Dizeres dos nossos tocadores
Ntonganhane Wa ka Nkowane (Aurélio Kuwano)
Halakavuma
hi Elisa N’tanhani hoya bikela le kaya nwana mamani
hi Elisa N’tanhani hoya bikela le kaya nwana mamani
ho dara mahala nile ndzaku awu nako
a phambeni ni ndzaku swo fana nwana lwiya
nimi nengue a nga hlambi
nimi nwala anga tsemi
apandza nima volwe hi minwala
ulanguta a ma sema hingui i Ngwenya a ma tsapa hingui hi bandzala (gafanhoto)
Halakavuma Halakavuma Halakavuma Halakavuma Halakavuma
yi welile masinwini ka M’bulu, hi welile massinwini ka M’bulu leyi Halakavumaaaa
yi welile massinwini ka M’bulu, yi welile Massinwine ka Macie Nwananga
mi ta byela Mandjonjo, mita byela Mandjondjo, Mandjondjo i Nduna ya mbulu
ulanguta massemani ingui i bandzala va handzula mavola hi manwala vali i Halakavuma
Halakavuma Halakavuma Halakavuma Halakavuma
nima vele anga nawu a phambeni ni ndzaku swo fana inguiki voio mbhonha hi parati wova Halakavuma
Halakavuma, Halakavuma ayie Elisa Ntanhani hova Halakavuma
nima vela anga nawu niko hala anga nako, nile ndzaku awu nako ingike voio mbhonha hi parato hova Halakavuma amassema ingaku i bandzala
Uma das perplexidades que as páginas da música moçambicana viveram foi com a música Dadinha do irreverente Joaquim Macuacua. Ante o seu amor não correspondido, Macuacua fez uma música cujo título e temâtica era o seu romance e a razão do seu falhanço. E falhou porque segundo ele, dedicou seu amor a quem nunca o mereceu isto é, a uma mulher que somente servia para a cama.
E porque o Macuacua não queria dar o dito por não dito sobre a identidade de tal mulher, identificou-a de tal forma que não restassem dúvidas de quem era: “nirhandzani ni tombi ya Xamanculo iaku tsama kussuhi ni Beira Mar...”, (enamorei uma rapariga de Chamanculo que vivia perto do Beira Mar), para quando encostado nas barras da Justiça dizer que a aludida Dadinha era uma tal que foi levada para a Operação Produção, isto porque a Dadinha se sentiu lesada aliás, antes o noivo dela que se preparava para a levar ao altar mas que com a ultrajante música teve que recuar.(se bem que tinha todos motivos para recuar).
E ajuizou certo o Magistrado que julgou o caso condenando o Macuacua, porque todo o relato que ele fazia apontava para a queixosa, que por sinal também vivia perto do Beira Mar, que frequentava a discoteca Hidromoc, aliás, onde largou o Macuacua (heleketa alirhandzo la mina, leli ungali siya Hidromoc), pelo que não havia espaço para uma outra Dadinha, na verdade nunca existiu uma outra; ao chamar outra, a supostamente levada para a Operação Produção, usava Macuacua do seu direito de defesa que o autoriza até a mentir.
Além da condenação, a música foi intedita de ser tocada em lugares públicos. Não havia pois, necessiade de a ir buscar não fosse, o recuo que fiz até aos anos 50 para encontrar um disco que traz nomes dos nossos bons sabores e com temperos de tocadores que influenciaram toda uma geração: trata-se do disco “The forgotten guitars from Mozambique” do etnomusicólogo Hugh Tracey.
É que, na análise da temática do disco ressalta logo à primeira e em todas as músicas, salvo as de Feliciano (N)Gome(s) Mutano um discurso reductor da figura da mulher. Tem inclusive uma música intitulada “Kerestina”, onde o autor, depois de falar da sua ex, a localiza no espaço e diz “Kerestina lweyi ni balaka yena hi lweyi waku tsama a xinhaguanine..”, como quem diz a Cristina que referencio é a que vive em Xinhanguanine, isto para dizer que Macuacua teve em parte onde se inspirar.
Mas a canção que me proponho a abordar hoje, é a Halakavuma popularizada se não me engano pela Orquestra Djambo, como Elisa N’tanhane(?).
Pelo que voltemos ao N’Tonganhane(Aurélio Kuwano), de quem a destreza na guitarra não se duvidada, de quem os avanços poderosos na entoação eram acentuados, de quem se reconhecia a língua afiada quando o assunto eram as mulheres.
Só para terem uma mínima ideia, ele equipara o corpo escamoso do Pangolim (Halakavuma), ao da Elisa N’tanhane. Uma Elisa que chega a rasgar manta com as unhas (não se enganem as nossas manas que até as acrescentam hoje, ontem, unhas grandes era sinónimo de “futa”, porquice e/ou mulher destrambelhada), uma Elisa que só jinga e não se sabe porquê quando de cintura para baixo não se distingue onde é a frente e onde é atrás.
Chega o Ntonganhane, a propor que se chame o Induna (Regente, o que na hieraquia do Muganga, vem antes do Régulo), para que venha testemunhar a aparição desta Halakavuma (lembrar que só o chefe tinha a faculdade de receber as boas novas do Pangolim), mas repare-se, neste caso, era mesmo para fazer pouco da Elisa, no sentido de levem-na ao Chefe para que ele contemple e comprove pelos seus próprios olhos o subtrair da mulher que é Elisa N’tanhane.
Devo dizer que evoluimos tanto de lá para cá, embora com alguns sinais de recuo como em “Nixi djula hi Doggy Style e companhia, mas regra geral, a mulher é hoje enaltecida como o emblema da vida.
Todavia, lanço o convite para ouvirem este disco, que como disse um dia, representa a gesta de uma nova era: a de marrabenta, n’fena, Dzucuta (refiro-me ao Dzucuta de ontem) Magika, Xingomani, muthimba e outros estilos que se evidenciam ao ouvir este disco, que quanto a mim as autoridades da cultura o desviam raesgatar, como também resgatar tudo quanto foi produzido pelos nossos na África do Sul principalente, em editoras como a His Master Voice, Trobadora, Gallo, Columbia etc.
Termino dizendo que o exemplo de N’Tonganhane, não é de certo o melhor, mas, marco de um periodo que devemos estudá-lo para melhor compreendé-lo. E, mesmo a fechar, não me admirava se soubesse um dia que a Elisa, tal como Dadinha, foi um dos grandes amores (não correspondido) da vida do Aurélio Khuwano e daí o facto de inspirar a música cheia de graça que é Elisa Ntanhane.
Amosse Macamo