quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Ferido regresso

Ferido regresso

Eu era feliz aqui, tinha neste lugar o meu paraiso, este lugar era para mim o derradeiro local de exercício da rebeldia literária, aqui escrevia sem regras de forma sentida, de dentro para for a, como que ouvindo sons novos e densos.
Aqui Zeburani ganhava vida e cantava bava anga psalanga, Mahecuani cantava suas nóias e pemanencia vivo, Fany arrebentava o bandolim aqui , aqui no Modaskavalu, Pedro Langa prenunciava meu regresso: um ferido regresso ao meu próprio blog, um regresso marcado pela ausência e claro, para haver regresso deve haver partida, mas facto é que nunca cheguei a partir, nunca senti e de forma sentida a separacação entre mim e a música moçambicana.
Gosto da ideia de ouvir Al Jarreau de dia e no final da noite restar um espaço por preencher e chamar por isso Zeburani, Alexandre Langa, Hortêncio Langa, Aurélio Khowano, gosto deste aparente conflito que existe em mim, gosto da energia que vibra em mim quando piso Ntxamwane, terra de Zeburani e Alberto Mhula com a que carrego quando no final do dia o Jazz, essa neura me invade a privacidade.
Vitaniwa, vitaniwa, mi ta vona mamba leyi ingakona lane, ya malepfu-Pedro Langa, Mamana Maria unga rile, nwana wa wena afikile lamuntine, -Salimo muhamad, nyoxanini, nyoxanini hi nkerhu lani, mi nyoxela lweyi wanuna wa mpandla, a buyile niti simu taku xonga-Fany Mpfumo...estas canções aqui evocadas são todas de celebração de volta, de chegada de onde nunca se partiu, de alegria, pena que o meu regresso equipare-se ao de Pedro: ferido regresso.
Vim aqui me consolar e me sentir mais humano, vim curar minhas feridas, vim ao local onde me sinto puro, esta, é a minha zona liberta da humanidade;concerteza.
Este, é o meu ferido regresso, in totto, de como o canta Pedro Langa, um dos meus poetas da cabeceira.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

GHORWANE O MITO

Ghorwane, o mito de uma geração
Quando assinei uma pequena matéria de exaltação deste grupo com este título no pequeno fórum de discussão que partilho com amigos na internet, o meu amigo Nhecuta Phambany khossa, fez questão de me lembrar que o meu título era inspirado no filme dos “The doors.”
Respondi-o que não, que este título era e somente inspirado em Ghorwane, um mito que me parece que se há-de tornar de gerações. É que Ghorwane é símbolo de nós mesmos, é nosso irreal real, nossa utopia, nosso enigma tangível. As músicas de Ghorwane esculpem cada instante das nossas vidas, são de uma estrutura poética igual a nós, de um esquema metafórico profundamente moçambicano, uma espécie de versos de sugestão de saudade de nós próprios quando ainda éramos puros.

Uma música que propõe-se a focar toda a gente dentro de si, uma sublimação dos nossos valores, o melhor equilíbrio conseguido de um povo que luta incessantemente para se afirmar como ele é: moçambicanto. Sim, nós somos feitos de canto, quem de nós não é cantor e até da sua própria desgraça? Quem?

Ghorwane é Moçambique em letras maiúsculas, nosso espírito alicerçado pelos seus poetas, aliás, tanto o Zeca Alage, o Pedro Langa, e Chitsondzo, são um dos maiores letristas que o pais possui.
Zeca Alage tinha aquela veia rebelde e extraordinária coragem de dizer o que sentia, tinha todo o seu lastro de inconformismo puro, inconformismo que se fazia sentir nas suas músicas; quem não se lembra de Massotchua, onde as armas que nos dizimavam eram mais caras que os sacos de arroz, onde as guerras infindáveis teimavam em acontecer mesmo que sem propósito (), mesmas guerras que e recuando no passado dizimaram nossas gentes no Gwaza Muthine (estava o Zeca a colocar Gwaza Muthine como prenúncio? Ou então o nosso sacrifício por aqueles que tombaram a defenderem o pais?) “iwu siwana linga nguenela matiku yava ntima, hitoti nyimpi taku kala ntlamuxelo …..tinhimpi taku kala tinga heli nito yini ….tiheti ni va tukulu va minooo vatukulu ningava siya gwaza muthini….).

Mesmas dores que sente em mavabyi, (doenças), doenças que dizimam homens, que o faz perder esperança e o torna céptico em relação ao futuro, isto porque quando olha para os seus filhos vê que a tendência é de piorar(loku ni txuwuka nghamu ya mina mbai mbai swo tlula mpimo), e o pior cenário diz ele, é aquele que está por vir (kambe leyi ingatata bassopani madjaha).

Dói-me o corpo, tenho o estômago inchado, e onde está o médico, afinal, onde está o médico? (muzhimba wa mina wa vava dokodela aye kwino aye kwini dokodeloo?) Ao que se segue o desespero em fracção apocalíptica: nitofa ni siya maxaka ya mina( vou morrer e deixar meu familiares?).

O sujeito poético em mavabyi, percebe-se que viveu tempo suficiente para ver a guerra colonial (yama putukesi) e a civil(ya dhoropa), e daí que adverte: a que vem será pior (a biológica, mavabyi). Não estarão aqui inclusas as HIV/SIDA e companhia?

Quem não se lembra do poeta do sublime; o Pedro Langa? Pedro era fiel aos problemas do pais, e mamba ya malepfu talvez seja o relato mais fiel dessa fidelidade, porque o chamativo que faz para que se venha contemplar a “mamba de barbas”(vitaniwa nwina vitaniwa mita vona mamba leyi ingakona lani ya malepfu bava), não é mais que um pretexto para chamar os dezasseis anos de guerra civil, é ele a dizer vinde cá meu povo, aproxime-se para ver esta cobra que ficou dezasseis anos a encubar seus ovos, mas que hoje está entre nós. É preciso lembrar que Pedro escreve esta música (1992) numa altura em que pairava grande incerteza da durabilidade da paz, mas, como que profetizando o futuro dizia (aku rhula kutave kona, lita yandza tiko leli), haverá paz, estabilidade e desenvolvimento neste pais. Quer dizer, num cenário de precariedade da paz e de incerteza sobre o futuro Pedro soube buscar a esperança, soube chamar o povo para uma mensagem positiva soube exorcisar em mamba ya malepfu os fantasmas da guerra.

Guerra que também destruiu em “Ferido Regresso” onde até a árvore mais bela perdeu a folhagem, demonstração clara de que no pais havia pranto, onde Pedro depois de enfrentar um longo e tortuoso caminho finalmente chegou a casa mas tudo estava queimado. (Nambi n’sinha lo wo sasekaa Ni ma tluka Sê mawile Waku komba ku Lani kaya kuni xirilooo, Ndzi fane ni ngwana ya mulungusi yinga luma tinwni mai, Ndzi kwele maganga ndzi yelha munkova ndzita kuma ku lani kya ku pswiléé), mas reparem, mesmo com estes revezes que sofre, mesmo que o seu regresse seja ferido pela guerra que obrigou seus familiares a deslocarem-se, a partir, mesmo que o passado tenha sido desastroso, Pedro pinta um quadro de esperança no sentido de que não podemos nos amarrar a dor, não devemos olhar para ontem senão para buscar forças para enfrentar o futuro.
Na verdade Pedro faz uma ponte entre o passado e o presente no sentido de que por mais duro e sofrido que tenha sido o passado é preciso acreditar no amanhã. Daí que pede que olhem para o seu regresso como prova de que o amanhã pode florir e o “recebam-me meus familiares: (Ndzi yamukeleni va ndueni Malembe yaku tsaka ma twasilé Ndzi yamukeleni maxakó Malembe ya lirhndzo ma fikiléé), é uma mensagem de fé de um homem capaz de encontrar consolo na dor. Pena que o Pedro não viveu o suficiente para ver em parte o que ele predizia, pena que o maldito projéctil não o tenha dado tempo de olhar para seus filhos antes de partir como pedia em uyo mussiya kwini (ni vuyisseleni vana va mina ningatafa ningava vonanga), para os legar ensinamentos.

Chitsondzo é o poeta de pregação do social nu; das tragédias como Katina P, do Xitxuketi onde uma roda-viva de interferência sexual nos expõe e fragiliza, do akuhanha onde o peso da vida nos faz renunciar de poderes até irrenunciáveis como o do médico que foge do paciente, dos polícias que fogem dos criminosos, um Chitsondzo que apela para um conformar-se como quando diz que loko uva kuma va tirha, tirha nawenawu, mesmo quando se sabe que de conformista nada tem.

Em Terehumba Chitsondzo brinca com o social, contando a história de uma menina que usou a caneta e o caderno apenas para contabilizar os homens, menina vovô tal qual definida nas crónicas de João Craveirinha, porque quando seus seios se equiparam a (madinwa sinheni), a frutas numa árvore, já temos a ideia de como estas se apresentam. Esta menina que quando engravida só pensa em abortar e porque o faz em segredo quando a dor começa finge segurar a cabeça, contorcendo a barriga (porque é aqui onde realmente dói mas que não pode segurar porque pode denunciar suas manhas) [a suluvanya hi kwirhi na a kombeta ka nlhoko mamani a ku kuvava lani, ho terehumba, ku vava lani mamani] é o preço que paga quem mal brinca com rapazes (hiku tlanga ni vafavana).

A morte levou os dois primeiros poetas; o Zeca Alage e Pedro Langa, mas, os mesmos vivem e na perspectiva daquilo que eles eram, o álbum vana va ndota é testemunho de que aqueles não morreram e David Macuácua, tem o condão de saber traduzir em letra e espírito as vozes destes poetas que, quanto mais o tempo passa, vão alicerçando os pilares que criaram no nosso comum existir: o gosto e a preferência por eles como uma banda que marcou uma geração e que dá agora sinais de marcar outras gerações, porque quem olha para o público que hoje vai ao Ghorwane, para os jovens que se interessam por este grupo, saberá dizer que não são só os jovens da década 80, mas também os de hoje.

Ghorwane é o grupo onde reside a nossa moçambicanidade, é quem carrega o âmbar da nossa cultura, um grupo que um dia saberei cantar com as pérolas palavras que merece.
Viva Ghorwane, verdadeiro mito de uma geração.

terça-feira, 1 de junho de 2010

XIDIMINGUANA

O eterno Xidiminguana
Quando um dia perguntou-se ao Xidimnguana, quando haveria de se chamar Domingos uma vez que Xidiminguana era diminutivo de Domingo e assim fazia sentido quando ainda era jovem, este, respondeu que o Baobá que dá nome ao Bairro Ximphamanine (Ximphamanine significa pequeno Baobá, tal como Xidiminguana significa pequeno Domingos), já era crescido e nem por isso o Bairro e/ou a árvore passaram a chamar-se Mphama.
Resposta melhor que esta não se podia esperar de um Xidiminguana satírico, e com um sentido de humor de se lhe tirar o chapéu. Esta resposta acaba sintetizando em parte a obra de Xidiminguana: um homem satírico e com um sentido de humor acima da média.
Diz o bom maengane, o António Marcos numa das suas músicas que “a viola ya mina ya vula vula mayo”, isto no sentido de que a sua guitarra fala e, como fala.
Esta de a guitarra falar não é estranho porque já falava a guitarra de Feliciano Ngome(ouvir a música kodwa aswibassanga), já falava a guitarra de Zeburani, o rouxinol de Tchanwani, mas que se diga, se naqueles encontrávamos uma espécie de seguidismo entre a palavra dita e a tocada, em xidiminguana, encontrámos um diálogo onde a sua Guitarra toma o lugar de um personagem e ele do outro, e o inevitável diálogo.
Quantas vezes já ouviram o Xidiminguana questionando a sua guitarra onde vivia para ouvimo-la responder “a Ba-za-ra n’componi” e, se bebeu mal coado para aquela responder que bebeu não mal coado mais sim cerevêja….é o Xidiminguana fazendo o que mais sabe fazer: rir-se do social até quando se impõe que chore.
Quando diz em “mamani nwamungoro” que “urhandza punga unga tirhe wena”, difícil torna-se conter o riso, no entanto, analisando mais a fundo, não deixamos de nos auto-questionamos a procura do significado último daquelas palavras porque perenes e, ajustam-se ao actual estilo de vida onde queremos tudo o que é bom, sem nos esforçarmos para merecer.
Podia recuperar a estória da mulher cantada por este, que dorme no mabanguene encharcada de álcool e que, quando lhe colocam a hipótese de ter tido relações sem saber e nem consentir desmente dizendo que tomou as necessárias precauções antes de dormir: a “nixi phindzelile”,(phindzela siginifica passar uma peça de vestuário pelas pernas e atá-la na cintura-Sitoe, Bento, Dicionário changana-português, p. 188) no sentido de que tinha coberto cuidadosamente os seus órgãos genitais. Nunca deixei de soltar uma terrível gargalhada sempre que me lembro de tais palavras, mesmo que esta seja uma realidade triste e que assola várias mulheres e com os HIV’s que por ai andam.
Xikhona é outra canção que nos faz pensar em como é complexa uma relação a dois, pois se o homem larga a mulher “hambe” ali bonita e/ou clara, certamente que viu qualquer coisa. E não vale a pena questionar porquê sem ter vivido a relação do qual se foge, porque a pessoa sabe do que foge.
Podia demorar-me na vastíssima temática de Xidiminguana, mas, a música que hoje me proponho a abordar e de forma brevíssima, é a música “nkatanga”.
Mesmo sem o saber, Xidiminguana é influenciado na sua música por Zeburani, influência esta, que se faz sentir nesta música, onde tal como em Zeburani, o seu eu lírico, é o feminino sofredor chorando as dores de um amor não correspondido.
Nesta música, (nkatanga) a mulher chora um choro real, e o yiuwii, yiuwiii yiuwiiiiii”, é tão profundo que não se pode ficar alheio ao mesmo, porque bater com o cinto até cortar o mamilo, o mesmo mamilo que a mulher amamenta os filhos é de todo irracional. Dai que entre choros a mulher questiona: “ a vana va wena xidiminguana, vata yanwa kwini murhandziwa”.
O que mais impressiona nesta mulher e no questionamento “onde e/ou como vou amamentar os seus filhos”, é o facto de ela renunciar da sua dor, para senti-la pelos filhos que segundo ela não terão onde e como ser amamentados. É o mesmo que dizer que me cortasses qualquer outra parte, que me batesses como quisesses me bater porque se pagaste lobolo sou tua mesmo, mas, que não o fizesses em prejuízo dos nossos filhos.
Esta, é uma das vozes em que Xidiminguana soube e bem emprestar o sofrimento da mulher da sua época, soube acima de tudo, pôr o homem a reflectir e a auto-questionar-se se vale a pena a violência contra a mulher, quando se pode dialogar. Mostrou também o lado sacrificado da mulher, onde cabem as dores de todos menos as dela. Bem-haja o Xidiminguana, este cantador/contador das estórias da minha terra.
Amosse “Modaskavalu” Macamo

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Tony Django

Tony Django: uma voz que transbordava

A voz do Tony era demais para ele só. Verdade; a impressão que a sua voz nos dava era a de não caber em si. Facto, é que a mesma nos saciava e nos criava a vontade de a ouvir e mais. Em bom tom diria que estávamos viciados, dependentes, que nos curvávamos sem medo e vergonha de parecermos súbditos daquela voz meio femenina, meio masculina, meio frágil mas ao mesmo tempo forte, quente, vibrante que sabia se exceder mas sempre dentro do limite do belo.

Uma voz que não cabia naquele corpinho franzino, que se exprimia de forma tão singular, voz de uma ânsia do absoluto, voz de insatisfação e insansiabilidade, de uma voluptuosidade tão gritada, voz de aromas frescos de Gondola.

Não se procurava arte naquela voz; encontrava-se. E encontrava-se de forma tão cristalizada e lapidada porque manejada de forma a fazê-la render o máximo de si, uma voz tão expressivamente nossa, moçambicana.

Se Ghorwane tinha o Zeca Alage o K10 tinha o Tony, se fugindo um pouco e para um dos grupos pelo qual a banda e particularmente o Tony se inspiravam,(Stimela), se este grupo tinha o Chikhapa, o K10 tinha também o Tony. Se em N`tchanwane tinha Zeburane em Maputo tinha o Tony. Engraçado porque a última vez que o vi e ouvi foi no festival de Marrabenta e este fazia uma parelha com Bernardo Domingos onde, com mestria esboçaram o Zeburani este Rei das terras de Chibuto (terra hoje anexadas ao distrito de Mandlhakazi para a tristeza das gentes do Régulo Muzamane) que sei influenciava grandemente o Tony.

Voz de talento métrico que trascendia seu dono. Um dos duetos que sempre imaginei e numa canção com asas de saber voar seria o de Wazimbo e Tony, mas a morte não me avisou porque teria insistido com os dois para que o fizessem rápido antes desta cobardemente surpreender.

Neste momento o silêncio é a única voz que ousço do Tony, aliás, silêncio tão perigosamente traçado na magia de grande arte que é a vida; que é a morte!

Engane-se quem pense que estas palavras constituem um elogio fúnebre. Engane-se quem pense que são palavras para engrandecer a quem nunca foi grande, que são palavras para criar um mito. Pois o digo que não o são. Aliás, estas modestas palavras, não saberão tomar a forma e grandeza que foi o verbo cantar enunciado na doce voz do Tony.

Este é o meu livro de mágoas que acrescenta mais um nome e pior; um nome precocemente ido como o foi de Eugénio Mucavele, de Jeremias Ngwenya, de Nanando, de Chonil, de Zaida e Carlos.....

Quem hoje vai cantar “Hita sala hi mu khumbula marhumbine”, fazendo referências ao Zeburane, Baza, Mandlaze, e outros? Quem se vai lembrar de cantar estes mortos se quem os cantava e com mestria foi-se?

Eu vou cantar e para si Tony neste meu livro de mágoas que “nita sala niku khumbula marhumbine”, vou sempre te recordar e melhor, cantar-te porque a homens como você não se esquece.

Deixem –me chamar uma música que o Alexandre Langa fez para o Fany um dia onde dizia:

“yetlela hiku rhula Fany Mpfumo a nsinya lowu ungawu byala uta kula hiku rhula

nikhoma n’hloko ni hlakata ni ziviza, ni khonguela xiviri xawena ninguehe xivoni”, como quem diz: descanse em paz Fany, a árvore que plantaste vai florescer em paz. Reflicto, abano a cabeça, bato-me, rezo, facto é que jamais voltarei a ver-te.

Canto Alexandre neste momento e tendo na mente a transbordante voz do Tony Django, esta voz de doces pétalas de um vale de lágrimas que se transformou o meu coração.

“Kassi a va sati vanga tala ixi hlaula mani, xi hlaula mani, he xi hlaula mani...” sei que por aí, no último céu outros olhos assistem o seu concerto de estréia.

Amosse “Modaskavalu” Macamo

quarta-feira, 24 de março de 2010

Modaskavalu e eu na Roda da Vida

Eu e o Modaskavalu somos hoje aniversariantes

Sem precisar de dizer datas ou lugares por onde andei, devo dizer que já andei alguma coisa: 33 anos não é pouca Estrada não. Uma coisa que posso partilhar convosco nesta caminhada é o gosto pelo bom tempero de música e músicos da minha terra. De facto, diante da música moçambicana e “daquela música”, sinto o peito a bater com frenesim, com a sombra amorosa da paz, com vontade de viver, mais 33 e mais 33 anos que me bastem.

A música é a minha bandeira erguida na mais alta haste deste navio que se esfuma a cada dia com pandzas e queijando, é a minha liberdade, a minha independência, meu caminhar firme, mesmo que em chão de espinhos e micaias e o Modaskavalu, o veículo que transporta e deixa transbordar todos os meus sonhos, toda a epopeia, é a minha redenção social contra a babel de sonoridades que ofuscam a estrela dos verdadeiros fazedores da música moçambicana.

Hoje, saúdo a todos vocês meus bons amigos, que, entre tantos afazeres da vida fazem-me a caridade e não sei se justiça de passarem por aqui para juntos cantarmos os nossos heróis, para juntos declamarmos as nossas poesias de guerra, para juntos acendermos este estranho lume de poder que nos aquece e nos faz caminhar mesmo quando a caminhada é dura.

Não podia terminar, sem saudar a RM, que soube na sua Gala, homenagear um homem que com firmeza e garra segurou as pontas da nossa música com inegualável mestria: Alberto “Manjacaziano” Mhula, a quem o prémio carreira vem alisar o meu e vossos corações ávidos de reconhecimento aos verdadeiros protagonistas da nossa cultura.

Sem que ninguém o diga, autorizo-me a dizer: Viva Amosse Macamo e Viva o Modaskavalu, viva também vocês e os nossos lídimos tocadores.

Viva a Cultura, símbolo e mais alta bandeira de uma nação.

quarta-feira, 3 de março de 2010

MALE YA PHEPHA

Male ya phepha

A male ya phepha, meticale ayina khombo

Vakone la vadlaka va xuza vatlela va lalela

Kuvi mine na wene n’kata ho sika hi nd’lala

Hine hi kone hi hanha hiswi tsakatu hi dhuama tindende nkata

Vone vadla mpunha mpunha

Munwani ungamu vona a kuluka kuluka kuluka a phinheta,

Uku utwa ani timale kuvi i mizi wa siwana

Wamuvona kulala nhana awumu voni ku lala nhana a minnta yinga tchai

Nili nwananga vuya utani swekela xi dana nkaka kuvi xa bava tiyisela utanwa mati –Eugênio Mucavele

Não se sabe porquê mas muitos acreditam que o dinheiro não tem azar. Para estes, basta que o seja, independentemente da proveniência e do meio pelo qual se obteve.

O meu velho pai Macamo tem a mania de dizer que “dinheiro não é tudo meu filho” e eu, respondo que “nunca o experimantaste para saber se o é ou não”.

Meu pai responde a esta minha deixa sempre com um sorriso. Nunca tive interesse em vasculhar o que esconde e se, esconde alguma coisa aquele sorriso, verdade é que acredito que dinheiro opera milagres.

Os que tudo possuem acreditam que os outros (os que nada tem) devem acreditar que dinheiro só traz infelicidade. Meu Professor de economia diria: “Barreiras a entrada de novos concorrentes”, porque fazer crer que o dinheiro só traz infelicidade, equivale a teoria de que a religião é o ópio do povo e esta, já escangalhamos.

Seja como for, o dinheiro, “Meticali ayina Khombo”, não tem azar e desbloquea tudo e/ou quase tudo.

E Eugénio Mucavele sabia disto e sabia-o tanto que criou este docce milagre de canção: “Male ya Phepha” (Dinheiro (em notas) de Papel).

Mucavele agigantou a criança faminta que somos e chorou com esta música; chorou justamente porque sabia que nem todos estavam condenados à sua sorte, pois, havia os que comiam a fartura e até com refeições extras quando ele e a esposa minguavam de fome.

E enquanto minguavam de fome e viviam de verduras sem condimentos, havia sim quem tinha direito a um regabofe e agrava este facto, porque quando a brisa soprava,(basta olhar para a vizinhança perigosa das casas de chapa e caniço da zona da escola Portuguesa, com as mansões que ali abundam), vem-lhes o cheiro das iguarias e com ele a cíclica revolta dos oprimidos sociais.

Porque lhe dói isto, chega a fazer troça do Magricela e diz” não se deixe enganar por ele ser um magrelas, porque come que se farta. E graceja, no sentido de que, podes ver quem engorde e sem parar e pensar que é o senhor dos dinheiros, quando é gordura de probreza; é o jogo dos contrários.

O mais importante nisto, é que esta fome não o separa da sua amada, pelo contrário, cimenta neles mais amor, de forma que desafia a mulher a cozinhar qualquer coisas como cacana que se sabe amarga, mas pede a mulher e naquele paz sofrida que vivem, que seja forte e beba água para atenuar a amargura.

Está pois claro que, ele equipara a amargura do alimento a da vida dura a que está condenado e sei que lhe rói a falta de dinheiro porque se o tivesse e lubrificante que é, do problema dos manjares eles não teriam.

O apelo a comida, não é no sentido de que saco vazio não fica de pé, mas sim, um subtil paralelismo que este cria, entre os que tem (de comer) e os que nada tem (passam fome), onde a comida ganha o corpus de todos os bens materiais e a falta dela, a pobreza que sufoca os demais.

Eugénio sabia nas suas letras ascender, sabia definir e escolher o tema para o canto, sabia criar sucessivas palavras poéticas que faziam o perfeito canto das nossas dores e alegrias, sabia se reencontrar na haste mais alta dos problemas sociais.

E foi-se precocemente, deixando suas músicas que sabem pouco sempre que se escutam, porque sublimes. E foi-se pobre, empobrecido e sem o dinheiro de papel!

E hoje, sempre que o escuto, sei que faltou o dinheiro de papel nos momentos decisivos da sua vida, porque doutra forma, ainda estaria vivo e a nos deliciar com o gracejo que eram suas cançÕes.

Como faz falta Male ya phepha!

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

HALAKAVUMA

Dizeres dos nossos tocadores

Ntonganhane Wa ka Nkowane (Aurélio Kuwano)

Halakavuma

hi Elisa N’tanhani hoya bikela le kaya nwana mamani

hi Elisa N’tanhani hoya bikela le kaya nwana mamani

ho dara mahala nile ndzaku awu nako

a phambeni ni ndzaku swo fana nwana lwiya

nimi nengue a nga hlambi

nimi nwala anga tsemi

apandza nima volwe hi minwala

ulanguta a ma sema hingui i Ngwenya a ma tsapa hingui hi bandzala (gafanhoto)

Halakavuma Halakavuma Halakavuma Halakavuma Halakavuma

yi welile masinwini ka M’bulu, hi welile massinwini ka M’bulu leyi Halakavumaaaa

yi welile massinwini ka M’bulu, yi welile Massinwine ka Macie Nwananga

mi ta byela Mandjonjo, mita byela Mandjondjo, Mandjondjo i Nduna ya mbulu

ulanguta massemani ingui i bandzala va handzula mavola hi manwala vali i Halakavuma

Halakavuma Halakavuma Halakavuma Halakavuma

nima vele anga nawu a phambeni ni ndzaku swo fana inguiki voio mbhonha hi parati wova Halakavuma

Halakavuma, Halakavuma ayie Elisa Ntanhani hova Halakavuma

nima vela anga nawu niko hala anga nako, nile ndzaku awu nako ingike voio mbhonha hi parato hova Halakavuma amassema ingaku i bandzala

Uma das perplexidades que as páginas da música moçambicana viveram foi com a música Dadinha do irreverente Joaquim Macuacua. Ante o seu amor não correspondido, Macuacua fez uma música cujo título e temâtica era o seu romance e a razão do seu falhanço. E falhou porque segundo ele, dedicou seu amor a quem nunca o mereceu isto é, a uma mulher que somente servia para a cama.

E porque o Macuacua não queria dar o dito por não dito sobre a identidade de tal mulher, identificou-a de tal forma que não restassem dúvidas de quem era: “nirhandzani ni tombi ya Xamanculo iaku tsama kussuhi ni Beira Mar...”, (enamorei uma rapariga de Chamanculo que vivia perto do Beira Mar), para quando encostado nas barras da Justiça dizer que a aludida Dadinha era uma tal que foi levada para a Operação Produção, isto porque a Dadinha se sentiu lesada aliás, antes o noivo dela que se preparava para a levar ao altar mas que com a ultrajante música teve que recuar.(se bem que tinha todos motivos para recuar).

E ajuizou certo o Magistrado que julgou o caso condenando o Macuacua, porque todo o relato que ele fazia apontava para a queixosa, que por sinal também vivia perto do Beira Mar, que frequentava a discoteca Hidromoc, aliás, onde largou o Macuacua (heleketa alirhandzo la mina, leli ungali siya Hidromoc), pelo que não havia espaço para uma outra Dadinha, na verdade nunca existiu uma outra; ao chamar outra, a supostamente levada para a Operação Produção, usava Macuacua do seu direito de defesa que o autoriza até a mentir.

Além da condenação, a música foi intedita de ser tocada em lugares públicos. Não havia pois, necessiade de a ir buscar não fosse, o recuo que fiz até aos anos 50 para encontrar um disco que traz nomes dos nossos bons sabores e com temperos de tocadores que influenciaram toda uma geração: trata-se do disco “The forgotten guitars from Mozambique” do etnomusicólogo Hugh Tracey.

É que, na análise da temática do disco ressalta logo à primeira e em todas as músicas, salvo as de Feliciano (N)Gome(s) Mutano um discurso reductor da figura da mulher. Tem inclusive uma música intitulada “Kerestina”, onde o autor, depois de falar da sua ex, a localiza no espaço e diz “Kerestina lweyi ni balaka yena hi lweyi waku tsama a xinhaguanine..”, como quem diz a Cristina que referencio é a que vive em Xinhanguanine, isto para dizer que Macuacua teve em parte onde se inspirar.

Mas a canção que me proponho a abordar hoje, é a Halakavuma popularizada se não me engano pela Orquestra Djambo, como Elisa N’tanhane(?).

Pelo que voltemos ao N’Tonganhane(Aurélio Kuwano), de quem a destreza na guitarra não se duvidada, de quem os avanços poderosos na entoação eram acentuados, de quem se reconhecia a língua afiada quando o assunto eram as mulheres.

Só para terem uma mínima ideia, ele equipara o corpo escamoso do Pangolim (Halakavuma), ao da Elisa N’tanhane. Uma Elisa que chega a rasgar manta com as unhas (não se enganem as nossas manas que até as acrescentam hoje, ontem, unhas grandes era sinónimo de “futa”, porquice e/ou mulher destrambelhada), uma Elisa que só jinga e não se sabe porquê quando de cintura para baixo não se distingue onde é a frente e onde é atrás.

Chega o Ntonganhane, a propor que se chame o Induna (Regente, o que na hieraquia do Muganga, vem antes do Régulo), para que venha testemunhar a aparição desta Halakavuma (lembrar que só o chefe tinha a faculdade de receber as boas novas do Pangolim), mas repare-se, neste caso, era mesmo para fazer pouco da Elisa, no sentido de levem-na ao Chefe para que ele contemple e comprove pelos seus próprios olhos o subtrair da mulher que é Elisa N’tanhane.

Devo dizer que evoluimos tanto de lá para cá, embora com alguns sinais de recuo como em “Nixi djula hi Doggy Style e companhia, mas regra geral, a mulher é hoje enaltecida como o emblema da vida.

Todavia, lanço o convite para ouvirem este disco, que como disse um dia, representa a gesta de uma nova era: a de marrabenta, n’fena, Dzucuta (refiro-me ao Dzucuta de ontem) Magika, Xingomani, muthimba e outros estilos que se evidenciam ao ouvir este disco, que quanto a mim as autoridades da cultura o desviam raesgatar, como também resgatar tudo quanto foi produzido pelos nossos na África do Sul principalente, em editoras como a His Master Voice, Trobadora, Gallo, Columbia etc.

Termino dizendo que o exemplo de N’Tonganhane, não é de certo o melhor, mas, marco de um periodo que devemos estudá-lo para melhor compreendé-lo. E, mesmo a fechar, não me admirava se soubesse um dia que a Elisa, tal como Dadinha, foi um dos grandes amores (não correspondido) da vida do Aurélio Khuwano e daí o facto de inspirar a música cheia de graça que é Elisa Ntanhane.

Amosse Macamo

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

NANANDO

“Confessa que nosso destino é estranho, extraordinário!”

Em conversa dizia à uma amiga que nunca matei os meus mortos. Sim, eles vivem todos os dias no meu imaginário e, à noite, “...debaixo do medo dos feitiços e dos deuses”, meus mortos me espreitam de todos os cantos. E, nessa altura, um misto de medo e aventura me invadem, o estranho e o maravilhoso, o desconhecido e o inexplicável fundem-se numa realidade fugaz, mas realidade.

E isto, não pode ser obra do acaso; se é alucinação, sonho, delírio, real e/ou irreal não sei e nunca exigi outra verdade de mim, porque o estranho e o maravilhoso sempre me fascinaram. Quantas vezes e no meio da noite, conversei com o meu falecido avó Mavonho e, inquirindo-o, pelo facto de me procurar mesmo que morto? Quantas vezes, revi semblantes de ente queridos que partiram? Quantas vezes e quantas dores que esconjuro, mas que voltam em catadupas no meio da noite?

Bom, não foi para falar de mim que escrevo estas linhas lúgubres, escrevo, para esconjurar mais uma morte, destas que só a crença na imortalidade nos pode aliviar de tamanha dor; falo da morte de Nanando.

Colheu-me de surpresa e não porque esta costuma avisar, mas, porque, nos nossos bons costumes a velhice cura qualquer morte. Custou-me aceitar, mesmo sabendo que a morte é um facto certo para qualquer homem.

Cimentou em mim esta morte, a impressão de que a vida não nos pertence, sim, tem quem a controla, quem nos dá e tira quando bem entende.

Porque se fosse para esperar a data certa, não nos tirava ELE seja quem fôr, o prazer de redescobrir na distância inevitável entre o consciente e incosciente, aquela guitarra de acordes únicos, a que se toca no Montreal de Chamanculo, aquela que nos fazia crer imortais, que nos dava a ilusão de trascendéncia, que nos tornava primeiros entre os iguais.

Guitarra do mistério real dos pés que sentiram o chão quente do sol do Chamanculo, de Mafalala, de Namutequeliua, de Paquite, pés que sentavam em seus joelhos e seguravam a guitarra firme para a alegria do meu povo.

Sim, a guitarra do Nanando era uma transição entre a pura espontaniedade do que seus dedos aprenderam com os espíritos dos refinados tocadores de Chibuto e de uma mente que constantemente partia em busca de um mundo ideial no jazz, funk, gospel, blues rock...

Aos inonconsoláveis pelo facto do Nanando não ter deixado um disco, devo lembrar que o Sócrates, quando condenado a beber cicuta, dizia que não se podia matar a verdade. Assim o dizia, porque já a tinha transmitido aos jovens.

Não pretendo assim, minimizar o facto de Nanando não ter gravado um disco e nem o facto de a cultura não ser agenda no nosso país, mas sim, enaltecer o facto deste ter deixado semente que sei germinar a toda a hora.

A minha raiva neste momento é uma Hiena que devora a presa, mas engane-se quem pense que do meu semblante caiam lágrimas. E nem podem cair, porque no meio da noite, Nanando volta em brancas plumas negras para tocar sua guitarra directo para o meu coração. Volta para embalsamar meus quentes lencóis frios.

E não sou imortal? E não será Nanando este Deus que me invade para alentar minhas noites sofridas?

Minha mente brilha uma clara luz neste momento e, no céu incorruptível dos espíritos da cultura moçambicana nem os que boicotam os nossos lídimos sabores podem hoje me aborrecer, porque vivo neste momento sons de uma guitarra concreta, que marca seu espaço em outros lugares. Acredito que haja Chamanculo no Céu.

Viva a cultura, viva o Nanando e viva a República.

não encontrem erros neste texto, porque o mesmo não foi revisto; foi escrito de dentro para fora e com lágrimas que teimam em cair, e ninguém as vê.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

MALANGATANA

Malangatana, o músico

Não sei o que este título poderá sugerir aos que conhecem a linha do Modaskavalu. Contudo, na urgência de encontrar respostas, um primeiro pensamento há de se colocar: o que tem Malangatana a ver com a música? (eu penso que tudo).

Há em Malangatana um músico meus amigos, um músico que se revela não só nas suas pinturas, nos esconjuros mágicos e poéticos das suas aguarelas, na verdade humana imprimida no seu pincel, mas também na sua essência, na sua revelação como homem.

Tenho muitas questionamentos por fazer ao Malangatana, questionamentos estes, que em parte encontraram resposta no filme Ngwenya, o Crocodilo. É que, confessou Malangatana neste filme, o seu amor pela música, aliás, numa disputa (disputam estes uma mulher) entre ele e um amigo seu (no mesmo filme), revela e de forma espontânea o seu lado cantor, cantando, e para a feliz mulher, se não me engano ka tiku dza zonga ni langui wene nwanhana (na terra dos rongas escolhi a si rapariga...), pena que no final, a mulher ficou (?) com os dois.

E questionarão alguns que instrumento Malangatana toca?

Para além do autêntico baixo-baritono (sua voz) que o Malangatana é, tem na sua barriga, (sim, barriga, esta, que quando a sua música o invade e de tal sorte que acredita viver na consciência das suas pinturas, na espiritualidade das suas cores e olhares, no ouvir os segredos do camaleão que teima em aparecer nas suas pinturas, toca-o qual batuque), o instrumento que toca o saboroso e lídimo batuque da sua terra Matalana.

Mas no mesmo filme, Malangatane trouxe a mística canção que diz acompanhar a sua vida:

Niwone niwone niwooooneeee

Niwooneee ahe ahe ahe ahe

Niwooonneee nkodjo

Niiiiwwoooonneeee, niwoooonnneee,

aie ahe aie ahe

niwone nkhodjo

Malangatana, diz ter ouvido esta canção na sua juventude no canto de uma Nyamussoro (lembrar que Malangatana foi aprendiz de nyamussoro, onde, nada acontece, sem o batuque e o canto), e que por alguma mística a mesma, o apaixonou de tal sorte que o acompanha até hoje; que sem se aperceber, a canta quando pinta.

Devo imaginar como Malangatana, recua no tempo quando a canta, devo imaginar as mil e uma explicações que tenta dar ao canto,mas ao mesmo, imagino que a mesma seja, talvez, o exprimir do objecto intencional que o trascende, a mesma antevisão que dita as suas cores, os olhares em seus desenhos, a ressureição da sua obra, as projecções de si mesmo, como homem que, esteja onde estiver, sente-se sempre no mesmo local: Matalane.

Esta canção é para Malangatana o poder de sentir de todas as maneiras, é o medidor do artista que ele é, mistério de si mesmo, equilibrador da relação triangular, pintura, homem, mundo.

É sim músico o Malangatana(atrevo-me a dizer dos mais internacionais do pais), não de hits, nem de músicas registadas em bobine, é sim, músico da nossa curiosidade psicológica, da nossa rica metafísica, da exploração da nossa espiritualidade,do nosso amadurecimento poético, dos aromas do dedilhar sentido nos dedos longos do Jaimito Machatine, dos versos geométricos de Alexandre Langa e Fany,da expressão vibratória do Modaskavalu do Mahecuane Makhuvele, do respirar a música na perversão sensual de Zeburane em Tsunela Seyo, nos cantos embebidos de mphongolo de Aurélio Kuwano, das cores endoidecidas e transitivas de Djambo 70, no emergir dos versos de ntumbuluko de Zeca Alage....

No final, sou obrigado a dizer; primeiro o músico e depois o pintor, é que, acredito que seja no canto que Malangatana se auto-direcciona para a pintura, na certeza de que a obra será concluida com o sucesso desejável.

Meu ode a este cantor não só de cores, mas também do nosso cancioneiro e do sonho utópico de o manter incólume para que a nova geração o estude e o eleja como o sabor da nossa espiritualidade.

Ode ao músico Malangatana.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

José Mucavele: o ícone do resplendor africano

José Mucavele: o ícone do resplendor africano

Zé é para mim a expressão mais poderosa e desenvolvida da concepção renovadora e vanguardista africana.

De facto, para Zé, África é a expressão mais densa das suas obsessões; a obsessão que aponta para um despertar, para um diálogo de reinveção profunda do que somos e pretendemos ser, de militância epopéica, do protagonismo que se impõe para que a solução dos nossos problemas sejamos nós mesmos.

Zé na maiora das suas músicas, progride rapidamente e de forma profunda; eleva-se de forma nobre e indaga-se: Hi dlayana hi yivelana hili vaxi kanwe...como quem diz, porque nos matamos se mesmo povo? Porquê nos autoflagelamos se filhos do mesmo ventre: Africa?!.

Zé busca por uma espécia de panteão das glórias africanas extintas pelo modernismo que assimilamos sem nunca o perceber; Os dizeres hi dloku utivi lava lungu, hi lheka bedjua la kokwnani...(vestimos a capa do ocidente e rimo-nos da nossa tradição), nos ajude a perceber essa busca, a mesma que Zé encetou no Xigutsa xa utomi.

Ele esboça uma espécia de valores trascendentalistas que sabe que o povo africano tem demais. Procura em suas canções evidências concretas e substantivas de uma África que ainda se pode reerguer. (loko ho yaka lirhandzu linwana, xikwembu xa hina xita pfuka urhongweni), no sentido de que se construirmos uma nova união, nosso Deus [negro] vai despertar da (longa noite de sono a que está votado) letargia.

Quando coloca a ideia de que Hi lava va taku vadla teres parato kuvi hina mamanoo hidla hafo prato ..ou melhor; os que vem comem três pratos, quando a nós servem metade, longe de ser uma exaltação xenófoba, Zé,coloca as coisas no sentido de que o principal beneficiado pela riqueza que o pais (África) produz, deve ser antes os nativos, mas não; temos aqui o Xighontlo, este pássaro esperto e egoísta, que se dá ao luxo de comer todos os pratos, deixando-nos com a metade.

Há quem diz, que os versos de Zé, traduzem uma insatisfação com a vida real, na medida em que com a ideia da “aldeia global”, África, mesmo que queira, não pode pela conjuntura guardar as suas raizes, dominar o conhecimento sem fugir das suas crenças, mas eu penso, que o Zé, vive sim num mundo real, porque um povo sem auto estima, dignidade, cultura e sua forma de estar, não se pode arrogar povo.

Numa ambiciosa partitura musical e poliritmia que o caracteriza, Zé, faz da fusão e da diversidade cultural uma constante ocasião para a exortação heróica do nosso povo, a quem em algum momento e numa outra música diz que os que profetizaram a partilha do continente taparam a sua estrela cintilante, numa clara alusão a escravatura e domínio colonial sobre África, no sentido de que esta, retirou-nos toda a sorte, toda a oportunidade de brilhar, todo o resplendor africano.

Zé procura por uma existência concreta que não se pode achar e nem aproximar do conceito que o ocidente quer de nós; na verdade é no retorno a nossa espiritualidade que renasceremos para o resplendor, porque nós sabemos e bem onde a nossa estrela da sorte brilha.

Zé é protagonista de uma África real que ele aprendeu no chão da sua terra e que se lhe escorrega hoje a sua vista sem que grito nenhum possa dar.

Mas grita o Zé, grita e bem fundo nas suas músicas, traduz (ainda que intraduzível) o brado africano, a eloquência da nossa heroicidade, o lapidar de uma pedra angular onde nós seremos donos e mestres da nossa própria sina, onde, seremos os mentores das nossas políticas, onde, seremos o despertar das nossas próprias consciências, onde, seremos concebidos e percebidos pela nossa mística e não pela capacidade de renúncia da mesma mística, onde, o nosso orgulho, sim orgulho africano será a perseguição incansável dos nossos valores.

Zé caminha pelos corredores de sonho e pronuncia as últimas palavras que um dia acredito serão as primeiras: África surge et ambula.

Vim, uma vez mais, enaltecer a luta consciente do Zé pelos valores africanos, vim aqui, traduzir o seu discurso apaixonado pelas nossas coisas, vim aqui, trazer o resplendor africano sempre presente na sua canção.

Bem haja o Zé, a quem ainda vou cantar neste espaço à minha maneira, a quem vou dar sempre odes, porque guerreiro incansável da nossa luta.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

ELSA MANGUE

Elsa Mangue

Elsa Mangue é uma mulher de sentimentos intensos, de uma espiritualidade angustiante e sentimental.

É curioso verificar que a Elsa, canta os seus prantos, e penso que não para os espantar, mas, para tentar percebé-los.

É que, a Elsa, é uma mulher sofrida, sofrimento este, que ela deixa transparecer nas suas músicas, um sofrimento que se detecta em cada verso e palavra cantada, um sofrimento que se nega a morrer, isto porque ainda vive o sujeito da acção: a Elsa Mangue.

Para mim, a Elsa canta na primeira pessoa, sim, todo o seu discurso responde aos seus problemas, aos seus questionamentos, e é importante realçar que a sua dor não morre, pelo contrário, transita de música em música, é resistente, permanente, emerge a qualquer altura.

Na música “Fim da estrada”, várias foram as vezes que a Elsa, (tomada pela emoção, pelas lembranças sempre recentes da sua vida, pela dor que incomoda e traz a superfície coisas invisíveis), chorou. E chorou justamente porque ao cantar a música, ela, revive o problema que canta tal e qual o faz quando canta que ”...siku leli kaya unga lava kuni txukumeta/ murhandziwa wanga, indje wa khumbuka wena?, passando a ideia de que ”lembras-te do dia que quiseste me atirar? Lembras-te meu amor?

Aquele pronunciamento sugere mágoa, mas sugere acima de tudo um momento do passado que a Elsa quer a todo custo tomar como passado (lembras-te), mas quem repara no que ela diz logo à seguir, percebe que o seu amor não é nada do passado e é fácil perceber quando ela questiona “lembras meu amor?”

Caso para afirmar, tão longe, mas tão perto. Na verdade, Elsa nunca esqueceu este homem, aliás, a Elsa pertence a geração de “um só homem”, na vida de uma mulher.

A Elsa não faz a viragem, e nem se permite que ela aconteça, pois, quando pensamos que ela canta para exorcizar a dor e por isso mesmo esquecer, na próxima música, a temática volta e com a mesma carga de intensidade e emotividade próprios de quem chora constantemente, de quem diz “Tindjombo lava kandzaka, vatitsamela niva nkatavu kaya(/sortudos os que conseguem manter um lar, vivem felizes), não foi por acaso, que a Elsa escolheu esta música, do Rei Fany Mpfumo (no disco ao seu tributo), porque esta, reflecte o que ela pensa.

Elsa vive uma vida muito encolhida, encolhimento este que não a permite olhar para si e acreditar que é uma das melhores fazedoras da nossa música, que é dona de uma voz meticulosa, traçado com precisão notável, sensível, e que se exprime de um modo singular, uma voz que se deleita, uma voz que surpreende pela sua cor e valor.

Vejam que Elsa e mesmo para atestar que ela não esqueceu o anterior companheiro,em “Joshua” dá recados no sentido de que se queres falar comigo venha de dia e não de noite....vens a noite para me enganar pela segunda vez? (lakuta ka mina, ungati niwu siku uzama zama kuni phazamissa ulava ku phinda ka umbirhe...).

Se estivesse segura da decisão de passar este homem para trás seria indeferente que este homem viesse de dia e/ou de noite, porque passado, mas ela adverte: venha de dia se queres falar, e justamente porque ela sabe que a noite pode fraquejar.

Mas se pensam que é precipitada a minha conclusão, caminhemos juntos para uma outra música, em que ela diz “...ni ta famba hi kwini kaya ka mamani....ni kwatissiwa hi lweyi waku tsuka ani gwela ku hunguka ingu o tsuka ani kuma nani hlongolissa ndlela” (entristeçe-me que alguém me chame de louca, como se alguma vez tivesse me encontrado a vaguear e/ou a caminhar sem destino).

Para dizer que ainda lhe incomoda o facto de o ex, a chamar nomes. Numa outra música diz “wagwira munghana wa mina...vuya nitaku gwela ku duma ka hloko ya mu pfana lweyo....”, onde a Elsa, quando se apercebe que a “outra” que preencheu seu lugar tenta se meter com ela sugere um encontro para a esclarecer o quão difícil é compreender a cabeça do homem que ela tem como marido.

Mas se alguém pensa que este facto retira o carâcter estético das músicas da Elsa engana-se, aliás, este exercício, foi em parte, para defender a tese de que a Elsa canta na primeira pessoa.

Sim, a Elsa é tão verdadeira quando canta, é tão reflexiva, tão precisa, tão doce e original, porque não canta coisas contadas, canta sua vida (amargurada), na primeira pessoa.

Podia me alongar mais, contudo, chamo a sua voz mesmo que no pensamento para continuar a alisar o meu coração, para trepar os ramos mais altos e frágeis do meu coração, para me banhar de lágrimas e mesmo que ninguém as veja.

Longa vida a Elsa, e, tomara que uma destas empresas que dá ao acaso quando se trata da verdadeira música moçambicana a contemple um dia porque ela merece.

P.S. deixe-me lembrar o meu avó que dizia que a “música desta mulher tem sal”. E não tem?

domingo, 18 de outubro de 2009

Chico António, o cidadão do mundo

Hantlissa Maria ulonguela timpalha kuni mova wa muxolole

Uya ka gaza

Siyela Zulmirane timpahla leti taku made in united state ti hlanhissaca vava nuna oh ha

Unga kwati Maria ha swo uta Byala mitsumbula ....hi fuya ti homu hi rima

Lomu hiyaka kone/nahi khoma axi komu hi rima....Chico António

Chico António, o cidadão do mundo

Há em Chico António um sentido de moçambicanidade ainda não explorado. Já me explico: se podemos esperar o que as melodias e músicas de Wazimbo, Mingas, Hortêncio, Cabaço, Chihau e outros podem produzir, isto porque lhes conhecemos a linha e daí prevesíveis, já não podemos encontrar a mesma coisa em Chico, aliás, a sua imprevisibilidade, iguala-se à de Salimo, José Mucavele (basta lembrar que a guitarra de José, pode quando quer se esconder na densa savana de Chibuto, para meia volta, reaparecer e atravessar rios deste diverso moçambique num acelerar de ritmo que lembra os ataques de surpresa dos Guerreiros Chopes aos soldados Ngunis).

Chico, embarca em cada canção numa espécie de viagem sem destino previamente preparado, aliás, como o bem fazia o Ramsome, Fela Anikulapo.

A sua versatilidade, o marca não como músico moçambicano, mas africano, digo do mundo. É que, se o Chico subir um pouco até ao Centro de Africa, talvez não mexesse nada e/ou pouco nas suas canções para se confundir com artista daquelas bandas.

Se subisse um boucado mais, para a França, seria visto como um músico contemporrâneo forte, do qual não se deve atribuir país, porque do mundo.

O que gosto no Chico, é o respeito que este tem pelos momentos de avanço e pausa nas suas músicas, já me explico: quando este canta, sente-se que faz um avanço envolvente do qual não se pode ficar indeferente, pelo contrário; envolve-nos com a sua música. E quando sua voz cala, a combinação perfeita dos instrumentos desenha um cenário tal que completa o vazio que sua voz deixa e quando esta volta, a intensidade da combinação instrumentos/voz, torna-se tão intensa que o sentido de marcha da música passa a ser controlado pelos nossos sentidos onde podemos pegar por exemplo no trabalho do viola baixo e embarcarmos numa viagem na nossa própria melodia, no nosso próprio rumo e ritmo; fazendo a nossa música na do Chico.

Na veradade, revemo-nos na sua música, sentimo-nos naquele instante parte integrante, dela, sentimo.nos parte de um ritual que em algum momento da história da nossa vida aconteceu e que por reminiscência, o presente chama.

Nós africanos desconhecemos a alquimia, pelo que, ao homem capaz de nos envolver transformando nossas angústias, anseios, alegrias e sonhos em música envolvente, só pode ter um nome: um feitiçeiro.

Mas Chico, é também um homem do campo, a quem a tranquilidade rural lhe faz muita diferença, de maneira que na música acima, renuncia da vida da cidade, e, convida a mulher para juntos embarcarem no sonho de voltar ao campo para cultivarem a terra e criarem gado.

Neste convite, chega a propor a sua amada que deixe as suas roupas fabricadas no ocidente (que enlouquecem os homens), para a sobrinha Zulmira.

Um retorno as raizes entende-se, que não se esgota nesta música e naquela situação. Na verdade sinto nesta música, no convite ao retorno e no pedido que Chico faz a mulher, um pouco daquilo que o José Mucavele, faz e bem (apelo ao Renascimento africano), no sentido de volta em tudo que faz de nós africanos; ao orgulho africano.

Uma volta à necessidade de olharmos para nós dentro dos nossos próprios parámetros, para depois lançarmo-nos ao mundo com os pés firmes no chão, como Chico faz na sua música.

Este retorno, de quem já provou os prazeres da luz da cidade, confirma o que defendo acima; Chico é versátil, imprevisível, e a qualquer altura, sua música pode indicar uma direcção nunca antes enunciada.

A música do Chico tem uma dimensão cultural transcendente, tem condimentos para vencer e até para largar esta terra e caminhar no mesmo sentido que sua música incide (imprevisibilidade), e se deixar surpreender com o que o caminho vai produzir.


Modaskavalu

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Wazimbo, o nyànyànà

Wazimbo, o nyànyànà

Neste mês de Nhlàngùlà(Outubro), vos trago o canto do legítimo pássaro da minha terra Chibuto: Wazimbo.

Mas antes disso, deixem-me traduzir nyànyànà, para quem não fala changana: nyànyànà, significa em changana pássaro. Bom, ao entrarmos no campo do Português, (se bem que em changana também podemos encontrar esta conotação) quando se fala de pássaro além da ideia ave pequena, surge a de homem astuto e manhoso.

Longe de mim querer trazer estes termos para classificar o Wazimbo. É para mim pássaro, por duas ideias fundamentais: primeiro pela sua bela, doce e inegualável voz e, segundo pela capacidade que tem de ascender

Wazimbo tem uma voz com um traçado geométrico forte, voz de exigência concreta de um milagre chamado canto. Se Wazimbo não fosse cantor, seria cantor. Se não cantasse cantava. Isto, porque dono de uma voz que não permite outro ofício senão o canto. Diria o mesmo de Djecko Maria, do Dua Maciel, do João Cabaço, de Arão Litsure, Hortêncio Langa, de Gabriel Chihau, de Zeburane, ha Zeburane este rouxinol de Ntxanwane.

Mas bom, voltemos ao Wazimbo e ao fulgor que é sua voz; uma voz como disse acima não permite outro ofício, senão cantar. (ainda sonho com o dia em que o artista moçambicano, terá na sua arte a profissão).

A voz do Wazimbo refaz histórias que me foram contadas na infáncia, faz me voltar ao paraiso rural que é minha terra Chibuto, a sua voz, se distingue porque é concreta e canta uma terra concreta: Moçambique.

Convido-vos uma vez mais a ideia de nyànyànà, para um pequeno exercício de reflexão: certamente que o pássaro tem emoções não? Certamente que no seu voo tropeça, cansa-se, certo?

E agora o questionamento: alguma vez e por isso mesmo, ouviram o mudar da tonalidade do canto de um pássaro?

A resposta será não, isto porque, o canto de um pássaro é sempre o mesmo, inalterável, seguro de si, doce, cintilante, denso....é justamente como a voz do Wazimbo: verdade, desde que o Wazimbo é, sua voz nunca mudou, nunca!

Ela eleva-se e supera o seu dono (capacidade de ascender), voa versos concebidos para nos chamar a atenção de ouvir suas canções com todos os ouvidos que nosso corpo possue, como em Maria Nwahulwana, onde desencadeia com o seu canto, uma série de sentimentos, que só o despetar do terminar da música nos chama atenção: arrepios, ansiedade, paz, mesmo quando conta nesta música a estória comum de uma noctívaga; a Maria que não sabe o perigo que espreita ao levar a vida a contar farras .

Esta música, é para mim a década final do imaginário da canção moçambicana, uma música que tem a capacidade de contar uma estória comun transformando-a em doces pétalas que quedam no rio, de uma intenção poética tão forte, de uma obsessão perfecionista incrível, uma música fugaz, música feita com paixão, com crença com forças inesgotáveis, uma música que inspira.

Eu não sei dizer Wazimbo com as palavras merecidas, como não sei dizer Simeão Mazuze, José Mucavele, Feliciano Ngome, Alexandre Langa, Cabaço e outros, mas nesta página, procur-lhes com olhos emprestados de todos os moçambicanos para lhes agradecer a força incomensurável que tem de remar contra a maré e que maré. De serem gigantes no seu sentir, isso, é para mim uma autêntica expressão da fé.

E a fé move montanhas.


Wazimbo, o nyànyànà.