quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Wazimbo, o nyànyànà

Wazimbo, o nyànyànà

Neste mês de Nhlàngùlà(Outubro), vos trago o canto do legítimo pássaro da minha terra Chibuto: Wazimbo.

Mas antes disso, deixem-me traduzir nyànyànà, para quem não fala changana: nyànyànà, significa em changana pássaro. Bom, ao entrarmos no campo do Português, (se bem que em changana também podemos encontrar esta conotação) quando se fala de pássaro além da ideia ave pequena, surge a de homem astuto e manhoso.

Longe de mim querer trazer estes termos para classificar o Wazimbo. É para mim pássaro, por duas ideias fundamentais: primeiro pela sua bela, doce e inegualável voz e, segundo pela capacidade que tem de ascender

Wazimbo tem uma voz com um traçado geométrico forte, voz de exigência concreta de um milagre chamado canto. Se Wazimbo não fosse cantor, seria cantor. Se não cantasse cantava. Isto, porque dono de uma voz que não permite outro ofício senão o canto. Diria o mesmo de Djecko Maria, do Dua Maciel, do João Cabaço, de Arão Litsure, Hortêncio Langa, de Gabriel Chihau, de Zeburane, ha Zeburane este rouxinol de Ntxanwane.

Mas bom, voltemos ao Wazimbo e ao fulgor que é sua voz; uma voz como disse acima não permite outro ofício, senão cantar. (ainda sonho com o dia em que o artista moçambicano, terá na sua arte a profissão).

A voz do Wazimbo refaz histórias que me foram contadas na infáncia, faz me voltar ao paraiso rural que é minha terra Chibuto, a sua voz, se distingue porque é concreta e canta uma terra concreta: Moçambique.

Convido-vos uma vez mais a ideia de nyànyànà, para um pequeno exercício de reflexão: certamente que o pássaro tem emoções não? Certamente que no seu voo tropeça, cansa-se, certo?

E agora o questionamento: alguma vez e por isso mesmo, ouviram o mudar da tonalidade do canto de um pássaro?

A resposta será não, isto porque, o canto de um pássaro é sempre o mesmo, inalterável, seguro de si, doce, cintilante, denso....é justamente como a voz do Wazimbo: verdade, desde que o Wazimbo é, sua voz nunca mudou, nunca!

Ela eleva-se e supera o seu dono (capacidade de ascender), voa versos concebidos para nos chamar a atenção de ouvir suas canções com todos os ouvidos que nosso corpo possue, como em Maria Nwahulwana, onde desencadeia com o seu canto, uma série de sentimentos, que só o despetar do terminar da música nos chama atenção: arrepios, ansiedade, paz, mesmo quando conta nesta música a estória comum de uma noctívaga; a Maria que não sabe o perigo que espreita ao levar a vida a contar farras .

Esta música, é para mim a década final do imaginário da canção moçambicana, uma música que tem a capacidade de contar uma estória comun transformando-a em doces pétalas que quedam no rio, de uma intenção poética tão forte, de uma obsessão perfecionista incrível, uma música fugaz, música feita com paixão, com crença com forças inesgotáveis, uma música que inspira.

Eu não sei dizer Wazimbo com as palavras merecidas, como não sei dizer Simeão Mazuze, José Mucavele, Feliciano Ngome, Alexandre Langa, Cabaço e outros, mas nesta página, procur-lhes com olhos emprestados de todos os moçambicanos para lhes agradecer a força incomensurável que tem de remar contra a maré e que maré. De serem gigantes no seu sentir, isso, é para mim uma autêntica expressão da fé.

E a fé move montanhas.


Wazimbo, o nyànyànà.