é perfumada por falas tão doces e leves cujo trato, lhe segue José Barata.<br />Sim, estes homens têm um verbo poderoso e leve, têm claro, formas de execução diversos, mas planos estéticos idênticos.<br />Eles cantam suas letras e melodias, como se estivessem a descarregar, constantemente a música de algum peso que a sufoque. Como se escolhessem as palavras que compõe as letras pela sua beleza e não pelo significado.<br />Hortêncio sabe lapidar suas canções, sabe analisar o social com um toque de classe, concretiza seus temas com uma execução rítmica própria de quem conhece a escala.<br />Semana passada, despertado pelo encontro do acaso que tive no Gil Vicente com ele, decidi rebuscar suas músicas.<br /><strong>Kudakabanda</strong>, foi a primeira música que ouvi e que se diga, a riqueza multiforme de melodias ali exploradas, levou a necessidade de ouvir o álbum todo e surpreendi-me:<br />Hortêncio fez no <strong>Kudakabanda</strong>, um álbum futurista.<br />Aquando do lançamento do álbum, e talvez influenciado pela fraca capacidade de análise, não encontrei, o peso estético que esperava encontrar do Langa, isto porque naquela altura, interessava-me apenas ouvir e não analisar e alisar. Não achei o álbum tão forte, como a personalidade do seu criador.<br />Mas o tempo, este nivelador, me provou o contrário; <strong>Kudakabanda</strong> é um álbum e tanto, é uma frescura de palavras ditas com maturação de um homem que aprende progressivamente, é uma mescla de sons marcados pela perfeição.<br />O desafio maior e certamente o mais estimulante no álbum situa-se nas letras do Hortêncio que constituem um infinito jogo de palavras que se espelham reciprocamente.<br />Rompe no seu cantar com o tradicional e com os seus próprios limites tradicionais e sob uma bandeira de poetização do seu discurso, vai construindo letras leves reveladoras de um certo nível de investigação literária, o que não é de estranhar, pois Hortêncio é também para além de músico, poeta confesso e com obra no mercado.<br />No entanto, não se trata de um discurso preocupado somente com os níveis estéticos, pois, há nas suas letras, outras verdades que devem ser descobertas, como quando diz na música Gha Tchotchovolo que ….<strong>swaku phuza niku gha tchotchovolo/kambe mundzuku ka siku loku ni pfukile/ni yinguela vanana vani kombela shinkwa/pawa. Shiriloooo</strong> (a mania de beber até cair quando no dia seguinte ao acordar ouve as crianças a pedirem pão e são prantos.<br />Quantos de nós nos revemos nesta música e se não, quantos amigos e familiares que conhecemos, que tem essa mania de esticarem o máximo, (bebendo até cair de costas) quando sabem que em casa falta até pão.<br />Outro factor é o arranjo desta música e honestamente, se tivéssemos no país, um top 10 das músicas mais bem produzidas, esta havia de constar.<br />Ou quando diz numa outra música que “…<strong>é preciso encher de mundos, esses olhos ocos/que flutuam perdidos na cegueira do pensamento (…)<br />É preciso espantar a morte/sacudir os vendavais/abortar a fome na terra grávida/terra grávida de 12 meses/ e mãe por mil vezes,”</strong>quanta poesia aqui existe? Quantas verdades ditas em duas palavras apenas?<br />Esta, é sim, a face poética do Langa a que fazia referência acima, poesia que se pode sentir e viver na música que dedica a cidade das acácias, onde diz entre outras palavras que “<strong>Maputo.cidade, como tu não há/com toda vaidade…/cidade surpresa/quem não te quer cantar/se tua beleza tem tudo para encantar</strong> (…), é a leveza das palavras a que me referia, que fazem do Langa, o poeta das boas essências.<br />Segunda-feira, aproveitei e dei um giro nas prateleiras das nossas discotecas e não achei sequer um disco de Hortencio, contudo, a admiração que causa este disco, sempre que é tocado, o menor número de tiragem que teve, a poesia e beleza das músicas, o arranjo fino que deveria inspirar as novas gerações, o som leve e sempre a desaguar no mar da verdadeira canção, leva-me a concluir que o Kudakabanda, deveria ser reeditado, talvez, aditando-lhe umas duas novas músicas, o que não sufocaria o disco, se levarmos em conta, que tem apenas 8 faixas.<br />Está agora lançado o desafio e espero que o Hortencio me responda e com uma resposta única: reeditar o Kudakabanda.<br />Então ó poeta da vigília e das boas essências: sai ou não o Kudakabanda?<br />Amosse Macamo </div>amosse macamohttp://www.blogger.com/profile/05043074663401470101noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-8323406636377954775.post-65698779086819682522009-02-23T00:09:00.000-08:002009-02-27T01:39:54.712-08:00Ghorwane: quem é rei nunca perde a majestade<div align="justify"><strong>Ghorwane: uma vez rei, sempre rei</strong><br /><br />Foi uma noite inspirada, uma noite de liberdade, de aventura, de volta, com melodias que proporcionaram aos presentes uma espécie de embriaguez prenhe de entusiasmo e fervor.<br />É que, não víamos Ghorwane a actuar já faz um tempo, pelo que antes do reencontro com a banda, o receio tomou conta de todos nós, onde não podíamos deixar de questionar, que Ghorwane nos esperava naquela noite?<br />Os que chegaram cedo, devem ter se apercebido, logo na primeira musica que Ghorwane, continuava a mesma banda de sempre, e que, as longas ausências no palco, só trazem, mais magia, mas espontaneidade, mas vibratilidade, mais profissionalismo, sim, Ghorwane confirmou que quem já foi Rei, nunca perde a majestade.<br />Infelizmente, não cheguei a hora marcada para o concerto, pelo que escusado falar do que não vi e pelos outros. Na verdade, cheguei as 23 e 10 no momento em que a banda tocava a música Massotchua de Zeca Alage.<br /><br /><strong>Insólito<br /></strong>Não é normal em Moçambique a lotação de um espectáculo esgotar. Mas, o de Ghorwane esgotou.<br />Encontramos na entrada uma multidão de pessoas de certa forma revoltadas e desoladas, isto porque, não mais podiam entrar, porque os bilhetes estavam esgotados; “isto não pode estar a acontecer”, pensei comigo.<br />Sorte e fruto de conspiração dos Deuses da arte (sei que existem), um casal de 4 pares, ia desistir de entrar, justamente porque contavam comprar bilhetes para o segundo par no espectáculo. O outro par já tinha os bilhetes e foram esses que comprei para poder partilhar convosco estes bocados.<br />Mesmo com os bilhetes na mão, a equipe do protocolo, não mais nos queria deixar entrar, porque casa esgotada, contudo, valeu o bom senso do chefe do protocolo que desbloqueou os caminhos para a nossa entrada. </div><div align="justify">ouvia-se nesse instante Massotchua; eram 23 e 10.<br /><br /><strong>O espectáculo<br /></strong>A Banda Ghorwane, mostrou que não só trabalha com os instrumentos, como têm vontade de os dominar e submeter; sim, no sentido de os instrumentos fazerem exactamente, o que eles querem.<br />De fora, parecia estar a ouvir um disco a tocar, tive, de entrar na estreita Rua de Arte, que ficou mais estreita no sábado, para confirmar: é a banda a tocar.<br />Instantes depois, de massotchua, seguiu-se <strong>Majurragenta</strong> e no fim as pessoas gritavam bis; então podemos acabar com o espectáculo? Questionava o Chitsondzo.<br />Um não fervoroso e sofrido foi ouvido. Então porquê pedem bis, enquanto ainda estamos a cantar e vamos trazer mais canções?<br />O pedido de bis, surgiu porque, o David Macuácua, sabe ser e não ser quando canta <strong>Majurragenta</strong>, já me explico:<br />Macuácua, quando canta esta música, sai de si, para dar ao seu corpo, a alma de Zeca Alage e meia volta, desperta num esforço inconsciente onde ele mesmo, dá o seu cunho a música: sublime!<br />Por isso o bis, mas, vibraria mais o público com a música <strong>Xai-Xai</strong> bem alicerçado por um saxofonista de têmpera rija, que entre sustenidos, ia-nos levando numa viagem de canoa e em águas límpidas, para uma terra que viu nascer estrelas: Xai.Xai.<br />O facto de ter chegado tarde ao espectáculo, trouxe-me receios fundados: não sabia quantas músicas tinha perdido, e se as músicas perdidas eram aquelas porque tanto ansiava ouvir.<br /><strong>Uyo mussiya kwini</strong> de Pedro Langa, era uma das músicas que espera ouvir e foi, a música à seguir a Xai-Xai.<br />Em tal imaginário, fui buscar Pedro Langa na voz do Roberto Chitsondzo e percorri distâncias conhecidas e desconhecidas: sim, a da vida e da morte.<br />Viajei distâncias numa canoa de sons executados com totalidade. Sim, numa completude e perfeição que não me deixou, mais pensar na morte, senão, na celebração da vida e por uns instantes, ressuscitei o Pedro Langa.<br />Vana Va Ndota foi a música que se seguiu e com ela, seguiu-se também o delírio, pois, a banda, numa interacção com o público, fazia um brake e quem ficava Ghorwane éramos nós o público.<br />Esta música, carrega também consigo algumas mortes que não consigo matar, como diria a minha amiga Nyabetse: as minhas mortes.<br />Veio a seguir, <strong>Beijinho</strong> e fiquei extasiado e ao mesmo, com receios de que aquela fosse a última música da noite. Ao meu lado, desfilava um grupo de estrangeiros, que se diga moças lindas a quem dediquei o <strong>my kisse’s your kisse’s honey</strong>, tive depois que explicar que era casado.<br />O Macuacua falou depois que, aquele era o espectáculo de abertura e que seguir-se-iam, muitos outros. E porque entendi, que aquele era uma espécie de mensagem de despedida, eu e os Matines (Jorge e Eduardo), gritamos por mais cinco músicas.<br />Veio <strong>a Ku hanha</strong> para fechar a noite.<br /><br /><strong>E no final?<br /></strong>Veio a frustração do espectáculo ter que terminar, o delírio e a apoteose, a lembrança de um tempo que se tornou realidade, a saudade contraditória e paradoxal, a identidade, o orgulho de ter ainda referências.<br />O concerto, foi como que uma devolução da auto-estima, de identidade perdida em noites do nada fazendo só kahtla, foi assim bem interpretado o momento, pelo próprio Xitsondzo que disse ser aquele, uma forma de isolar a mediocridade, um apelo, forte de fixação e enraizamento.<br />A ideia final é a de que o espectáculo soube a pouco, porque queríamos mais, mais e mais. Mas, é como diz o poeta de Ndavene que “<strong>xicafo xau lombe va kampfula na shaha lombela”<br /><br />Curioso<br /></strong>Não vi fixado em qualquer parede da rua de arte e/ou palco, algum dístico de patrocínio do espectáculo de Gorwane, o que me fez, pressupor, que aquele, era fruto do esforço próprio do grupo.<br />Na verdade, esta informação acabou sendo confirmada por David Macuacua numa conversa telefónica que tive com ele no Domingo.<br /><br /><strong>Trechos da conversa com Macuacua</strong><br />Liguei para o felicitar do majestoso espectáculo, mas também, para reclamar do lugar escolhido para o show de inicio do ano.<br />Macuacua, na sua característica fala mansa, explicou-me primeiro que o espectáculo, era fruto do esforço próprio da banda, e aquela casa, (Rua de Arte) tinha sido, a que se abriu ao espectáculo de Ghorwane.<br />Explicou-me que o grupo tinha de começar por algum sítio, (valeu a pena naquele espaco, que em nenhum) , para além de que, se pretendia com aquele espectáculo, medir a verdadeira temperatura entre o grupo e público.<br />Explicou-me ainda que o grupo era contra aos pedidos. Não que não precise de apoio, mas, não deixariam de existir e actuar, só porque os seus espectáculos não eram patrocinados e o ultimo sábado, foi o exemplo.<br />No fim, era eu a desculpar-me, porque tem coisas que quem está por fora, não pode compreender.<br />E é difícil compreender que um grupo da dimensão de Ghorwane enfrenta algumas faltas, dificuldades.<br />Houve superior mestria e perfeição na Rua de Arte sim meus senhores.<br /><br />Amosse Macamo<br /><strong>P.S</strong>. minhas desculpas a Ximbitane, que liguei para ela na madrugada, confiando que estivesse na Rua de Arte…desculpas mana, por te acordar tão tarde ,mas perdeste sabes? </div>amosse macamohttp://www.blogger.com/profile/05043074663401470101noreply@blogger.com9