quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Mawaku a todos voces

Mawaku
Loku ni hoshile nkata
Ni dzivalele hikussa
Namine swengue nihoshekela nkata
Massiku yaku tala
Ninga hanha na wene
Swa ni kazatela ngopfu
Kussala upswanga

Nili mawaku/mawaku
Lava ngani umbilu/mawaku
Nili mawaku/la vazandziwaka
Nili mawakoooo lava tchataka-Joao wate

Tudo na vida é fruto do Amor.
Quem o tirar e olhar em seu redor
Encontra só tristeza e nada mais. – Rui de Noronha

O eterno amor; o eterno drama vivido e cantado por todos, o supersticioso, o devoto, o picante, o fiel, infiel, ingénuo, doce, puro, sujo, imundo, genica, gana vital, companheiro, solitário, doce com requintes de amargo, rio, fogo, água, que se antecipa, esquivo, fugidio, inocente, emaranhado, o amor é, não é.
Neste mês dos amantes o procurei incessantemente e sempre, na lógica do Modaskavalu e usando as lentes dos bons fazedores da música de casa.
Tive problemas, para seleccionar uma canção de consenso, porque, temos exímios fazedores de música de género, desde Feola, Gabriel Chihau, Lalarita, Avelino Mondlane, José Mucavele, Roberto Chitsondzo, Mingas, Fany, Hortencio Langa… mas bom, tinha de escolher um.
João Wate pensei comigo; e a música, foi o Mawaku.
Se é verdade, que o eu lírico dos marongas (muzongas), é o amor, João Wate, com esta música o confirmou e de forma sublime.
Nesta música, João traz uma mensagem do consciente e do inconsciente, fala de um voo com um único rumo: ao amor.
Há aqui, uma espécie de auto superação, de concretização de todo um discurso de amor, mais ainda, de uma humildade, que só se justifica nos marongas, porque, o bendasporo de Gaza, lá na terra onde as árvores, produzem dinheiro e são do mesmo tamanho, lá onde se cai e se levanta num instante, a palavra perdão não existe.
Qualifico aqui, o consciente e inconsciente, porque neste discurso, há uma intenção clara, que é de pedir desculpas, contudo, há outra que diz e denuncia o amor puro de um homem para com uma mulher onde em maiúsculas diz: te amo, por isso não vá, ou melhor não saberia viver sem ti (swa ni kazatela ngopfu kussala uswanga.)
De facto, neste não querer e/ou não conseguir ficar sozinho, há um milagre real, de um homem que abre seu peito para a mulher que a vida nunca o dera tempo para perceber que amava. E a partida, não podia ser o melhor despertar.
“Se eu errei amor me perdoe, porque (errei), não quis que assim fosse, foram muitos anos de vida conjunta que não conseguiria viver sem ti”( loku ni hoshile nkata/ni dzivaleli/hi kussa, namine swengue ni hoshekela nkata/massiku yaku tala/ninga hanha nawene/swani kazatela ngopfu kussala upwsanga.)
Este pedido de perdão, desperta uma espécie de cobiça, onde, João, chama o outro, e o relaciona com a sua situação, insinuando que “felizes dos que perdoam ou tem compaixão (mawaku lavangani umbilu), e outra; felizes os que são amados (mawaku la va zandziwaka).
Na primeira situação “mawaku lavangani umbilu”, João, exorta a mulher a abrir o seu coração ao perdão, porque como já bem o diz”sei que errei mulher”, de que adianta, senão, pelo desejo de sofrer, deixar-me se me podes perdoar.
Destaca ele, os longos anos de vida conjunta, a compartilha, a tolerância, que não pode ir abaixo por um mal entendido.
Na segunda situação, num golpe quase que baixo, e numa tentativa de fazer uma espécie de chantagem psicológica com a mulher, faz como que, cobiçando, os que são amados; como se ele não fosse.
Na verdade, este mawaku, levanta um problema de todos os namorados, porque muitas vezes, olham para a felicidade dos outros como milagre, e nunca em ocasião alguma se auto-questionam porquê o outro é feliz; se admiram, quando o outro casa e não se questionam quantos caminhos sinuosos o outro teve que percorrer até chegar lá, admiram a longevidade do casamento alheio, como se o outro tivesse uma varinha mágica, sem perceberem que a capacidade de perdoar, a tolerância, o companheirismo fazem brotar esta semente que é o amor, porque, como diz o poeta das boas essências e perfumes no cantar, “ a lirhandzo li fana ni nhungue vongo bwala lo missaveni, li mila, li hlovuka…”, pois, o amor é esta semente que se cimenta na capacidade de perceber o outro.
O que João percebeu, e precipitado pela partida, é que, aquela era o amor da sua vida. Percebeu, tal como o poeta dos sonetos, que “tudo na vida é fruto de amor e que quem o tirar e olhar no seu redor encontra só tristeza e nada mais”.
Procurei esta música, para dedicar a todos os amantes, um feliz dia dos namorados, e que esta, seja de reflexão, para a forma como nos relacionamos, como sabemos e somos capazes de perdoar, para o companheirismo, para um esforço conjunto de construção de um verdadeiro lar, para uma família que se quer célula base da sociedade, para que não olhemos e digamos mawaku, como se os outros, tivessem uma fórmula para amar e perdoar.
Costumo dizer a minha mulher que um bom amor perdoa, claro, fazendo referência de ela para mim.
Neste mês, neste ano, todos os dias, amem-se com todo o amor que tem para amar, para que sejam os outros, a dizerem mawaku de vocês.
P.S. Há muito que explorar nesta música, muito mesmo, eu, oportunista que sou, pensei na data que se aproxima….
Hoje, vou fazer a cobertura do espectaculo do Roberto Isaias no Gil e segunda feira, aqui, neste canto, esta marcado o encontro

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

ALEXANDRE LANGA e Jossefa Mukhombo

Jossefa Mukhombo
Utsama u dhakwile
Nigweli lomu uyi kumaka kona male
Ama meticale makumiwa hi vatirhi
Nigweli lomu uyi kumaka kona wena-Alexandre Langa


Se enumerasse a classe dos “faz de contas”, teríamos uma lista interminável, isto porque hoje, ninguém está mais disposto a ser.
Todos queremos parecer e neste exercício, é muito difícil distinguir quem é quem.
E valerá a pena a distinção?
Bom não sei; verdade, é que se vive outros tempos. Tempos que quando tentamos compreender os factos e achamos que já os compreendemos, o que era, ou parecia ser, já mudou e como.
Sob comando de uma falsa ideia de liberdade tendemos a conduzir nossas vidas de uma forma corrida, sem respeitar o próximo, valorizamos o imediato, o consumismo, o material, o gosto pelo enriquecimento fácil, muitas vezes sustentados pelo ilícito.
Bom, esta, está já a parecer uma lição de moral quando a questão pode ser colocada no sentido de questionar a que distancia estou do homem que descrevo?
Isto para dizer que não estou aqui, para julgar seja quem for, só que, questionar, nunca fez mal, aliás, aprende-se muito com este exercício.
Proponho-me assim, a apreender com a música de Alexandre Langa, que faz um questionamento que não foge muito do que aqui se escreve:
“Jossefa mukhombo, se estás sempre bêbado, diz-me onde arranjas o dinheiro, porque sabido que este provém do trabalho”.
Bom, a primeira vista, a mensagem resolve-se, porque, o que o Alexandre indaga é pacífico: saber onde Jossefa arranja o dinheiro para beber se, não trabalha.
Mas, se olharmos atentamente, descobrimos que estas palavras vão além do que ali foi dito, isto porque, estar sempre bêbado, é colocado num ponto que caracteriza todas as formas de estar, que contrariam o sensu comum, por ex. estar bem vestido, comer em restaurantes caros, viver em casas arrendadas, a prodigalidade habitual etc, quando se sabe, que o visado, não trabalha
Numa sociedade como a nossa em que o “faz de contas” é que vale, os que vivem desta forma, são os que sobressaem.
São capas de revistas que surgem não se sabe para que efeito ou linha editorial seguem, são constantemente chamados para entrevistas que não se sabe bem que efeito se pretendem produzir no destinatário (dai que alguns aproveitam para exibir os fatos italianos), passam a vida de bicos nos pés, para serem sempre vistos. (eu gosto de ser visto eich? De ser visto!)
Mas a maioria destes até que desenvolvem algum trabalho: não é fácil ser medíocre, isto é; dá trabalho, mexer em computador para apanhar o beat certo e produzir “gosto de ser visto, ou "Kahtla" de Mutisse.
E fazer estas musiquetas não é trabalho? Que vá passear quem pensa diferente, aliás, quem pensa assim, não passa de um “invejoso reguila”.
O Alexandre Langa, questiona sim, os tipos que ele sabe que nada fazem, mas tem sempre dinheiro. Que não se lhe conhece algum ofício lícito, mas andam em brutos carros, que de dia dormem e a noite acordam sem irem a um trabalho verdadeiramente de turnos, aos tipos que desprezam nosso esforço de trabalhadores modestos, porque nos acham honestos demais…
E diz-me; onde tu arranjas dinheiro para tudo isso, se não trabalhas?
Há-de convir, que o ilícito criminal acompanha estes homens. Que o alheio, faz parte de suas vidas, que o gosto pela vida fácil sem esforço, aliado ao enriquecimento sem causa, fazem deles, os homens de momento.
Pena que as minhas irmãs se deixam enganar por estes tipos, pena que lhes interessa assim como estes ver o imediato, pena que estes, ao lado de quem busca o conhecimento sempre sobressaem, pena mesmo, que até a minha mulher desvalorize o esforço dorido de manter um lar, por um destes pelintras.
Mas diga-me então ó Jossefa Mukhombo, onde arranjas dinheiro, se não trabalhas?
E vou lá atrever-me a perguntar onde arranja dinheiro um individuo que não trabalha, quando se sabe que é amigo de um Polícia dos bons?
Jossefa Mukhombo é este hino, que não procura respostas, senão, questionar. É esta música, cantada por um homem a quem apelido de sociólogo musical, sim, Alexandre, com as suas músicas já cantou este pais, o seu pulsar, suas conquistas, derrotas, sem contudo, perder a estrutura estética, que orientava as suas músicas, porque em qualquer coisa que cantava, não faltava nunca o esmero, o toque de beleza, o arranjo fino, o amor, a vida, a dor, angustias, anseios, tudo cantado em maiúsculas.
Maiúscula que pretendo grafar aqui no Modaskavalu, em palavras… modestas palavras.
Amosse Macamo
P.S. a presente, faz parte de um exercício que se pretende mensal, de tentar descortinar no máximo as músicas do Alexandre, isto, porque impossível, em duas ou três matérias, trazer a temática deste homem.