terça-feira, 7 de outubro de 2008

ubiwilitolo

Ubiwilitolo (será que foste repreendido?)

É facto que a critica social tem alicerces na ideia do melhor. Parte-se sempre, do ponto de vista de que os factos não correm em conformidade, daí a necessidade de nos posicionarmos de forma neutra e num plano superior, analisar a situação na profundidade.
A crítica quando colhe consenso ajuda a criar a consciência colectiva e logicamente que numa sociedade em constante derrapagem de valores, esta, é fundamental.
O grupo Ghorwane é um grupo calejado em matéria de crítica social, as suas músicas reflectem o quotidiano, questionando-o, problematizando-o e propondo, soluções específicas.
São exemplos desde Majurragenta as músicas Akuhanha, Terehumba, Mavabwyi, Muthimba, Sathane, Massotcha e mamba ya malepfu, no Kudumba, até ao Vana Va Ndota com músicas como Xitchukete, Tlhanga, Livengo e outras. Mas o foco hoje é a música “ubiwilitolo” do álbum “Vana Va Ndota.”
A música em realce, é uma verdadeira “música de protesto”, que descorda por completo com a situação que hoje se vive, onde e coloca o seguinte questionamento: “será que foste repreendido (educado)”?
Quem escuta o primeiro trecho da música e sei que este facto foi propositado, concorda plenamente que os miúdos de hoje tem a pouca vergonha de perseguir as mulheres dos outros. (a va fana mina, vama siku lawa vani ntungu wo biha wa tku tlovela va sati va vhanu).
A primeira colocação que o Chitsondzo faz é a de os miúdos (rapazes), metem-se com mulheres dos outros, e esta, não é senão, uma mania generalizada, ou de uma moda se assim o quisermos, em que os jovens, apostam, entre eles, em como vão conseguir os seus intentos.
Não há pois, o mínimo ético nesta relação, senão, o simples desejo de tomar o que não lhe pertence. A mulher do outro é vista como um trofeu a ganhar e quando se trata de ganhar um trofeu, não se mede e os jovens não têm medido.
Ouvindo-se o primeiro trecho, há unanimidade, em dizer que “este Chitsondzo, sabe o que diz e temos de facto, combater este mal”, só que; o presente que o Chitsondzo dá e propositadamente, é envenenado, na medidade em que faz logo uma viragem, para incluir todos no mesmo esquema, desde senhoras, velhos, velhas, senhores e meninas.
De facto, esta mania, não é exclusiva dos rapazes, diz Chitsondzo, pois, as meninas também, (a tintombi natona ati Sali ndzaku, tini ntungu ho biha lowu, waku tolovela vanuna va vanu) tem o mau hábito (mania) de se meterem com os maridos das outras, e idem na colocação, porque aqui, existem aquelas que somente tiram gozo da situação, quando efectivamente o homem é casado e quando não, não desperta nelas nenhuma atenção.
E seria estranho isto, aliás, há tempos, os homens, faziam questão de esconder a aliança, quando ensaiavam uma fuga, mas, de tempos para cá, a situação muda completamente, pois, as mulheres, tem a lição de que homem casado, sabe tratar e se tem dinheiro para sustentar um lar, deve ter para outros gastos, e logo vira alvo.
Infelizmente é a sociedade em que vivemos, onde já não se transmitem valores, já não se passa testemunhos, isto porque todos e cada um pensa que é conhecedor de tudo, quando de nada.
As forças de pensamento se calam, os pais se escondem, os que teimam em gritar no deserto, são premiados por AVC´s precoces e claro, há aqui, uma tendência de querer viver a vida intensamente, mesmo que para tal signifique matar Deus e/ou algum outro valor superior, para que, afinal, seja tudo permitido.
Porque e acredito, que se não houvesse essa tendência de matar Deus e seus valores, de matar a consciência do bem, não se aceitaria, que as coisas acontecessem, tal como as canta o Chitsondzo.
De facto, não é normal, que um senhor de idade, faça crescer miudinhas de 13, 14 anos, que os idosos, ataquem, as suas próprias netas, que tudo, seja feito a luz de dia e ante olhar de aceitação de todos.
Mas é claro, coloca-se aqui a questão de quem lança a primeira pedra e contra quem?!
O que o Ghorwane (Chitsondzo) fez, foi, numa sociedade, em que ninguém se propõe a discutir os seus valores, lançar as premissas para que os mesmos voltem a ser agenda.
E esta rede de interferência do rapazinho solteiro com a mulher casada e vice versa, dos senhores com as mocinhas da escola primária, da promiscuidade sexual que se vive, traduz a ideia de que é preciso voltar a discutir estas ideias, porque normalizar o anormal, nunca torna aquele lícito.
E o questionamento de que será que foste repreendido na sua educação, (Ubiwilitolo wena), põe a nu, esta inércia, porque, sob chavões da liberdade, tem se enveredado por um caminho de renúncia completa dos valores que cabem a um diligente pai da família, que tenta a todo custo, imitar o “pai fixe”, das novelas, esquecendo, que aquele, é talhado ao pormenor num estúdio e a vida real, essa sim difere, porque sempre surpreende.
Infelizmente, é difícil discutir esta ideia, quando ela é constantemente esvaziada em músicas de consumo que ensinam exactamente o contrário do que se pretende, em novelas que nunca foram na essência compreendidas pelo seu público alvo, em publicidade que se interessam no consumo e somente, na família que se desintegra sistematicamente, num sem número de situações, que banalizam o certo e esvaziam a nossa consciência comum do bem.
É lógico, que no lugar de discutir esta ideia, quando a carapuça vai servir, esta mesma pessoa, vai fazer o seguinte questionamento:
“Quem és tu Chitsondzo para me fazeres esta pergunta?”
E vai-se afundando a nossa sociedade....porque a roda promíscua de interferência, parece interessar a maioria, por isso, “ubiwilitolo wena, mas que se entenda, Ghorwane (Chitsonzdo), já lançaram com este questionamento a primeira pedra.

P:S. Um Sentimento de tristeza me assolou quando descobri que o Web Site da banda Ghorwane expirou!!! Que dizer?
Amosse Macamo

2 comentários:

Yndongah disse...

Amigo Amosse,

Gostei deste lugar e do que li.
A questão da preservação de valores é uma discussão que se precisa sempre, sobretudo no que diz respeito aos critérios que os determinam.

Bom fim de semana

amosse macamo disse...

ah obrigada mana, é mesmo altura de começarmos a varrer a casa,passe mais, e sempre que der, deixe o seu precioso comentário....