quinta-feira, 22 de abril de 2010

Tony Django

Tony Django: uma voz que transbordava

A voz do Tony era demais para ele só. Verdade; a impressão que a sua voz nos dava era a de não caber em si. Facto, é que a mesma nos saciava e nos criava a vontade de a ouvir e mais. Em bom tom diria que estávamos viciados, dependentes, que nos curvávamos sem medo e vergonha de parecermos súbditos daquela voz meio femenina, meio masculina, meio frágil mas ao mesmo tempo forte, quente, vibrante que sabia se exceder mas sempre dentro do limite do belo.

Uma voz que não cabia naquele corpinho franzino, que se exprimia de forma tão singular, voz de uma ânsia do absoluto, voz de insatisfação e insansiabilidade, de uma voluptuosidade tão gritada, voz de aromas frescos de Gondola.

Não se procurava arte naquela voz; encontrava-se. E encontrava-se de forma tão cristalizada e lapidada porque manejada de forma a fazê-la render o máximo de si, uma voz tão expressivamente nossa, moçambicana.

Se Ghorwane tinha o Zeca Alage o K10 tinha o Tony, se fugindo um pouco e para um dos grupos pelo qual a banda e particularmente o Tony se inspiravam,(Stimela), se este grupo tinha o Chikhapa, o K10 tinha também o Tony. Se em N`tchanwane tinha Zeburane em Maputo tinha o Tony. Engraçado porque a última vez que o vi e ouvi foi no festival de Marrabenta e este fazia uma parelha com Bernardo Domingos onde, com mestria esboçaram o Zeburani este Rei das terras de Chibuto (terra hoje anexadas ao distrito de Mandlhakazi para a tristeza das gentes do Régulo Muzamane) que sei influenciava grandemente o Tony.

Voz de talento métrico que trascendia seu dono. Um dos duetos que sempre imaginei e numa canção com asas de saber voar seria o de Wazimbo e Tony, mas a morte não me avisou porque teria insistido com os dois para que o fizessem rápido antes desta cobardemente surpreender.

Neste momento o silêncio é a única voz que ousço do Tony, aliás, silêncio tão perigosamente traçado na magia de grande arte que é a vida; que é a morte!

Engane-se quem pense que estas palavras constituem um elogio fúnebre. Engane-se quem pense que são palavras para engrandecer a quem nunca foi grande, que são palavras para criar um mito. Pois o digo que não o são. Aliás, estas modestas palavras, não saberão tomar a forma e grandeza que foi o verbo cantar enunciado na doce voz do Tony.

Este é o meu livro de mágoas que acrescenta mais um nome e pior; um nome precocemente ido como o foi de Eugénio Mucavele, de Jeremias Ngwenya, de Nanando, de Chonil, de Zaida e Carlos.....

Quem hoje vai cantar “Hita sala hi mu khumbula marhumbine”, fazendo referências ao Zeburane, Baza, Mandlaze, e outros? Quem se vai lembrar de cantar estes mortos se quem os cantava e com mestria foi-se?

Eu vou cantar e para si Tony neste meu livro de mágoas que “nita sala niku khumbula marhumbine”, vou sempre te recordar e melhor, cantar-te porque a homens como você não se esquece.

Deixem –me chamar uma música que o Alexandre Langa fez para o Fany um dia onde dizia:

“yetlela hiku rhula Fany Mpfumo a nsinya lowu ungawu byala uta kula hiku rhula

nikhoma n’hloko ni hlakata ni ziviza, ni khonguela xiviri xawena ninguehe xivoni”, como quem diz: descanse em paz Fany, a árvore que plantaste vai florescer em paz. Reflicto, abano a cabeça, bato-me, rezo, facto é que jamais voltarei a ver-te.

Canto Alexandre neste momento e tendo na mente a transbordante voz do Tony Django, esta voz de doces pétalas de um vale de lágrimas que se transformou o meu coração.

“Kassi a va sati vanga tala ixi hlaula mani, xi hlaula mani, he xi hlaula mani...” sei que por aí, no último céu outros olhos assistem o seu concerto de estréia.

Amosse “Modaskavalu” Macamo

1 comentário:

Anónimo disse...

seguiu o festival CUlTUral
tsAmb