domingo, 18 de outubro de 2009

Chico António, o cidadão do mundo

Hantlissa Maria ulonguela timpalha kuni mova wa muxolole

Uya ka gaza

Siyela Zulmirane timpahla leti taku made in united state ti hlanhissaca vava nuna oh ha

Unga kwati Maria ha swo uta Byala mitsumbula ....hi fuya ti homu hi rima

Lomu hiyaka kone/nahi khoma axi komu hi rima....Chico António

Chico António, o cidadão do mundo

Há em Chico António um sentido de moçambicanidade ainda não explorado. Já me explico: se podemos esperar o que as melodias e músicas de Wazimbo, Mingas, Hortêncio, Cabaço, Chihau e outros podem produzir, isto porque lhes conhecemos a linha e daí prevesíveis, já não podemos encontrar a mesma coisa em Chico, aliás, a sua imprevisibilidade, iguala-se à de Salimo, José Mucavele (basta lembrar que a guitarra de José, pode quando quer se esconder na densa savana de Chibuto, para meia volta, reaparecer e atravessar rios deste diverso moçambique num acelerar de ritmo que lembra os ataques de surpresa dos Guerreiros Chopes aos soldados Ngunis).

Chico, embarca em cada canção numa espécie de viagem sem destino previamente preparado, aliás, como o bem fazia o Ramsome, Fela Anikulapo.

A sua versatilidade, o marca não como músico moçambicano, mas africano, digo do mundo. É que, se o Chico subir um pouco até ao Centro de Africa, talvez não mexesse nada e/ou pouco nas suas canções para se confundir com artista daquelas bandas.

Se subisse um boucado mais, para a França, seria visto como um músico contemporrâneo forte, do qual não se deve atribuir país, porque do mundo.

O que gosto no Chico, é o respeito que este tem pelos momentos de avanço e pausa nas suas músicas, já me explico: quando este canta, sente-se que faz um avanço envolvente do qual não se pode ficar indeferente, pelo contrário; envolve-nos com a sua música. E quando sua voz cala, a combinação perfeita dos instrumentos desenha um cenário tal que completa o vazio que sua voz deixa e quando esta volta, a intensidade da combinação instrumentos/voz, torna-se tão intensa que o sentido de marcha da música passa a ser controlado pelos nossos sentidos onde podemos pegar por exemplo no trabalho do viola baixo e embarcarmos numa viagem na nossa própria melodia, no nosso próprio rumo e ritmo; fazendo a nossa música na do Chico.

Na veradade, revemo-nos na sua música, sentimo-nos naquele instante parte integrante, dela, sentimo.nos parte de um ritual que em algum momento da história da nossa vida aconteceu e que por reminiscência, o presente chama.

Nós africanos desconhecemos a alquimia, pelo que, ao homem capaz de nos envolver transformando nossas angústias, anseios, alegrias e sonhos em música envolvente, só pode ter um nome: um feitiçeiro.

Mas Chico, é também um homem do campo, a quem a tranquilidade rural lhe faz muita diferença, de maneira que na música acima, renuncia da vida da cidade, e, convida a mulher para juntos embarcarem no sonho de voltar ao campo para cultivarem a terra e criarem gado.

Neste convite, chega a propor a sua amada que deixe as suas roupas fabricadas no ocidente (que enlouquecem os homens), para a sobrinha Zulmira.

Um retorno as raizes entende-se, que não se esgota nesta música e naquela situação. Na verdade sinto nesta música, no convite ao retorno e no pedido que Chico faz a mulher, um pouco daquilo que o José Mucavele, faz e bem (apelo ao Renascimento africano), no sentido de volta em tudo que faz de nós africanos; ao orgulho africano.

Uma volta à necessidade de olharmos para nós dentro dos nossos próprios parámetros, para depois lançarmo-nos ao mundo com os pés firmes no chão, como Chico faz na sua música.

Este retorno, de quem já provou os prazeres da luz da cidade, confirma o que defendo acima; Chico é versátil, imprevisível, e a qualquer altura, sua música pode indicar uma direcção nunca antes enunciada.

A música do Chico tem uma dimensão cultural transcendente, tem condimentos para vencer e até para largar esta terra e caminhar no mesmo sentido que sua música incide (imprevisibilidade), e se deixar surpreender com o que o caminho vai produzir.


Modaskavalu