Bilibiza
Em Salimo, certamente coexistem dois mundos radicalmente opostos: a esperança e o desespero, a perseverança e a inutilidade, que só se sustentam, porque ele é um homem de têmpera rija.
O davula mananga, talvez seja o exemplo deste desespero e esperança, onde numa situação limite, viu-se obrigado a partir, chegando, como ele mesmo diz, a orientar-se com o sol.
De facto, quando todas as expectativas são desfeitas, nada resta ao homem senão partir e Salimo partiu. Chegou ao ponto de convencer-se, que um curandeiro o tratara para ser invisível; pudera!
Ora, só o desespero pode trazer situação igual, porque doutra forma não se pode perceber, que Salimo tenha acreditado que ficou mesmo invisível.
Mas engana-se quem pensa que partem os cobardes, não; só um homem de coragem pode partir, só um homem de ânsia, de temor, de persistência e acima de tudo de esperança é capaz de partir, justamente pela ideia de que a frente será diferente.
Só um homem corajosos e portanto, capaz de incentivar-se a si próprio pode partir, isto porque quem parte nunca pede conselhos, tão-somente, partilhar a ideia.
O davula mananga é a música dos rejeitados, dos que se sentem marginalizados, do apelo ao isolamento, dos que partem com uma cicatriz no coração.
O Bilibiza, foi talvez, a mais dura experiência de Salimo, o inevitável parto de davula mananga e outras sagas de Salimo, porque, ele, nunca conseguiu, mesmo que querendo esquecer Bilibiza. Marcou-o de tal forma, que disse para ele mesmo que tinha de sobreviver, para poder contar aos outros a sua experiência.
E a música Bilibiza, é este partilhar não querendo, da sua passagem daquele campo de reeducação e mesmo quando hoje se nega a falar daquela experiência, penso que o faz com toda a razão, porque em duas palavras, esgota o que viveu em Bilibiza:“ya bahmba” (é duro Bilibiza, na verdade, bate-se duro em Bilibiza). “Kuni mayila yila le Bibilibiza” (há vicissitudes em Bilibiza.).
De facto, a ideia de reeducar o homem separando-o da família, será sempre um fardo que Salimo vai carregar por toda a vida e ninguém o fará esquecer, mesmo que perdoando, porque Bilibiza, foi para ele, uma gruta da escuridão, onde negou-se a reeducação, porque nunca precisou dela.
Mas Bilibiza ganha, por trazer os dois mundos antagónicos de Salimo: do desespero e da esperança, afinal, tal como no davula mananga onde primeiro, ganha a ideia de sofrimento enraizado, de um drama humilhante e desesperante onde se dança Makway (dança que era tida como de castigo), até ao segundo momento onde, “Bilibiza ka rimiwa” (Em Bilibiza cultiva-se.)
Bom, a primeira vista, diríamos que Salimo diz, aquilo que foi de domínio de todos, que em Bilibiza cultivava-se. Afinal, uma forma de garantir o auto sustento, das várias pessoas, tiradas de todo o pais, para a reeducação.
Mas, se olharmos com outros olhos para a expressão cultiva-se, deparamo-nos com uma sobreposição propositada: só cultiva quem quer semear e só semea, quem quer colher.
Assim, o acto de cultivar remete-nos a várias realidades, sendo algumas as de nascimento de uma nova planta (novo pensamento), de renovação, de esperança de abundância e acima de tudo, de um enraizamento capaz de sobreviver as intempéries.
E Salimo é esta raiz, capaz de sobreviver a qualquer intempérie, é este homem que vive na fronteira da esperança e de desespero, é este, que quando decide escolher a canção que melhor o caracteriza ou o canta, elege hlalelani vokala ndjombo (contemplem os desafortunados/azarados)
Bilibiza é para mim, a mensagem insistente e insinuante de nascimento de um novo pensamento, um novo ser já cultivado: prenúncio de uma revolução.
Na verdade, quando Salimo diz no final do coro ahi fambeni hiyaku vona, (vamos lá ver) faz o que nos acostumou, lançar duas ou mais ideias em uma só: lança primeiro uma intenção de denúncia da dureza de vida que se vivia em Bilibiza por um lado, e por outro, a ideia de uma mensagem de apelo para que todos possam lá ir, e testemunhar que apesar de tudo, algo de bom ali acontece. É a ideia dos dois mundos; a simbiose que caracteriza o Simeão, digo Salimo.
Amosse Macamo
Em Salimo, certamente coexistem dois mundos radicalmente opostos: a esperança e o desespero, a perseverança e a inutilidade, que só se sustentam, porque ele é um homem de têmpera rija.
O davula mananga, talvez seja o exemplo deste desespero e esperança, onde numa situação limite, viu-se obrigado a partir, chegando, como ele mesmo diz, a orientar-se com o sol.
De facto, quando todas as expectativas são desfeitas, nada resta ao homem senão partir e Salimo partiu. Chegou ao ponto de convencer-se, que um curandeiro o tratara para ser invisível; pudera!
Ora, só o desespero pode trazer situação igual, porque doutra forma não se pode perceber, que Salimo tenha acreditado que ficou mesmo invisível.
Mas engana-se quem pensa que partem os cobardes, não; só um homem de coragem pode partir, só um homem de ânsia, de temor, de persistência e acima de tudo de esperança é capaz de partir, justamente pela ideia de que a frente será diferente.
Só um homem corajosos e portanto, capaz de incentivar-se a si próprio pode partir, isto porque quem parte nunca pede conselhos, tão-somente, partilhar a ideia.
O davula mananga é a música dos rejeitados, dos que se sentem marginalizados, do apelo ao isolamento, dos que partem com uma cicatriz no coração.
O Bilibiza, foi talvez, a mais dura experiência de Salimo, o inevitável parto de davula mananga e outras sagas de Salimo, porque, ele, nunca conseguiu, mesmo que querendo esquecer Bilibiza. Marcou-o de tal forma, que disse para ele mesmo que tinha de sobreviver, para poder contar aos outros a sua experiência.
E a música Bilibiza, é este partilhar não querendo, da sua passagem daquele campo de reeducação e mesmo quando hoje se nega a falar daquela experiência, penso que o faz com toda a razão, porque em duas palavras, esgota o que viveu em Bilibiza:“ya bahmba” (é duro Bilibiza, na verdade, bate-se duro em Bilibiza). “Kuni mayila yila le Bibilibiza” (há vicissitudes em Bilibiza.).
De facto, a ideia de reeducar o homem separando-o da família, será sempre um fardo que Salimo vai carregar por toda a vida e ninguém o fará esquecer, mesmo que perdoando, porque Bilibiza, foi para ele, uma gruta da escuridão, onde negou-se a reeducação, porque nunca precisou dela.
Mas Bilibiza ganha, por trazer os dois mundos antagónicos de Salimo: do desespero e da esperança, afinal, tal como no davula mananga onde primeiro, ganha a ideia de sofrimento enraizado, de um drama humilhante e desesperante onde se dança Makway (dança que era tida como de castigo), até ao segundo momento onde, “Bilibiza ka rimiwa” (Em Bilibiza cultiva-se.)
Bom, a primeira vista, diríamos que Salimo diz, aquilo que foi de domínio de todos, que em Bilibiza cultivava-se. Afinal, uma forma de garantir o auto sustento, das várias pessoas, tiradas de todo o pais, para a reeducação.
Mas, se olharmos com outros olhos para a expressão cultiva-se, deparamo-nos com uma sobreposição propositada: só cultiva quem quer semear e só semea, quem quer colher.
Assim, o acto de cultivar remete-nos a várias realidades, sendo algumas as de nascimento de uma nova planta (novo pensamento), de renovação, de esperança de abundância e acima de tudo, de um enraizamento capaz de sobreviver as intempéries.
E Salimo é esta raiz, capaz de sobreviver a qualquer intempérie, é este homem que vive na fronteira da esperança e de desespero, é este, que quando decide escolher a canção que melhor o caracteriza ou o canta, elege hlalelani vokala ndjombo (contemplem os desafortunados/azarados)
Bilibiza é para mim, a mensagem insistente e insinuante de nascimento de um novo pensamento, um novo ser já cultivado: prenúncio de uma revolução.
Na verdade, quando Salimo diz no final do coro ahi fambeni hiyaku vona, (vamos lá ver) faz o que nos acostumou, lançar duas ou mais ideias em uma só: lança primeiro uma intenção de denúncia da dureza de vida que se vivia em Bilibiza por um lado, e por outro, a ideia de uma mensagem de apelo para que todos possam lá ir, e testemunhar que apesar de tudo, algo de bom ali acontece. É a ideia dos dois mundos; a simbiose que caracteriza o Simeão, digo Salimo.
Amosse Macamo
7 comentários:
Tanto gostaria de perceber a multifacetada personalidade de Salimo, confesso que não consigo. Ele é tao intenso, tão forte como o amor e o odio, essa fronteira tao tenue, tão intensa, tão radical e extremista!
Salimo é um icone, um sujeito educado e deseducado pela vida, um ser errante certante, ops... Uma figura incontornavel a estudar antes de se tornar heroi (porque os herois só o sao depois de morrer?). Valorizemo-lo pela intensidade das suas metaforas ironizadas e despidas de medos e outros atributos dignos de lambe-botas!
Ximbitane, concordo plenamente consigo. 'e a intensidade e a neura que tornam Salimo tao igual a si. concordo tambem quando dizes que 'e hora de o valizarmos ainda em vida, afinal, para que sinta ele mesmo, a sua importancia...Salimo 'e um homem de genio, e estes, tem sempre nervos solidos, dai que nao hesita em apontar onde nao esta certo, facto raro na sociedade "escovagista" em que vivemos.
Gostei tanto desta tua viagem ao Salimo, levaste-me contigo. Dizer que eu gosto muito, ao memso tempo que temo a pessoa do Salimo. Um dia o encontras, e estabelece uma conversa-poesia contigo, no dia seguinte (literalmente), passas invisivel pelo seu lado, porque ele está furiosíssimo com algo/alguém, e ao final soltas uma gargalhada ao saber o motivo da furia! Um homem sem papas na língua, lutador incansável e de um talento incomparável! Com umas estórias de fazer rir a qualquer um. Realmente admiro esta pessoa cheia de contradicões.
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Mudando de assunto, gostaria de trazer a proposta de que o Amosse não só escrevesse, mas também trouxesse as letras por inteiro da peca analizada, e se possivel um video, para que possamos ter uma memoria mais viva da nossa musica.
Feliz ano
Nyabetse, ja vivi, alias, vivo quase que diariamente o que escreveste,mas, ja me acostumei e aceito o Salimo dessa forma, dai que nao desisto de o provocar mesmo que se mantenha indeferente comigo rs rsrs r4s rs rs. o teu sentimento em relacao ao Salimo 'e tambem meu.
sobre a ideia de trazer as letras por inteiro e/ou videos, acho excelente, porque, para alem do proposito que apontas, ajuda o leitor, a fazer uma analise do conjunto e nao do excertos objectos de analise.
thanks, pelo elogio e acima de tudo, por teres passado do Modas, fico mesmo lisonjeado, se bem que a muito que andava a piscar-te o olho rs rs rs rs rs rs rs
feliz ano para si tambem
A verdade é que venho espreitando neste cantinho já faz um tempo... Só nao queria ainda escrever... Aliás, ri-me bastante de algumas passagens na sua análise da misteriosa "hodi", um tema que acho que compreenderemos melhor quanto melhor pudermos conhecer o Fanny. Eu sou uma apaixonada pela sua música, e quero tanto escrever uma biografia dele...
Estou à espera da sua próxima contribuição sobre a nossa bela música!
viva Amosse. Foi bom conhecer o blog. Preocupados com assuntos de política ou "alta ciência" fingimos que não temos tempo para análise do que nos faz moçambicanos. parabéns, pois, pela escolha do tema e pela crítica à musica de moçambique.a Crítica é muito exigente e poucos são os que cativam as suas audiências e satisfazem-nas. força e trabalho.
Nyabetse, obrigado uma vez mais. bom saber que sempre das uma espreitadinha. sobre a biografia de Fany, estamos todos ansiosos, mas se a algum tempo,podiamo nos questionar sobre a pertinencia de uma biografia de Fany, hoje, a situacao reverte-se com a recente honorizacao deste. 'e possivel sim uma biografia de Fany hoje e esta 'e a altuta certa, para bateres nesta tecla...
um dia acredito poder alcancar o "Hodi"...continuo a escuta-lo, como um peregrino a busca da verdade....
Ndapassoa, obrigado por teres abstraido da Politica ou "alta ciencia", para te ocupares dos modestos escritos do Modaskavalo, a sua passagem e outras, 'e um verdadeiro incentivo.
passe sempre
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